Sabores da África em SP: restaurante faz sucesso com baobá como ingrediente em receitas
Símbolos da ancestralidade africana, os baobás são árvores gigantescas, com troncos largos, até dez metros de diâmetro, que podem viver dois mil anos. Na mitologia iorubá, elas conectam o mundo material ao imaterial. Folhas, frutos e sementes são comestíveis e saborosos: aqui entra o Manden Baobá, novo restaurante africano da cidade, localizado na Vila Mariana, na zona sul da capital.
O adjetivo “novo” não se refere apenas à inauguração recente, em outubro do ano passado. Novo se refere também ao uso do baobá em vários pratos, com cuidado na elaboração e apresentação das receitas, à geração de empresários que veio ao Brasil para estudar e empreender e também à atenção da equipe às redes sociais. Esse caldeirão ajuda a explicar as longas filas que se formam na porta do restaurante nos finais de semana. Mas vamos com calma, um ingrediente de cada vez.
Alguns pratos são releituras de receitas africanas de Angola, Benin, Mali, África do Sul, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Gana, Congo e Camarões; outros reproduzem as receitas originais com pequenas adaptações ao paladar brasileiro.
Por exemplo: um dos pratos mais pedidos é o mufete, com peixe, vinagrete, farofa, feijão e batata-doce. A única mudança em relação ao prato servido em reuniões familiares aos finais de semana em Angola foi a troca da posta pelo filé. A maioria dos pratos tem versões veganas.
O fruto do baobá é agridoce, difícil de ser comparado aos frutos daqui, lembra um pouco o tamarindo. É bastante versátil na opinião dos chefs. Importado de Angola (as variedades brasileiras não dão frutos), ele está presente nas sobremesas (geleias, mousses e até brigadeiros) e também nos drinks do restaurante.
O idealizador do restaurante é o empresário Amílcar Tchinguelessy. Formado em Administração, com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria, diplomas obtidos todos em Curitiba (PR), o angolano de 30 anos escolheu o Brasil para estudar e fazer negócios.
Com essa trajetória, o empreendedor altera a imagem da África como um continente marcado pela carência, pobreza e por divergências políticas que empurram os cidadãos para outros países como refugiados. Ele fala de inovação, empreendedorismo e troca de know-how.
“A ideia de abrir o restaurante surgiu na perspectiva de fomentar o empreendedorismo africano e potencializar a nossa autoafirmação como imigrantes. Viemos trazer a experiência africana por meio do paladar e do cultivo à ancestralidade”, diz ele, também autor do livro ‘Como Aprender para Empreender: Uma Visão Dualista’.
O Manden Baobá nasceu após a elaboração de um plano de negócios que considerou, entre outros aspectos, a região. A presença de instituições de ensino importantes, como a ESPM e a Faculdade de Belas Artes, foi um aspecto importante. É o primeiro restaurante africano na Vila Mariana. “É a ocupação de um território”, resume a gerente de marketing Laila Santos, de 29 anos, que é brasileira.
O nome do estabelecimento também é uma reverência à ancestralidade africana. Amílcar explica que Manden foi um dos maiores impérios da África e polo comercial entre o mar Mediterrâneo e o interior do continente por volta dos anos 1230. E Baobá é a árvore da vida.
O início da história do estabelecimento tem sido promissor. Os 16 lugares são disputados, principalmente aos domingos, quando a fila se esparrama pela rua Capitão Cavalcanti. Os bons resultados enchem os empreendedores de otimismo. Os próximos passos estão cifrados numa pergunta que é quase uma provocação de Laila. “Quantos restaurantes africanos você já viu nos shopping centers de São Paulo?”.