Ibovespa abre semana estável, com quadro fiscal no Brasil e juros dos EUA no radar
Após ter marcado na sexta-feira perda de 1,73% com os ruídos fiscais domésticos e a leitura forte sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos em maio, o Ibovespa iniciou a semana em luta para retomar a linha dos 121 mil pontos, mas perdeu a pouca força mostrada mais cedo, do meio para o fim da tarde.
Assim, vindo de sua maior retração diária desde 21 de setembro, a referência da B3 oscilou a segunda-feira dos 120.540,03 aos 121.421,30 pontos, encerrando a segunda-feira praticamente estável, em baixa de 0,01%, aos 120.759,51 pontos – uma perda de 7,68 pontos frente ao encerramento da sexta-feira. O giro também ficou bem acomodado na sessão desta segunda, a R$ 16,5 bilhões. No mês, o Ibovespa ainda acumula perda de 1,10% e, no ano, de 10,01%, na casa de dois dígitos desde a sessão anterior.
Nesta abertura de semana, o Ibovespa foi conduzido essencialmente pelo bom desempenho de Petrobras (ON +1,84%, PN +1,52%), alinhado aos ganhos do petróleo em Londres (Brent) e Nova York (WTI). Circula entre operadores do mercado de petróleo a informação de que a Rússia teria feito o maior corte na produção da commodity em um ano, embora ainda mantenha oferta acima da meta. Em direção ao fechamento, porém, as ações da estatal mostraram ganho mais comportado, tendo chegado a orbitar a casa de 2,5%, mais cedo.
Por sua vez, Vale ON, a ação de maior peso no Ibovespa, também deu boa contribuição ao índice da B3 nesta segunda-feira, em alta de 1,09% no fechamento, sem a referência do minério de ferro na China, em razão de feriado. Em Cingapura, contudo, o minério para julho de 2024 caiu 3,06%, a US$ 105,40 por tonelada.
Na ponta do índice da B3, destaque nesta segunda-feira para São Martinho (+6,19%), Vibra (+2,40%), Prio (+2,20%) e Suzano (+2,14%). No canto oposto, Soma (-4,67%), Arezzo (-4,14%), Vivara (-3,59%) e BTG (-3,30%).
Entre o sinal favorável das grandes ações de commodities, e o negativo de parte das grandes instituições financeiras, o que prevaleceu foi o do segmento de maior peso no Ibovespa, o financeiro, com destaque para o recuo de 0,79% para Itaú PN e de 1,03% em Santander Unit, considerando os maiores bancos. Exceção para leves ganhos em BB (ON +0,11%) e Bradesco ON (+0,09%).
“O mercado ainda digeriu hoje tanto a fala ‘vazada’ do Haddad em reunião na própria sexta-feira do ministro da Fazenda com integrantes do mercado, em São Paulo como o payroll de maio, nos Estados Unidos. No início do dia, ainda mostravam picada forte o dólar e os juros futuros, com a Bolsa em baixa. Depois, veio certo alívio ao longo da sessão de hoje, especialmente depois das 15h, com os resultados da balança comercial na primeira semana de junho, em superávit, e as tratativas sobre a MP do PIS/Cofins, entre Lula, Pacheco e Haddad”, diz Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
No fechamento da última sexta-feira, observa o operador, o DI para janeiro de 2031 ficou acima de 12%, algo não visto desde maio de 2023. “Mesmo na crise de setembro, outubro do ano passado, em torno dos rendimentos dos Treasuries, não se via o DI nesse patamar. Campos Neto, o presidente do BC, tem falado muito também na desancoragem das expectativas de inflação. E o DI nesse nível expressa exatamente isso”, acrescenta Faust, que chama atenção tanto para o aumento das expectativas de inflação de 2025 e 2026 no boletim Focus, como para dados, nos EUA, que sustentam a incerteza sobre o nível dos juros americanos ao fim de 2024 – e, no plano doméstico, as dúvidas sobre a condução da política fiscal.
Na agenda externa, “esta semana será crucial nos EUA, com a divulgação do relatório do CPI inflação ao consumidor em maio e a decisão de política monetária do Federal Reserve, ambas na quarta-feira. Previsões indicam que a taxa anual de inflação permanecerá em 3,4%, enquanto o núcleo sem itens considerados voláteis, como alimentos e energia pode diminuir ligeiramente, para 3,5%, um novo mínimo de três anos”, observa em nota a Guide Investimentos.
“Acreditamos que o Fed queira cortar os juros este ano, mas uma redução é improvável antes de setembro, no mínimo”, avalia em nota John Kerschner, gerente de portfólio na Janus Henderson Investors. “E quando o fizerem, é improvável que isso inicie um ciclo consistente, de 25 pontos-base por reunião”, acrescenta o gestor, observando que, de início, o ritmo de ajuste na taxa de juros do Fed tende a ser “infrequente”, definido a cada reunião. “Não importa particularmente se eles começarão em setembro ou em novembro, o que importa é o ritmo a partir daí.”
Por outro lado, em contexto mais desafiador para o Brasil, a Monte Bravo reduziu expectativa para o Ibovespa ao final deste ano, de 155 mil para 150 mil pontos, em meio à postergação do início do corte de juros americanos e a ruídos fiscais que elevaram a percepção de risco sobre os ativos domésticos. Além disso, a corretora aumentou a projeção para a Selic ao fim de 2024, de 10% para 10,50% ao ano. Este nível deve permanecer até o início de 2025, quando, no cenário-base, a casa entende que haveria espaço para ajuste adicional da taxa rumo a 9,50%, em meados daquele ano.
Ao mesmo tempo, a expectativa da taxa de câmbio passou de R$ 4,90 para R$ 5,00 em 2024. Em relatório, a Monte Bravo explica que a modificação se deve ao aumento do prêmio de risco com as alterações das metas fiscais e por conta da maior aversão a risco com relação a ativos no Brasil, na renda fixa como também na variável.