Mãe e filha petropolitanas compartilham a paixão pelo futebol e são destaques no Serrano
Diz o ditado popular que “filho de peixe, peixinho é”, e essa máxima encontra justificativa na história de Danny Oliveira, 45 anos, e Lavínya de Oliveira, 17 anos, mãe e filha petropolitanas que compartilham verdadeira paixão pelo futebol, sendo destaques no cenário esportivo de Petrópolis.
Danny, diretora de futsal feminino do Serrano FC, e Lavínya, uma das integrantes do time, são a prova de que a herança da paixão pelo esporte pode transcender gerações e reforçar o vínculo familiar já existente.
“Cresci numa família onde era única menina no meio de um monte de meninos, então nada mais natural que a paixão virasse também o esporte preferido a ser praticado e o melhor, sempre com apoio dos irmãos e da família. Cheguei a jogar, mas sempre por amor ao esporte, nunca com intuito de ser profissional, mas via nas meninas que ao meu lado estavam o quanto sofriam por terem esse sonho”, conta Danny.
A porta para o Serrano foi aberta de maneira inesperada através das redes sociais, onde a petropolitana compartilhava suas análises e comentários sobre partidas de futebol, especialmente do Flamengo. “Foi através do Facebook que tudo começou. Meus textos chamaram a atenção de um dos diretores do clube, Marcelo Fernandes, que me convidou para realizar um trabalho de incentivo ao futebol feminino em 2019”, relembra. Entretanto, o caminho até a diretoria não foi fácil. Danny enfrentou desafios desde o primeiro dia, já que o clube, embora desejasse, não tinha o futebol feminino como prioridade. “Ali começaram os desafios. O clube não via o futebol feminino como uma peça-chave, mas aos poucos fui conquistando meu espaço e a confiança de toda a diretoria”, explica.
Com o passar do tempo, a petropolitana não só conquistou seu lugar na equipe como também ascendeu profissionalmente, começando como ajudante e evoluindo para coordenadora até alcançar o posto de diretora, tanto do futsal quanto do futebol de campo, em 2024.
“Os maiores desafios sempre foram a falta de incentivo,” explica a diretora, refletindo sobre os obstáculos enfrentados ao longo de sua carreira. “Em Petrópolis, o futebol feminino é esquecido. Com a chegada da pandemia, temi sinceramente perder nosso espaço, mas me mantive firme no processo. Em 2022, após todo o caos, decidi confrontar essa realidade de frente e lutar para que, após 12 anos inativos, tivéssemos um campeonato municipal feminino,” conta Danny. “Não tínhamos times suficientes na cidade para que algo acontecesse, então tive a ideia de convidar outro time, o Vera Cruz, e dividir minhas meninas com eles, já que contava com cerca de 30 meninas. O objetivo era ter ao menos 4 times, e assim, finalmente tivemos um campeonato municipal. Não vencemos uma única partida, e ali enfrentei muitas críticas. No entanto, sabia que tudo fazia parte do processo. O objetivo ali era fazer as coisas acontecerem, mesmo que doendo, com vontade de desistir às vezes. Não podia parar por elas, e claro, por mim, uma mulher adentrando e ocupando um espaço até então dominado principalmente por homens. Comecei a encarar tudo como um grande desafio. As críticas, cobranças, desconfianças e preconceitos me serviram de estímulo para mostrar que sim, não só eu, mas todas elas eram capazes. Desde então, as coisas começaram a mudar positivamente, a ponto de estarmos hoje no Estadual do Rio de Janeiro, e melhor ainda, como favoritas”, conta, orgulhosa. Ela ressalta a importância da diretoria do clube, que, “apesar das dificuldades, sempre manteve as portas abertas para todas as meninas da cidade, sendo um dos poucos locais sérios no apoio ao futebol feminino em Petrópolis.”
Mesmo diante das adversidades, a petropolitana não desistiu, conseguindo angariar dois patrocinadores e utilizou estratégias como rifas, vaquinhas online e vendas de camisas para financiar o time. “Esse esforço tem dado frutos, com o futebol feminino do Serrano se tornando cada vez mais reconhecido, sendo inclusive convidado para participar da Liga Nacional de Futsal em março deste ano, embora o convite não tenha sido aceito devido à necessidade de estruturação para competições nacionais”, explica. No entanto, ela vislumbra um futuro promissor para a equipe, com planos de crescimento e profissionalização, buscando se tornar uma referência não apenas na cidade, mas em todo o país. “Atualmente, o time conta com cerca de 25 meninas e mulheres, incluindo uma escola de futebol exclusiva para garotas de 8 a 15 anos, onde elas são encorajadas diariamente a serem melhores não apenas como jogadoras, mas principalmente como mulheres”, conta.
Danny acredita no potencial das mulheres no esporte, desafiando os estereótipos e abrindo caminho para que outras mulheres, inclusive Lavínya, se orgulhem de ocupar os campos e, se desejarem, posições de liderança. “Minha mãe é uma das pessoas mais guerreiras do mundo, lutando pelas meninas” afirma a jogadora. “Compartilhar esse sonho com ela é um sinônimo de orgulho para mim, para ela e para todas as meninas.” A petropolitana iniciou sua carreira no clube assim que o Serrano montou seu time feminino, quando tinha apenas 12 anos.
Com convicção sobre o papel das mulheres no esporte, Danny se orgulha que a filha compartilhe a paixão pelo futebol e siga em busca de realização profissional. “Ter minha filha ao meu lado, acompanhando de perto essa luta, vê-la tendo orgulho de calçar uma chuteira, ensinar a ela que, sim, a mulher pode e deve estar onde quiser. Mais do que ela ter orgulho do que faço é eu poder dizer que minha filha segue o caminho dela como mulher e nesse caminho está vencendo tudo, inclusive o preconceito, e se destacando a cada dia. Para mim a vida é mais colorida com o futebol. Sigo sendo mulher, mãe e referência principalmente para minha filha. Se nós mulheres não lutarmos pelo nosso espaço, seja no futebol ou fora dele, ficaremos sempre sem voz.”