• Documentário reforça carisma e revela bastidores e as últimas lágrimas da despedida de Federer

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  • 11/jun 05:30
    Por Felipe Rosa Mendes / Estadão

    Poucos atletas na história do esporte mundial foram tão questionados sobre aposentadoria quanto Roger Federer. A pergunta foi repetida centenas de vezes ao longo das últimas 13 das 24 temporadas em que o suíço foi um tenista profissional. Não por acaso sua despedida foi cercada de mídia, calor humano dos fãs e muito tênis, em setembro de 2022. Foi sobre essa tão aguardada aposentadoria que se debruçou “Federer: Doze Últimos Dias”, documentário da Amazon Prime a ser lançado pelo serviço de assinatura no dia 20 deste mês.

    Considerado um dos maiores tenistas e atletas de todos os tempos, Federer deixou o circuito profissional em clima de amistoso durante a Laver Cup de 2022. A competição, criada pelo próprio suíço, já integra o calendário da ATP e conta com uma grande disputa entre o Time Europa e o Time Mundo, contexto adequado para uma despedida, em que Federer pôde jogar ao lado, e não contra, alguns dos seus principais rivais, como Rafael Nadal e Novak Djokovic.

    Uma câmera acompanhou o suíço, sua família e estafe de forma quase disfarçada ao longo da competição. De acordo com a produção, muitas das cenas do documentário foram caseiras mesmo. E, a princípio, não foram pensadas para serem divulgadas ao público. A ideia do documentário veio depois, o que se torna perceptível ao longo da obra, pela ausência de entrevistas exclusivas formais. Diante da câmera, de forma mais aberta, sentam-se apenas Federer e sua esposa. Nadal, Djokovic e Murray dão contribuições modestas na 1h27min de vídeo.

    As melhoras falas dos agora ex-rivais aparecem nas entrevistas coletivas formais da própria Laver Cup, o que de certa forma ajuda a divulgar a competição – o símbolo e o nome do torneio por equipes são onipresentes durante todo o documentário.

    O ponto forte da obra, claro, é o carisma de Federer. Superando os 40 anos, o suíço surpreende por esbanjar jovialidade entre os tenistas no vestiário. O garotão ganha perfil de pai diante dos quatro filhos e da esposa. E de homem sério diante das câmeras, mesmo sem perder o bom humor. Federer aprendeu a flanar por diferentes círculos com a mesma facilidade que atravessava a grama de Wimbledon para acertar um “winner”.

    O magnetismo do suíço diverte, mas também atrai pela espontaneidade ao falar de assuntos mais sérios, como o medo do desconhecido após o fim da trajetória de tenista. “Geralmente eu gosto de saber o que vai acontecer. Mas agora será o desconhecido. Para o momento, o desconhecido é uma boa.”

    No quesito sinceridade, ele também surpreende ao admitir que sua família respirou aliviada quando decidiu parar. Neste aspecto, o documentário acerta ao escancarar os momentos de angústia dos seus pais, esposa e filhos a cada derrota contra adversários que Federer geralmente atropelaria em outros momentos da carreira.

    CIRURGIAS

    Acostumado a ser cauteloso ao falar dos seus problemas físicos, Federer se abriu totalmente no documentário. Revelou imagens pós-cirúrgicas, até mesmo no leito do hospital. Num dos trechos mais fortes da obra, ele afirma que sempre quis ser o tenista que nunca precisaria de operações porque, na sua visão, as cirurgias são “o começo do fim”. “E eu não estava errado”, declarou o suíço, que revelou ainda sentir dores no joelho direito.

    De forma geral, a obra se alterna entre imagens das grandes jogadas do gênio da bolinha em meio a suas opiniões e visões sobre o tênis, sobre o passado e o futuro do circuito profissional, num roteiro suave e agradável como os voleios do suíço em quadra.

    O mérito neste caso é tanto do dono de 20 títulos de Grand Slam quanto do diretor Asif Kapadia, vencedor do Oscar pelo documentário sobre a vida da cantora britânica Amy Winehouse, de 2015. Kapadia tem outras obras sobre esporte, tendo Cristiano Ronaldo e Maradona como protagonistas.

    Para os fãs brasileiros, a maior referência do diretor britânico é o sucesso “Senna”, dedicado à história do tricampeão mundial de Fórmula 1 e ídolo brasileiro. Sucesso de público, a obra de 2010 também é uma das mais premiadas sobre esporte.

    Entre risos e choros, Asif Kapadia conduz o documentário com leveza, sem baixo astral, apesar do clima permanente de “última dança”, relegando os lencinhos apenas para os minutos finais da desidratante despedida de Federer em quadra, cercado de amigos e ex-rivais.

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