• Zé Celso x Silvio Santos: quem vai ser homenageado com o Parque do Bixiga?

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  • 13/jun 22:11
    Por Priscila Mengue / Estadão

    A discussão sobre o Parque do Bixiga, na região central de São Paulo, ganhou novos desdobramentos após aprovação unânime na 1ª votação na Câmara Municipal. Parte dos vereadores tem se mobilizado para sugerir novos nomes para o espaço, com a defesa tanto de homenagens ao dramaturgo José Celso Martinez Corrêa quanto ao apresentador Silvio Santos.

    Os planos do Município envolvem terrenos do Grupo Silvio Santos, que totalizam 11,1 mil m². Os espaços ficam no entorno da sede do Teatro Oficina, companhia teatral que defende a implementação da nova área verde há cerca de 40 anos.

    Os dois protagonistas da disputa se encontraram algumas vezes ao longo dos anos. Em 2004, Silvio Santos chegou a visitar o teatro durante os preparativos para a montagem da peça Os Sertões. O encontro mais conhecido foi em 2017, em conjunto com representantes da gestão do então prefeito João Doria e o então vereador Eduardo Suplicy.

    O projeto de lei em discussão pelos vereadores determina a inclusão do Parque do Bixiga no quadro daqueles que têm a implantação preferencial na cidade. Como o Estadão mostrou, essa inserção dá acesso a ferramentas que facilitam a implantação, como a chamada Transferência do Direito de Construir (TDC), que emite “créditos construtivos” para a utilização em outro local, eximindo o empenho de recursos diretor na compra da área, a exemplo do que ocorreu no Parque Augusta.

    Ao menos três encontros de Zé Celso com Silvio Santos ao longo dos anos foram filmados. O mais recente é o mostrado abaixo, de 2017, utilizado em uma campanha pelo acordo com o grupo empresarial e a criação do Parque do Bixiga.

    O vereador Celso Giannazi (PSOL) apresentou emenda com a proposta de Parque Municipal do Rio Bixiga Zé Celso Martinez Corrêa. Já os vereadores Rubinho Nunes (União Brasil) e João Jorge (MDB) propuseram a denominação Parque Abravanel, em referência ao sobrenome da família de Silvio Santos. Uma homenagem direta ao dono do SBT não seria permitida, pois homenagens do tipo são proibidas em equipamentos públicos enquanto a pessoa está em vida.

    Como o Estadão mostrou, o projeto de inserção do parque no Plano Diretor passará por alterações antes da votação, com a inclusão de outras alterações na lei urbanística. Por isso, a mudança no nome pode ser incorporada ao texto final a ser submetido a segunda e definitiva votação ou, ainda, se permanecer como emenda, é deliberada na sequência.

    A previsão é que esse projeto e outros que alteraram a Lei de Zoneamento e as duas operações urbanas mais ricas da cidade (Faria Lima e Água Espraiada) sejam votados em uma mesma sessão. O cronograma preliminar indica que ocorrerá na última semana do mês, pouco antes do recesso legislativo.

    No projeto de lei de inclusão do Parque do Bixiga, a justificativa da Prefeitura aponta que abrange um bairro histórico, plural e único. Também diz que a criação do parque advém do que reconhece como “luta popular” de moradores e visitantes.

    Por isso, a justifica do projeto defende que a implantação está de acordo com o Plano Diretor porque pode “ampliar e requalificar os espaços públicos, as áreas verdes e permeáveis e a paisagem”, “proteger o patrimônio histórico, cultural e religioso e valorizar a memória, o sentimento de pertencimento à cidade e a diversidade” e, ainda, “recuperar e reabilitar as áreas centrais da cidade”.

    “A própria subprefeitura da Sé possui somente cinco parques urbanos, tornando mais relevante ainda a demarcação de áreas verdes neste território”, salienta.

    “A implantação do parque neste local, cercado de vias estruturais que cortam a região de norte a sul e leste a oeste, pode também auxiliar na requalificação do bairro e do seu entorno, trazendo espaços de lazer, cultura e contato com a natureza, todos estes escassos na região do Bixiga e Bela Vista”, conclui.

    Nas audiências públicas, representantes do Teatro Oficina e de movimentos do bairro defenderam a criação de um grupo de trabalho conjunto com a Prefeitura para o desenho do futuro parque. Arquitetos e apoiadores da companhia têm desenvolvido uma proposta há anos, a qual inclui a reabertura do Rio Bixiga, que passa pelo terreno e hoje está oculto.

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    Em textos-manifesto, reuniões, entrevistas, performances artísticas e mobilizações públicas, Zé Celso juntou apoiadores diversos e até improváveis contra a construção de edifícios no entorno do Teatro Oficina. A situação foi abordada em peças montadas pela companhia teatral.

    Entre as vitórias de Zé Celso após a venda dos imóveis vizinhos à Sisan Empreendimentos (do Grupo Silvio Santos), está o tombamento da sede da companhia nas esferas municipal, estadual e federal (com diferentes perfis e propostas de proteção). O imóvel tem projeto da reconhecida arquiteta Lina Bo Bardi (conhecida especialmente pelo Masp e o Sesc Pompeia), em conjunto com Edson Elito.

    Um dos argumentos de Zé Celso pela defesa do parque é de que Lina e Elito já propunham uma praça pública junto ao teatro, batizada de Anhangabaú da Feliz Cidade. Além disso, dizia que os prédios poderiam obstruir a visão do janelão que ocupa grande parte de uma das fachadas laterais do imóvel, enquanto o parque traria lazer e um “respiro” à vizinhança.

    A mobilização contra construções no entorno do parque cresceu especialmente após 2000, quando foi aprovado um projeto para construir um shopping no local. Outra proposta que incorporava o teatro ao centro comercial foi apresentada quatro anos depois, também criticada pelo Oficina e posteriormente abandonada pela iniciativa privada.

    Depois do shopping, foi a vez das torres. Em 2008, a Sisan propôs erguer um condomínio de três prédios. A obra teve entraves para a aprovação, mas chegou a obter decisões favoráveis nos órgãos municipal e estadual de patrimônio ao longo daquela década e da seguinte, mas não saiu do papel.

    Mais recentemente, em fevereiro, o grupo chegou a emparedar os arcos e a remover uma escada externa do teatro após decisão judicial. À época, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) chamou as medidas de irregulares, pois não tinham aval dos órgãos de patrimônio cultural.

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