Sem recursos, ‘Casa dos Sete Erros’ fecha as portas ao público
“Morei lá por 10 anos e ouvi fantasmas! Apesar disso, o período em que vivi na Casa da Ipiranga com a minha família, como caseira, foi maravilhoso. Tenho lembranças lindas do local, como minha festa de 15 anos, que foi realizada onde hoje funciona o restaurante. Brinquei muito na casa grande, como chamávamos a residência principal, e nos jardins. Li inúmeros livros e cheguei a ver, inclusive, o piano do salão vermelho tocar sem ter ninguém usando o instrumento. E olha que estávamos eu, minha mãe e irmã!”, lembrou a empresária Gisele Carius, em tom divertido. Assim será assim daqui para frente. Apenas lembranças de como a casa é, o que ela representa historicamente, e se as lendas urbanas em torno dela são mitos ou verdades!
Após o anúncio do encerramento das visitações à Casa da Ipiranga – mais conhecida como Casa dos Sete Erros – que desde 2006 estava aberta ao público, a Turispetro informou que entrará em contato com os proprietários da mansão, para entender os motivos do fim das visitações. Apesar disso, a secretaria salientou que, por se tratar de um imóvel particular, não há possibilidade de ingerência do poder público ou investimento do dinheiro público do município no casarão. A notícia do fechamento foi dada pelo diretor, Celso Tavares Guerra que, questionado pela Tribuna de Petrópolis, se limitou a dizer que tanto ele quanto os outros herdeiros da mansão não comentariam mais o caso.
O principal motivo do fechamento do casarão histórico, que já foi cenário de novelas e até filmes, está relacionado a falta de verba para manter o local. Por anos, Celso tentou, em vão, parcerias públicas e privadas para restaurar o espaço, tendo em vista o alto custo das intervenções necessárias, e porque a casa já apresentava inúmeros sinais de desgaste. Apesar disso, de imediato os jardins continuarão abertos ao público, de segunda-feira a sábado, das 12h às 23h, e aos domingos até as 17h30, assim como o restaurante que existe na antiga cocheira, também permanece funcionando.
Para a servidora estadual Mirian Veiga, o fechamento é uma perda irreparável. “Trata-se da nossa história! É muito triste ver esse tipo de situação acontecer e nada ser feito. Lembro que ano passado ainda tentei levar umas amigas minhas à casa, mas na ocasião não conseguimos entrar. Mesmo assim da porta já era possível sentir um forte cheiro de mofo, então creio que a conservação já não devia estar das melhores”, afirmou.
A Casa da Ipiranga foi construída em 1884. O imóvel foi o primeiro a ter energia elétrica em Petrópolis e é uma das quatro mansões particulares no Brasil em estado original. Ela é conhecida como Casa dos Sete Erros por causa das sete diferenças arquitetônicas entre os telhados e as janelas dos lados esquerdo e direito, e da fachada. Ela estava aberta para visitação desde 2006, e já recebeu mais de 400 mil visitantes.
Com 900 metros quadrados, e um jardim de 16 mil metros quadrados, a mansão possui ainda uma sala de jantar, toda revestida em madeira de jacarandá, que era utilizada para consertos. Além disso, existem cerca de duzentos painéis por toda a casa, pintados ao longo de dez anos pelo pintor autríaco Carl Schäffer. O lustre é da fundição francesa barbedienne, o mesmo usado no Palácio de Versalhes, na França, e é feito em bronze e banhado à ouro. Na antiga sala de música, as pinturas no teto recordam as viagens feitas por Tavares Guerra aos Alpes, e as paredes são revestidas por papel de ouro. O jardim é projeto do paisagista e botânico francês Auguste François Marie Glaziou, o mesmo projetista dos jardins da Quinta da Boa Vista.