• Três coisas para distinguir a voz do Pastor!

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  • 21/abr 08:00
    Por Mons. José Maria Pereira

    A Liturgia do Quarto Domingo da Páscoa é dominada pela figura do Bom Pastor que, pelo seu sacrifício, devolveu a vida às ovelhas e as reconduziu ao redil. Depois de várias aparições de Cristo ressuscitado às mulheres, aos Apóstolos, aos discípulos, hoje, Jesus apresenta-se como o Bom Pastor! É um título de Cristo muito familiar aos primeiros cristãos.

    No Evangelho (Jo 10, 11-18), ouvimos a palavra do próprio Cristo que nos fala em primeira pessoa: — “Eu sou o Bom Pastor!” — É uma catequese sobre a missão de Jesus: conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas, de onde brota a vida em plenitude.

    O Bom Pastor aparece numa atitude de ternura com as ovelhas… Ele as conhece, Ele as chama pelo nome, caminha com elas e estas O seguem. Elas escutam a sua voz, porque sabem que as conduz com segurança.

    Em contraste com o Pastor, aparece a figura dos ladrões e dos bandidos. São todos os que se apresentam como Pastor, ou até falam em nome de Cristo, mas procuram somente vantagens pessoais. Além do título de Bom Pastor, Cristo aplica-Se a Si mesmo a imagem da porta por onde se entra no aprisco das ovelhas, ou seja, pela Igreja. Ensina o Concílio Vaticano II: ” A Igreja é o redil, cuja única porta e necessário Pastor é Cristo (LG,6). No redil entram os pastores e as ovelhas. Tanto os pastores como as ovelhas hão de entrar pela porta que é Cristo. “Eu, pregava Santo Agostinho, querendo chegar até vós, isto é, ao vosso coração, prego-vos Cristo: se pregasse outra coisa, quereria entrar por outro lado. Cristo é para mim a porta para entrar em vós: por Cristo entro não nas vossas casas, mas nos vossos corações. Por Cristo entro alegremente e escutais-me ao falar d‘Ele. Por quê? Porque sois ovelhas de Cristo e fostes compradas com o Seu Sangue”.

    “… e as ovelhas O seguem, porque conhecem sua voz” (Jo 10,4). Ora, a Igreja é Cristo continuado! Diz São Josemaria Escrivá: “Cristo deu à Sua Igreja a segurança da doutrina, a corrente de graça dos Sacramentos; e providenciou para que haja pessoas que nos orientem, que nos conduzam, que nos recordem constantemente o caminho. Dispomos de um tesouro infinito de ciência: a Palavra de Deus guardada pela Igreja; a Graça de Cristo, que se administra nos Sacramentos; o testemunho e o exemplo dos que vivem com retidão ao nosso lado e sabem fazer das suas vidas um caminho de fidelidade a Deus” (Cristo que passa, nº 34). Jesus é a porta das ovelhas! Para as ovelhas significa que Jesus é o único lugar de acesso para que as ovelhas possam encontrar as pastagens que dão vida.

    Para os cristãos, o Pastor, por excelência, é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o rebanho de Deus… Portanto, Cristo deve conduzir as nossas escolhas.

    Quem nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A voz da política, a voz da opinião pública, a voz do comodismo e da instalação, a voz dos nossos privilégios, a voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a voz da novela? A voz da televisão?

    Cristo é o nosso Pastor! Ele conhece as ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com cada uma delas uma relação muito pessoal. Diz – nos o Senhor: “Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem ” (Jo 10, 14). Verdadeiramente, Jesus “conhece – nos”, de maneira ainda mais profunda de quanto nos conhecemos a nós mesmos, e Ele tem um plano para cada um de nós. Sabemos, também, que onde quer que Ele nos chame, encontraremos felicidade e satisfação; com efeito, encontrar-nos-emos a nós próprios: “Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará (Mt 10, 39).

    A existência humana é bem complexa para que se possa vivê-la com segurança absoluta. Jesus, porém, oferece a quem O segue a direção exata e a proteção eficaz para evitar os elementos que podem prejudicar. Afirma o Sl 22(23): “ Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei; estais comigo…”. Hoje, de modo especial, os jovens são convidados a considerar como o Senhor os está chamando a segui-Lo e a edificar a sua Igreja. Tanto no ministério sacerdotal ou na vida consagrada, como no Sacramento do Matrimônio, Jesus tem necessidade de vós para fazer ouvir a sua voz e para trabalhar pelo crescimento do seu Reino.

    O Divino Pastor é quem pode, realmente, ajudar, salvar e conservar a vida. Ele afirmou: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

    Para distinguir a Voz do Pastor é preciso três coisas:

     — Uma vida de oração intensa;

    — um confronto permanente com a Palavra de Deus;

    — uma participação ativa nos Sacramentos, onde recebemos a vida, que o Pastor nos oferece.

    “Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai” (Jo 10,14). Alegremo-nos, porque o Senhor nos fez membros do seu rebanho e conhece cada um de nós pelo nome!

    Hoje, a Igreja celebra o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Aqui o texto para aqueles de tiverem interesse na leitura da Mensagem do Papa:

    Chamados a semear a esperança e a construir a paz

    Queridos irmãos e irmãs!

    O Dia Mundial de Oração pelas Vocações convida-nos, cada ano, a considerar o precioso dom da chamada que o Senhor dirige a cada um de nós, seu povo fiel em caminho, pois dá-nos a possibilidade de tomar parte no seu projeto de amor e encarnar a beleza do Evangelho nos diferentes estados de vida. A escuta da chamada divina, longe de ser um dever imposto de fora – talvez em nome de um ideal religioso –, é antes o modo mais seguro que temos de alimentar o desejo de felicidade que trazemos no nosso íntimo: a nossa vida realiza-se e torna-se plena quando descobrimos quem somos, as qualidades que temos e o campo onde é possível pô-las a render, quando descobrimos que estrada podemos percorrer para nos tornarmos sinal e instrumento de amor, acolhimento, beleza e paz nos contextos onde vivemos.

    Assim, este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida. Penso nas mães e nos pais que não olham primeiro para si mesmos, nem seguem a tendência dum estilo superficial, mas organizam a sua existência cuidando das relações com amor e gratuidade, abrindo-se ao dom da vida e pondo-se ao serviço dos filhos e seu crescimento. Penso em todos aqueles que realizam, dedicadamente e em espírito de colaboração, o seu trabalho; naqueles que, em diferentes campos e de vários modos, se empenham por construir um mundo mais justo, uma economia mais solidária, uma política mais equitativa, uma sociedade mais humana, isto é, em todos os homens e mulheres de boa vontade que se dedicam ao bem comum. Penso nas pessoas consagradas, que oferecem a sua existência ao Senhor quer no silêncio da oração quer na atividade apostólica, às vezes na linha de vanguarda e sem poupar energias, servindo com criatividade o seu carisma e colocando-o à disposição de quantos encontram. E penso naqueles que acolheram a chamada ao sacerdócio ordenado, se dedicam ao anúncio do Evangelho, repartem a sua vida – juntamente com o Pão Eucarístico – pelos irmãos, semeiam esperança e mostram a todos a beleza do Reino de Deus.

    Aos jovens, especialmente a quantos se sentem distantes ou olham a Igreja com desconfiança, gostaria de dizer: deixai-vos fascinar por Jesus, dirigi-Lhe as vossas perguntas importantes, através das páginas do Evangelho, deixai-vos desinquietar pela sua presença que sempre nos coloca, de forma benfazeja, em crise. Ele respeita mais do que ninguém a nossa liberdade, não Se impõe mas propõe-Se: dai-Lhe espaço e encontrareis a vossa felicidade no seu seguimento e, se vo-la pedir, na entrega total a Ele.

    Um povo em caminho

    A polifonia dos carismas e das vocações, que a Comunidade Cristã reconhece e acompanha, ajuda-nos a compreender plenamente a nossa identidade de cristãos: como povo de Deus em caminho pelas estradas do mundo, animados pelo Espírito Santo e inseridos como pedras vivas no Corpo de Cristo, cada um de nós descobre-se membro duma grande família, filho do Pai e irmão e irmã de seus semelhantes. Não somos ilhas fechadas em si mesmas, mas partes do todo. Por isso, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações traz gravada a marca da sinodalidade: há muitos carismas e somos chamados a escutar-nos reciprocamente e a caminhar juntos para os descobrir discernindo aquilo a que nos chama o Espírito para o bem de todos.

    Além disso, no momento histórico presente, o caminho comum conduz-nos para o Ano Jubilar de 2025. Caminhamos como peregrinos de esperança rumo ao Ano Santo, para, na descoberta da própria vocação e pondo em relação os diversos dons do Espírito, podermos ser no mundo portadores e testemunhas do sonho de Jesus: formar uma só família, unida no amor de Deus e interligada pelo vínculo da caridade, da partilha e da fraternidade.

    Este Dia é dedicado de modo particular à oração para implorar do Pai o dom de santas vocações para a edificação do seu Reino: «Pedí, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita» (Lc 10, 2). E, como sabemos, a oração é feita mais de escuta que de palavras dirigidas a Deus. O Senhor fala ao nosso coração e quer encontrá-lo aberto, sincero e generoso. A sua Palavra fez-Se carne em Jesus Cristo, que nos revela e comunica toda a vontade do Pai. Neste ano de 2024, dedicado precisamente à oração como preparação para o Jubileu, somos chamados a descobrir o dom inestimável de poder dialogar com o Senhor, de coração a coração, tornando-nos assim peregrinos de esperança, porque «a oração é a primeira força da esperança. Tu rezas e a esperança cresce, avança. Diria que a oração abre a porta à esperança. A esperança existe, mas com a minha oração abro a porta» (Francisco, Catequese, 20/V/2020).

    Peregrinos de esperança e construtores de paz

    Mas que significa ser peregrinos? Quem empreende uma peregrinação procura, antes de mais nada, ter clara a meta, e conserva-a sempre no coração e na mente. Mas, para atingir esse destino, é preciso ao mesmo tempo concentrar-se no passo presente: para o realizar, é necessário estar leve, despojar-se dos pesos inúteis, levar consigo apenas o essencial e esforçar-se cada dia por que o cansaço, o medo, a incerteza e a escuridão não bloqueiem o caminho iniciado. Por isso ser peregrino significa partir todos os dias, recomeçar sempre, reencontrar o entusiasmo e a força de percorrer as várias etapas do percurso que, apesar das fadigas e dificuldades, sempre abrem diante de nós novos horizontes e panoramas desconhecidos.

    Este é precisamente o sentido da peregrinação cristã: estamos em caminho à descoberta do amor de Deus e, ao mesmo tempo, à descoberta de nós mesmos, através duma viagem interior, mas sempre estimulados pela multiplicidade das relações. Portanto, peregrinos porque chamados: chamados a amar a Deus e a amar-nos uns aos outros. Assim, o nosso caminho sobre esta terra nunca se reduz a uma labuta sem objetivo nem a um vaguear sem meta; pelo contrário, cada dia, respondendo à nossa chamada, procuramos realizar os passos possíveis rumo a um mundo novo, onde se viva em paz, na justiça e no amor. Somos peregrinos de esperança, porque tendemos para um futuro melhor e empenhamo-nos na sua construção ao longo do caminho.

    Tal é, em última análise, a finalidade de cada vocação: tornar-se homens e mulheres de esperança. Como indivíduos e como comunidade, na variedade dos carismas e ministérios, todos somos chamados a «dar corpo e coração» à esperança do Evangelho neste mundo marcado por desafios de nossos tempos: o avanço ameaçador duma terceira guerra mundial aos pedaços, as multidões de migrantes que fogem da sua terra à procura dum futuro melhor, o aumento constante dos pobres, o perigo de comprometer irreversivelmente a saúde do nosso planeta. E a tudo isto vêm ainda juntar-se as dificuldades que encontramos diariamente com o risco de nos precipitar, às vezes, na resignação ou no derrotismo.

    Por isso é decisivo, para nós cristãos, cultivar um olhar cheio de esperança no nosso tempo, para podermos trabalhar frutuosamente respondendo à vocação que nos foi dada ao serviço do Reino de Deus, Reino do amor, de justiça e de paz. Esta esperança – assegura-nos São Paulo – « a esperança não decepciona » (Rm 5, 5), porque se trata da promessa que o Senhor Jesus nos fez de permanecer sempre conosco e de nos envolver na obra de redenção que Ele quer realizar no coração de cada pessoa e no «coração» da criação. Tal esperança encontra o seu centro propulsor na Ressurreição de Cristo, que «contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. É verdade que muitas vezes parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não cedem. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto» (Francisco, Exort. Ap. Evangelii Gaudium, 276). E o apóstolo Paulo afirma ainda que fomos salvos na esperança (Rm 8, 24). A redenção realizada na Páscoa dá a esperança, uma esperança certa, fiável, com a qual podemos enfrentar os desafios do presente.

    Então ser peregrinos de esperança e construtores de paz significa fundar a própria existência sobre a rocha da ressurreição de Cristo, sabendo que todos os nossos compromissos, na vocação que abraçamos e levamos por diante, não caiem no vazio. Apesar dos fracassos e retrocessos, o bem que semeamos cresce de modo silencioso e nada pode separar-nos da meta última: o encontro com Cristo e a alegria de viver na fraternidade entre nós por toda a eternidade. Esta vocação final, devemos antecipá-la cada dia: a relação de amor com Deus e com os irmãos e irmãs começa desde agora a realizar o sonho de Deus, o sonho da unidade, da paz e da fraternidade. Que ninguém se sinta excluído desta chamada! Cada um de nós, no seu lugar próprio, no seu estado de vida, pode ser, com a ajuda do Espírito Santo, um semeador de esperança e de paz.

    A coragem de se envolver

    Por tudo isso digo mais uma vez, como durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa: «rise up – levantai-vos!» Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos encerramos, para que possa cada um de nós descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se peregrino de esperança e artífice de paz! Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado e do ambiente que habitamos. Repito-vos: tende a coragem de vos envolver! Padre Oreste Benzi, apóstolo incansável da caridade, sempre da parte dos últimos e indefesos, repetia que ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar, e ninguém é tão rico que não precise de receber alguma coisa.

    Levantemo-nos, pois, e ponhamo-nos a caminho como peregrinos de esperança, para que também nós, como fez Maria com Santa Isabel, possamos comunicar boas-novas de alegria, gerar vida nova e ser artesãos de fraternidade e de paz.

    Roma, São João de Latrão, no IV Domingo de Páscoa, 21 de abril de 2024.

    Papa Francisco.

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