• Dólar volta a superar R$ 5,00 e termina primeiro trimestre com ganho de 3,34%

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  • 28/mar 18:05
    Por Antonio Perez / Estadão

    O dólar à vista voltou a superar o nível técnico de R$ 5,00 nesta quinta-feira, 28, dia marcado por nova onda de fortalecimento da moeda americana tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes. À espera de dados de inflação nos EUA e discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, amanhã, quando os mercados estarão fechados em razão do feriado da Paixão de Cristo, investidores adotaram uma postura cautelosa.

    A divisa abriu em alta e superou a barreira psicológica dos R$ 5,00 ainda pela manhã, em meio à alta dos Treasuries curtos, mais ligados às expectativas em torno da condução da política monetária americana. Investidores assimilaram a fala dura do diretor do Fed Christopher Waller ontem à noite e o avanço de 3,4% na leitura final do PIB dos EUA no quarto trimestre de 2023, levemente acima das expectativas (3,3%).

    Com máxima a R$ 5,1079 na última hora de negócios, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,73%, cotado a R$ 5,0154. Operadores observam que, como é típico de fim de mês, os negócios foram muito influenciados pela rolagem de posições no segmento futuro e pela disputa em torno do fechamento da última taxa ptax do mês. O dólar termina março com ganhos de 0,86%, o que leva a valorização acumulada no primeiro trimestre a 3,34%. A divisa havia encerrado 2023 em baixa de 8,08%

    Apesar de ruídos políticos locais, como o imbróglio envolvendo a retenção dos dividendos extraordinários da Petrobras, analistas observam que o principal indutor da depreciação do real foi à valorização global da moeda americana. Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY também acumulou valorização de pouco mais de 3% no primeiro trimestre.

    A moeda americana também avançou na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Uma das poucas moedas que se destacaram foi o peso mexicano, com ganhos de cerca de 2% em relação ao dólar no trimestre. Principal par do real, a divisa mexicana se beneficia da postura mais conservadora do Banxico, o último grande banco central da região a embarcar em um ciclo de cortes da taxa básica, com redução de 0,25 ponto porcentual, para 11% ao ano, neste mês.

    O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, afirma que a formação da taxa de câmbio tem sido dominada pelo comportamento da moeda americana no exterior. Não se trata de falar de fraqueza do real no primeiro trimestre, mas de fortalecimento global do dólar. “A economia americana está crescendo mais e tem taxa de juros atrativa. É uma história de dólar forte no mundo, e não de riscos idiossincráticos domésticos”, afirma Lima.

    Analistas atribuem o fortalecimento global do dólar no primeiro trimestre ao rearranjo das apostas em torno do corte inicial de juros nos EUA e da magnitude de alívio monetário esperado para este ano. No fim de 2023, a projeção era de início de redução em março e corte total de 150 pontos-base em 2024. Dados fortes de atividade e inflação deslocaram as estimativas para o primeiro corte para junho, com alívio total de 75 pontos-base.

    Para Lima, da Western, assim que o Fed começar a cortar os juros, é possível que haja um movimento de apreciação do real, com a taxa de câmbio voltando para perto de R$ 4,80, apesar do quadro de preços de commodities mais baixos. “O real deve se recuperar assim que houver mais certeza sobre a trajetória dos juros americanos”, afirma o economista.

    Em apresentação hoje do Relatório Trimestral de Inflação, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o diferencial de juros entre Brasil e EUA segue elevado e que, portanto, não traz preocupação para a trajetória da taxa de câmbio. O presidente do BC também observou que as contas externas seguem bastante sólidas, com os superávits comerciais superando os US$ 80 bilhões.

    À tarde, o BC informou que o fluxo cambial total no ano (até 22 de março) é positivo em US$ 5,335 bilhões, com entrada líquida de R$ 11,697 bilhões via comércio exterior mais do que compensando as saídas líquidas de US$ 6,362 bilhões na conta de capital.

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