Juros: Taxas sobem alinhadas ao avanço dos Treasuries e varejo acima do esperado
Os juros futuros fecharam o dia em alta, em resposta à escalada dos rendimentos dos Treasuries após a inflação no atacado nos EUA acima do esperado, potencializado pelas vendas no varejo no Brasil, que também superaram as estimativas dos analistas. Outro fator a trazer pressão à curva local foi o leilão de prefixados do Tesouro, com risco maior para o mercado. As taxas subiram com mais força nos vencimentos longos, resultando em ganho de inclinação.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 9,91 de 9,843% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia de 9,66% para 9,79%. A taxa do DI para janeiro de 2027 voltava aos dois dígitos, avançando a 10,03% (de 9,88% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 passava de 10,38% para 10,51%.
O fator externo foi determinante para o comportamento da curva hoje, respondendo por algo entre 60% e 70% do movimento, na avaliação da economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, para quem o fato de tanto o índice de preços no atacado (PPI, em inglês) quanto as vendas no varejo doméstico terem vindo acima do esperado não altera a percepção sobre a trajetória da política monetária nos EUA e no Brasil. “Mas, sim, exerceram impacto sobre os ativos. O avanço dos juros no Brasil foi mais forte do que lá fora em função da PMC”, diz.
O PPI subiu 0,6%, ante consenso de 0,3%, com aproximadamente dois terços do aumento vindo da elevação de 1,2% nos preços dos bens, o maior aumento desde agosto de 2023, o que eleva as preocupações com eventuais repasses aos preços ao consumidor, num momento em que tal segmento vinha fazendo um contraponto à pressão nos preços de serviços. O indicador reforça a perspectiva de orçamento total de corte de juros americanos menor este ano, abaixo de 100 pontos, e amplia a expectativa pelo comunicado do Federal Reserve na próxima semana.
No Brasil, as altas de 2,% e 2,4% nas vendas do varejo restrito e ampliado em janeiro superaram as medianas das estimativas (1,7% e 1,6%). Argenta, da CM, afirma que a despeito do impacto na curva local, a surpresa deve-se mais ao impulso na renda disponível vindo do aumento do salário mínimo do que a eventual consequência do afrouxamento monetário, ainda que setores ligados ao crédito tenham mostrado alguma recuperação. “É preciso aguardar para ver se esse desempenho se repete nos próximos meses, se haverá uma sequência que pode ameaçar em algum grau a indicação da política monetária. A Selic ainda está em nível contracionista”, avalia.
O estresse na curva de juros não inibiu o Tesouro, que trouxe lotes robustos para o leilão de prefixados. Tanto a oferta de 14 milhões de LTN quanto a de 3 milhões de NTN-F foram absorvidas integralmente e com a maioria das taxas acima do consenso de mercado.