• A entrevista

  • 27/05/2019 12:00

    Em frente ao Obelisco, encontrei com um amigo que não via há muito tempo.

    Olá! Sabino, por onde tem andado? Há muito tempo que não lhe via.

    – Estive viajando pelo mundo. Cheguei esta semana de News York…

    – Que beleza! Viajar além de prazeroso é cultural.

    – Que achou de New York?

    – Cidade de primeiro mundo onde tudo funciona.

    – Do que mais gostou?

    – Da vista deslumbrante no último andar do Empire State. Me deslumbrei também com os museus e curti muito passeando nas charretes em torno do Central Park. Quais são as novidades de Petrópolis?

    – Novidades? Tudo na mesma, com as quatro estações climáticas no mesmo dia. Ah, já não temos mais o serviço de charretes para os turistas…

    -Não? O que aconteceu?

    – Um malfadado plebiscito. Boa parte da população local votou contra.

    – Contra? Por que?

    -Com peninha dos cavalos.

    – Mas cavalos foram criados por Deus para meio de transporte, não sabia? O que seria dos filmes de faroeste se não existissem os cavalos? 

    – É verdade. E naquela época não existia motocicleta.

    -Pois é.

    – E o que fizeram com os cavalos e com os carreteiros, que, ao que me consta, conduzir charrete é o que sabiam fazer.

    – Foram aposentados: Charretes e carreteiros.

    – Aposentados? Que desgraça! Sabe como é a vida de aposentado no Brasil? É uma … Vão precisar arranjar um bico pra não passar fome, com raras exceções. 

    – Sem dúvida.

    – Pois eu vou visitar as baias para ver como estão sendo tratados os cavalos.

    – Pois faça isso e depois me conte.

    E o amigo do Sabino foi até as baias para conferir. Percebeu que em cada baia tinha o nome e a idade do cavalo. Parou em frente ao que achou mais bonito. Nome: Alazão Reprodutor dois.

    – Por que reprodutor dois? E, para surpresa dele o cavalo respondeu: – Porque reprodutor um, era o meu falecido pai. Está vendo aquele belo potrinho ali? É meu irmão caçula.

    O amigo do Sabino quase desmaiou de susto ao ouvir o cavalo falar, mas, curioso, manteve o diálogo. 

    – Como estão lhe tratando? 

    – Atualmente estou vivendo a vida de um aposentado, largado pelo mundo e sem nenhum valor… Quando eu estava na ativa me davam vacina, banho e me escovavam todos os dias. Até dentista eu tinha! Agora como não presto pra nada, dada me dão. Gostaria de ter nascido cachorro. Bichinho de estimação, criado com muito amor, em casa e até em apartamento.

    – Pois se eu tivesse um sítio, eu te adotaria.

    – Obrigado, amigo. Percebo que você é um homem de bom coração.

    E a entrevista acabou por ai. Claro que é ficção, mas, se tivesse existido, na certa teria sido assim. 

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