• Os frutos colhidos

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  • 02/jun 08:00
    Por Ataualpa A. P. Filho

    Colhemos o que plantamos. Quando se trata de fenômenos naturais, a relação de causa e consequência está sempre presente. Quando nos deparamos com as imagens, as notícias, o sofrimento da população do Rio Grande do Sul, sentimos os efeitos das ações humanas que afetam drasticamente a natureza. E sempre fica a pergunta: – até quando as pessoas mais necessitadas irão passar por tanto sofrimento?…

    Já se passou um mês da maior tragédia climática que se abateu sobre o povo rio-grandense. Já foram contabilizados 169 óbitos. 50 pessoas continuam desaparecidas. Há mais de meio milhão de desalojados em 471 cidades, incluindo a capital. 55 mil pessoas estão alocadas em abrigos.  12 mil animais foram recolhidos por equipes de resgate. Os danos materiais, psicológicos, emocionais são incalculáveis. Cada sobrevivente dessa tragédia é que tem a dimensão do que perdeu. Os traumas sofridos não serão cicatrizados com facilidade.

    Nós que moramos em Petrópolis sabemos como isso é doloroso, como isso fica no nosso inconsciente. Basta uma nuvem mais escura no céu para reacender uma preocupação. Até os dias mais quentes nos preocupam, pois nasce a expectativa de chuvas fortes.

    A Terra poderia não sofrer o que está sofrendo. A humanidade poderia estar em estágio mais evoluído no que se refere ao respeito mútuo. As ações humanas predatórias estão colocando em risco a vida no planeta. Tanto a fauna quanto a flora sofrem com a nocividade do homem. As alterações climáticas prenunciam os desastres provocados pelos fenômenos da natureza.

    Do que se respira, do que se bebe, do que se come, a natureza participa. Preservá-la é um gesto de gratidão. Mas é preciso dizer que ela fala por si. O desmatamento, a poluição, as produções de gases tóxicos têm reflexos imediatos sobre os habitantes deste planeta.

    A cada ano que passa, os desastres são maiores. Não podemos ficar de braços cruzados. O mundo vive em estado de alerta. É preciso que se diga que a vida é prioritária. Todos nós somos responsáveis por isso. Temos as nossas parcelas de culpa. O vazamento de uma torneira, o banho prolongado, o papel de bala no chão, a gordura jogada no ralo da pia, a ponta de cigarro acesa na lixeira, o cano de descarga do carro, da moto poluindo o ar, a fumaça tóxica das fábricas, ou seja, desde as ações mais simples no ambiente doméstico a incêndios florestais criminosos contribuem para o estado crítico em que vivemos.

    É preciso reconhecer que a natureza é uma obra divina. Defendo a ideia de que a luta pela preservação perpassa pela criação de um movimento de resistência sem pátria, mas que começa na porta da nossa casa, mantendo-a limpa.

    O desmatamento, a crise hídrica pela falta de chuva, o aquecimento global são fatores que revelam o caráter destrutivo do homem. Quando o capital é colocado como um bem superior à vida, as consequências são drásticas. E os reflexos econômicos são visíveis. Portanto, é preciso urgentemente fortalecer a consciência da preservação do ecossistema. O progresso não é incompatível com a preservação do meio ambiente. É possível manter o desenvolvimento tecnológico exigido pela vida moderna por meio de uma política preservacionista que respeita fauna e flora em benefício da qualidade da existência humana.

    Os fenômenos naturais devem ser vistos como parte de uma linguagem que precisa ser entendida como alerta em favor da vida. Por isso, precisamos refletir não somente pelas previsões meteorológicas, mas também em função do respeito que precisa ser mantido em relação aos outros viventes deste planeta. A prepotência do animal humano é que o limita. A vida é mais simples desarmada, porque assim o amor torna-se mais presente. O colorido dela é uma das perfeições do Criador.

    A Natureza manda recado. Nenhuma catástrofe vem do acaso. Notícias das enchentes, das secas, das queimadas estão nos noticiários. Com urgência, precisamos agir em defesa da vida. A consciência ambiental é fruto da compreensão de mundo em função do viver em harmonia com os nossos semelhantes e não em função do vil metal. As ações solidárias alimentam as esperanças de reconstrução da vida. O humano no homem ainda sobrevive. Vamos caminhar de mãos dadas…       

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