• História: conheça quem foi a primeira taxista mulher de Petrópolis

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  • 28/05/2019 08:54


    Quem olha dona Ivone logo nota a delicadeza e consideração no trato com as pessoas. Em casa, tudo no seu devido lugar, e arrumadinho com carinho. Assim que alguém chega ela propõe logo em café, bem no estilo de “vó”! Papo vai, papo vem, e a repórter fica com saudade dos avós que já se foram. Afinal, o jeito aconchegante e forte da dona Ivone fazem qualquer pessoa voltar no tempo, e as origens em busca das experiências mais marcantes e felizes. E, nesse retorno ao passado, além de muitas risadas, tiveram claro, alguns episódios tristes, que marcaram a vida da aposentada. Assim como muitas conquistas. Independente desde muito cedo, e com a responsabilidade de sustentar uma família, ela venceu na vida e ainda fez história. Isso mesmo! Ivone Rodrigues Carvalho, de 81 anos, foi a primeira taxista em Petrópolis. 

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    A aposentada ficava no conhecido Ponto 7, na Praça da Inconfidência, e em pouco tempo fez uma boa freguesia, segundo ela. Mas nem tudo foram flores, no início ela foi recebida com certa desconfiança, principalmente por parte dos passageiros, que não levavam com muita tranquilidade a ideia de uma mulher na direção de um táxi. Apesar disso, logo o preconceito caiu por terra, e Ivone ficou conhecida. E mesmo não tendo uma trajetória muito longa, foram cerca de cinco anos na profissão. Ela conta que não faltaram aventuras, e que hoje sente muitas saudades do tempo em que percorria toda cidade.

    A grande mudança 

    Tudo começou quando Ivone tinha cerca de 50 anos. Ela morava em Corrêas, no Bonfim, com o marido e um casal de filhos. Na época trabalhava em um bazar, na antiga Casa Roberto, na Rua do Imperador, e o esposo era taxista. “Ele tinha muitos problemas com bebida e bateu diversas vezes de carro, a ponto de um dia desistir da profissão. Lembro como se estivesse acontecendo agora, ele jogando as chaves do carro na mesa e dizendo que venderia o ponto de táxi e o automóvel. Imediatamente fui contra, já que era nossa principal fonte de renda e as crianças estavam entrando na adolescência. Foi quando ele disse para eu assumir a função, se assim achasse melhor”, contou.

    Medo, insegurança, e vontade de desistir? Jamais! Nada disso passou pela cabeça de Ivone na hora de assumir por completo as responsabilidades da família. Ela arregaçou as mangas e foi para o Ponto 7, no carro dela, um Fusquinha ano 79. Um chame só, segundo ela. “Apesar de ser algo atípico para época, os rapazes do ponto me aceitaram bem. Após um tempo fiz minha clientela e logo consegui manter a casa. Foram anos muito bons e divertidos!”, relatou.

    Olha o perigo!

    Apesar de saudosa Ivone conta que trabalhava cerca de 12 horas por dia dirigindo, e que passou por algumas situações perigosas. “Uma vez dois homens pediram uma corrida para o Alto da Serra, ao chegar lá, eles desembarcaram e deixaram no porta-malas do carro uma das bagagens, e com a ordem de que eu os aguardasse. Após alguns minutos, que pareceram horas naquele dia, eles retornaram e pediram para seguirmos até o final Thouzet. Na hora fiquei com muito medo, pois eles eram um pouco mal encarados. Mas respirei fundo e fui. No caminho o rapaz que estava ao meu lado perguntou se eu estava com medo. Olhei para ele e disse que sim! Que eles estavam indo de um lugar para o outro, e que eu queria saber afinal para onde eles iam. Após um tempo de silêncio chegamos ao nosso destino. Mas para meu alívio eles só perguntaram quanto era a corrida, e ainda me deram dinheiro a mais”, contou entre risos.

    Segundo Ivone a corrida tinha custado cerca de 8 mil cruzeiros, o que equivale hoje a cerca de R$70. Mas a dupla deixou 10 mil cruzeiros, e acabou fazendo o faturamento dela do mês. “Foi muito tensa a viagem mas no fim consegui garantir um bom dinheiro! Afinal, normalmente não tirava nem isso”, relembrou. Uma curiosidade, que fez Ivone cair na gargalhada, foi lembrar do “Dedo Duro”, taxímetro da época, que anos mais tarde ela venderia em um bazar.

    Momento difícil 


    Passados alguns anos, infelizmente o querido Fusquinha pifou e Ivone não tinha dinheiro para consertá-lo. Por conta disso, ela foi obrigada a deixar a profissão e voltar para o bazar. Nesse meio tempo conseguiu vender o carro e aproveitou o dinheiro para inteirar o valor da compra do apartamento em que vive hoje. Alguns anos depois o marido morreu, assim como o filho mais velho, na época com apenas 22 anos. Aos 44 anos, a filha caçula também a deixou, e há cerca de 15 anos, Ivone mora sozinha em um apartamento do Prédio Municipal. Mas ela tem dois netos pelos quais morre de amores! Para falar deles é só orgulho, e os melhores momentos acontecem quando eles a visitam, ou passam as férias com ela.

    “São meus tesouros, mas não querem saber de me dar bisnetos”, gargalhou. Atualmente aposentada, ela costura panos de prato, lençóis e fronhas, para completar a renda e manter corpo e mente sempre ativos. Além disso, um dos programas favoritos é receber as amigas do prédio em casa, para um bate papo. Depois de tantas provações e obstáculos vencidos Ivone se considera, e de fato é, uma vencedora. Mulher empoderada desde muito cedo, e com convicção de que as conquistas pessoais dependiam dela, a aposentada afirma que não tem mágoas, e é feliz. O que restou? Saudade, boas lembranças, e muito amor e carinho para distribuir por ai. Sorte de quem cruza o caminho da dona Ivone!

    Fãs


    A simpatia é tanta que em minuto arrancou sorrisos do taxista Giovane Martins, que emprestou o carrão, elogiado por ela, para que Ivone pudesse fazer umas fotos. “Eu não sabia quem tinha sido a primeira taxista da nossa cidade, e olha que trabalho com isso há 23 anos. Fiquei muito satisfeito em conhecê-la, ainda mais por ser uma mulher que inovou e fez história em Petrópolis”, disse orgulhoso. 

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