Cuca acerta com o Athletico-PR e retorna ao futebol após anulação de sentença por estupro
Cuca é o novo técnico do Athletico Paranaense. A informação foi divulgada primeiramente pelo GE e confirmada pelo Estadão nesta segunda-feira. O treinador fechou contrato de um ano com o time rubro-negro e assume o cargo após a demissão do colombiano Juan Carlos Osorio. Este será o primeiro trabalho de Cuca após o Tribunal Regional de Berna-Mitteland, na Suíça, anular a sentença de 1989 que condenou o técnico por manter relação sexual sem consentimento com uma menina de 13 anos. O caso aconteceu em 1987, quando ele era jogador do Grêmio, durante um excursão do time ao país europeu.
Após se demitir do Corinthians, em 27 de abril de 2023, Cuca contratou advogados para reabrir o processo na Suíça. Apesar da rejeição da torcida, o então presidente Duílio Monteiro Alves bancou a contratação do treinador. Contudo, a passagem dele pelo time do Parque São Jorge durou apenas seis dias. À época, o técnico, sob forte pressão, pediu demissão citando um “massacre” das redes sociais e afirmou que estava atendendo a um pedido da família.
O técnico recebeu propostas no ano passado, mas recusou voltar ao trabalho porque, segundo ele, seu foco estava em provar que era inocente. Com a extinção do caso, o clube que decidir contratar Cuca vai estar assegurado juridicamente de que não há histórico de condenação do ponto de vista jurídico, mas terá de lidar com a polêmica do ponto de vista moral. O Athletico-PR, cujo presidente Mauro Celso Petraglia desejava acertar com Cuca, vai comprar a briga com a opinião pública e bancar a contratação do treinador.
Aos 60 anos, Cuca acumula passagens por grandes equipes do futebol brasileiro como treinador. Suas principais conquistas aconteceram no Atlético-MG, clube pelo qual conquistou a inédita Libertadores, em 2013, e a tríplice coroa em 2021 (Brasileirão, Copa do Brasil e Estadual). Ele também venceu o Campeonato Brasileiro de 2016 com o Palmeiras, e possui títulos Estaduais por Flamengo e Cruzeiro.
CUCA É INOCENTE?
A defesa de Cuca solicitou a revisão do caso argumentando que o treinador não contou com um representante legal na época e foi julgado à revelia. O pedido de um novo julgamento foi aceito, mas o Ministério Público alegou não ser possível realizá-lo pelo fato de o crime ter prescrito. O órgão, então, sugeriu a anulação da pena e o fim do processo, o que acabou sendo acatado pela Justiça. Foi determinado, ainda, uma indenização de 13 mil francos suíços (R$ 75 mil) – atualizado para 9,5 mil francos suíços (R$ 54,8 mil) após cumprimento de despesas.
Afinal, Cuca é inocente? Apesar da extinção da sentença, não se trata de uma mudança de veredicto. Isso porque o mérito do caso não foi reavaliado pela Justiça da Suíça. Assim, é errado afirmar que Cuca foi inocentado. Com a anulação de sentença e prescrição do processo, não poderá haver novo julgamento. A vítima morreu em 2002, aos 28 anos. Um dos herdeiros foi consultado, mas não quis ser parte do processo. A presidente do tribunal, então, decidiu pela anulação do caso. Em tese, cabe recurso, mas nenhuma das partes está disposta a recorrer.
ENTENDA O ‘ESCÂNDALO DE BERNA”
Alex Stival, o Cuca, Henrique Arlindo Etges, Eduardo Hamester e Fernando Castoldi, então atletas do Grêmio, foram detidos sob a alegação de terem tido relações sexuais com uma garota de 13 anos sem consentimento. O caso ocorreu no hotel Metrópole, em Berna, na Suíça, em 1987, ano em que o time gaúcho fez uma excursão pela Europa. De acordo com a investigação da polícia local, a garota pediu autógrafos e camisetas para os jogadores, que, então, a levaram para dentro do quarto e abusaram dela. Ela registrou queixa na polícia horas depois sob a alegação de ter sofrido violência sexual
Segundo publicou o Estadão em 7 de agosto de 1987, a versão do Grêmio, naquela época, era de que a jovem invadiu o quarto em que estava os atletas para pedir flâmulas, camisetas e autógrafos e depois saiu. No mesmo dia, o Estadão reportou que Eduardo e Henrique haviam admitido ter tido relação sexual com a garota, mas de forma consensual. Fernando e Cuca negavam qualquer participação. O advogado da vítima, porém, contestava a versão e afirmava que a menina reconheceu, sim, o então jogador do Grêmio como um dos que participaram do ato.
Tanto Cuca quanto os outros três colegas do Grêmio permaneceram em cárcere por 30 dias. Depois desse período, retornaram para o Brasil após darem depoimento por mais de uma vez e ser encerrada a fase de instrução do processo. Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados em 1989, portanto dois anos depois do episódio. A Justiça suíça condenou os brasileiros a 15 meses de prisão e a pagamento de US$ 8 mil. Mas eles nunca cumpriram a pena estipulada para o crime, que prescreveu em 2004. Fernando foi condenado a três meses de prisão e ao pagamento de US$ 4 mil por ser considerado cúmplice.
Cuca foi enquadrado no antigo artigo 187 do Código Penal da Suíça, que prevê prisão de até cinco anos por envolvimento em um ato sexual com uma criança menor de 16 anos. A Justiça entendeu que não houve violência por parte de Cuca e dos outros jogadores, mas sim “coerção” e “fornicação”, segundo afirmou ao Estadão uma porta-voz do Tribunal Superior de Berna, responsável por dar a sentença há 34 anos.