• Estrangeiros miram ações cíclicas na B3 com proximidade de corte de juros nos EUA

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  • 31/mar 09:00
    Por Caroline Aragaki e Maria Regina Silva / Estadão

    As ações mais ligadas à economia doméstica devem ganhar espaço no portfólio dos investidores estrangeiros, que provavelmente voltarão a fazer aportes na Bolsa brasileira assim que os Estados Unidos começarem a reduzir os juros. Neste primeiro trimestre, a saída de recursos externos já deu sinais de ser a maior desde 2020, em boa medida pela perda de atratividade de papéis ligados a commodities com incertezas envolvendo a China e ruídos políticos em torno de Petrobras e Vale.

    “A atratividade das empresas cíclicas pode vir a se potencializar por serem mais sensíveis a juros, com os cortes na Selic, e enquanto o ciclo de commodities está mais complexo”, afirma Rodrigo Moliterno, sócio fundador da Veedha Investimentos.

    O Itaú BBA elevou nesta semana a recomendação para o setor de consumo discricionário para overweight (equivalente a compra), mencionando tendência de melhora na economia doméstica, à medida que a equipe macro do banco revisou recentemente sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2024 de 1,8% para 2%.

    Em relatório recente, o Bank of America (BofA) diz que ainda vê falta de apetite por commodities entre os investidores. O fraco desempenho do minério de ferro no acumulado do ano e o anúncio de não pagamento de dividendos extraordinários da Petrobras são fatores-chave, afirma.

    Também citando o caso Petrobras, o Goldman Sachs recomendou nesta semana a venda de ações de estatais brasileiras por conta do “aumento da intervenção governamental” e considerando que as cotações estão com múltiplos historicamente mais elevados do que de seus homólogos privados.

    Moliterno, da Veedha, pondera que os estrangeiros ainda devem continuar se posicionando em grandes nomes, como Petrobras, Vale e Itaú, e não se limitar às ações cíclicas que têm baixa liquidez.

    Mas em relação a outros países emergentes, o Brasil segue com múltiplos descontados e tem bons fundamentos – sendo o corte da Selic um dos principais por estimular a economia – para que se destaque no olhar dos investidores estrangeiros assim que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) iniciar a trajetória de flexibilização monetária, segundo Paulo Abreu, sócio e gestor da Mantaro Capital.

    Depois que o Fed divulgou decisão para manter as taxas inalteradas na quarta-feira, 20, a chance de que os juros americanos comecem a cair em junho subiu para perto de 75%, segundo monitoramento do CME Group.

    Até a última sexta-feira, 22, a saída de recursos externos da B3 totalizou R$ 22,19 bilhões no primeiro trimestre deste ano, sugerindo que este será o pior em apetite do investidor estrangeiro desde 2020, início da pandemia de covid-19, quando houve retirada de R$ 64,3 bilhões.

    O movimento decorreu do adiamento das expectativas em relação ao início de corte de juros nos EUA, mas o especialista em Bolsa do Inter, Matheus Amaral, afirma que a falta de apetite a cases do Brasil, como de empresas com grande relação com a China, adiciona pressão.

    A cautela com a segunda maior economia do mundo respinga em empresas brasileiras de grande peso no Ibovespa, como a Vale, porque o minério de ferro, por exemplo, perdeu o patamar de US$ 120 por tonelada que detinha até o início do mês com o receio de que as dificuldades no setor imobiliário da China reduzam a demanda pela commodity. Além disso, o governo chinês pode não conseguir cumprir a meta de crescer “em torno de” 5% em 2024.

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