• Dólar cai 0,70% a R$ 5,3686 com declarações de Haddad e Tebet sobre revisão de gastos

  • 13/jun 17:48
    Por Antonio Perez / Estadão

    O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 13, em baixa firme no mercado doméstico, após quatro pregões consecutivos de valorização, que culminaram na quarta-feira com o fechamento acima da linha de R$ 5,40 pela primeira vez desde 4 de janeiro de 2023. Segundo operadores, houve um movimento de realização de lucros e devolução parcial dos prêmios de risco acumulados nos últimos dias com a percepção de enfraquecimento político do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fiador do novo arcabouço fiscal.

    Já em leve baixa pela manhã, o dólar acentuou as perdas no início da tarde com sinais de união entre Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, em torno de uma agenda de revisão de gastos públicos. O ministro da Fazenda também recebeu um afago do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. De Genebra, na Suíça, o presidente disse que Haddad é “extraordinário ministro” e que não entende “a pressão” contra ele.

    Segundo Lula, após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolver a Medida Provisória (MP) do crédito do PIS/Cofins, cabe ao Senado e aos empresários acharem um meio de compensar as perdas de receita com a desoneração da folha de pagamentos. “Haddad tentou. Não aceitaram, agora encontrem uma solução”, disse Lula.

    Com mínima a R$ 5,3633 à tarde, o dólar à vista terminou o dia em baixa de 0,70%, cotado a R$ 5,3686. Apesar de recuar nesta quinta-feira, a moeda sobe 0,82% na semana e 2,24% nos nove primeiros pregões de junho. No ano, o dólar ainda acumula valorização de dois dígitos (10,62%) em relação ao real.

    O chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, vê um movimento nesta quinta de alívio pontual no câmbio e nos juros futuros, que vinham “muito estressados nos últimos dias”, com os ruídos de enfraquecimento de Haddad e de piora da relação do governo com o Congresso, após a devolução da MP do PIS/Cofins.

    “Haddad e Tebet reafirmaram o compromisso com a agenda de revisão do controle de gastos para cumprir as metas fiscais, o que ajudou o dólar a devolver um pouco da piora recente”, diz Garcia, ressaltando que um movimento de apreciação sustentada do real depende de medidas concretas de revisão de despesas. “Por enquanto, tivemos coisas mais simbólicas, como apoio ao ministro da Fazenda, o que reduziu o ruído político”.

    Haddad disse nesta quinta que as equipes ministeriais estão intensificando os trabalhos da agenda de revisão de gastos para apresentar uma peça orçamentária para 2025 bem montada e que passe “tranquilidade” em relação ao quadro fiscal. Na mesma linha, Tebet afirmou que o ajuste via receitas começa a se exaurir, ao passo que há uma ampla margem para rever despesas. O cardápio de alternativas, segundo ela, ainda não foi levado ao presidente Lula.

    A moeda brasileira se beneficiou nesta quinta também da queda das taxas dos Treasuries, na esteira da deflação ao produtor nos EUA, e da recuperação do peso mexicano, principal par do real. Operadores ressaltam que a onda de desmonte de apostas na valorização da moeda do México nos últimos dias, em meio a temores de mudanças constitucionais no país após as eleições presidenciais, contaminou outras divisas latino-americanas.

    O real e o peso, que na quarta-feira amargaram o pior desempenho entre divisas emergentes mais relevantes, nesta quinta conseguem escapar da tendência predominante de alta da moeda norte-americana no exterior. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subia mais de 0,50% no fim da tarde, voltando a operar acima dos 105 mil pontos, em razão do tombo do euro.

    Na quarta, a leitura benigna da inflação ao consumidor nos EUA abriu espaço para queda forte do dólar no exterior, movimento suavizado à tarde após dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) passarem a projetar apenas um corte de juros neste ano. Como esperado, o Fed manteve na quarta a taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50% e reforçou que precisa de mais confiança no processo de desinflação antes de começar a reduzir os juros.

    O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observa que, à exceção da libra esterlina, as moedas mais negociadas do mundo recuam em relação ao dólar neste ano. “Dentre as cinco moedas de pior performance, três são de mercados emergentes latinos (peso argentino, real e peso mexicano). De fato, o fluxo de notícias oriundo destes países piorou muito nas últimas semanas”, diz Oliveira, em nota.

    Últimas