‘Einstein e a Bomba’: 7 falas marcantes do cientista no novo documentário da Netflix
A Netflix, em parceria com a BBC, lançou o docudrama Einstein e a Bomba na última sexta, 16. O roteiro de Philip Ralph utiliza trechos de discursos, cartas e entrevistas de Albert Einstein (1879-1955). O Estadão apresenta sete das mais marcantes falas presentes no filme.
Sobre a obra
Apesar dos momentos de dramatização preencherem boa parte do documentário – em que Einstein ganha vida na interpretação de Aidan McArdle – as frases do cientista alemão ganham destaque e ajudam a refletir sobre o contexto da época: o cenário de uma Segunda Guerra Mundial prestes a eclodir, com a intensa perseguição a judeus na Alemanha comandada pelo nazismo.
Mesmo sendo um cientista midiático, graças à sua teoria da relatividade, Einstein – que tinha origem judaica e era antinazista – não ficou incólume à perseguição. Precisou partir da Alemanha para Norfolk, na Inglaterra, onde tentava se adaptar com o assédio da imprensa e a ameaça iminente do fascismo para o mundo.
Contexto
Em 2 de agosto de 1939, antes de Einstein se tornar cidadão norte-americano, uma carta assinada por ele e redigida por Szilard foi enviada ao presidente Franklin D. Roosevelt. Ele alertava sobre a possibilidade de o regime nazista desenvolver bombas atômicas e sugeria que os Estados Unidos acelerassem suas pesquisas na área.
A carta, entregue a Roosevelt por Alexander Sachs, um conselheiro próximo ao presidente, em outubro de 1939, foi catalisadora para a ação do governo. Embora a resposta inicial tenha sido cautelosa, o alerta de Einstein e Szilard eventualmente levou à criação do Comitê Consultivo para o Urânio, marcando o início do Projeto Manhattan, tematizado no filme de Christopher Nolan, Oppenheimer.
Oppenheimer
O docudrama da Netflix serve como ponte para a narrativa de Oppenheimer, filme com mais indicações no Oscar deste ano. Enquanto a obra de Nolan se concentra na figura central do Projeto Manhattan, Einstein e a Bomba examina a contribuição indireta de Einstein para o início do projeto, enfatizando as implicações morais e éticas do desenvolvimento de armas nucleares.
Einstein pode não ter estado presente em Los Alamos – mas suas ideias certamente estavam lá. Assim, o documentário da Netflix tenta trazer respostas que o espectador de Oppenheimer possa ter buscado.
“Quando criança, aos 4 ou 5 anos, meu pai me mostrou uma bússola. Esta experiência me marcou profundamente. Como esta agulha se comportava de forma tão determinada, algo profundamente escondido tinha que estar por trás das coisas… A coisa mais linda que podemos experimentar é o mistério.”
No trecho, o cientista relembra os primeiros questionamentos sobre o mundo que deram vazão a suas pesquisas.
Einstein confessa que, quando era criança, queria apenas ficar em um canto, sem que o mundo lhe prestasse atenção. De repente, ele estava diante dos olhos de um planeta dividido, onde sofria ameaças de morte.
“Eu cometi um grande erro na vida. Se eu soubesse que os alemães não conseguiriam produzir uma bomba atômica, eu não teria participado da abertura dessa caixa de Pandora.”
A frase aparece nos primeiros minutos do docudrama, e serve como catalisadora para o porvir da narrativa.
“Não consigo entender a resposta passiva de todo o mundo civilizado a essa barbárie moderna.”
Einstein opina que, em contextos extremos, a resposta a um conflito ético e mortal deveria ser uma organização capaz de combater essa realidade. A paz, para ele, era missão e não apenas idealização.
Como o próprio disse: “O silêncio faria com que me sentisse culpado por ser cúmplice”.
“O atual estado da Alemanha é um estado de perturbação psíquica das massas. Hitler pegou párias humanos nas ruas e nas tavernas e os organizou em torno de si mesmo.”
No trecho, o cientista reflete sobre o que estava acontecendo em seu país natal com a ascensão de Hitler, e quais os riscos que isso representava para a liberdade e a segurança dos povos.
“Não sou apenas um pacifista, mas um pacifista militante.”
Einstein declarava-se antiguerra, mas, diante do contexto que se emergia na Alemanha, estava convicto que a força organizada e militarizada do fascismo alemão só poderia ser combatida com outra força organizada.
Assim, o cientista refletia sobre a realidade de sua nação, que, naquele momento, não tinha mais espaço para os valores que ele considerava irrefutáveis: a liberdade religiosa e cultural dos povos.
“Se eu estivesse errado, a opinião de um professor seria o bastante”.
No contexto do filme, a célebre frase – “se estivesse errado, bastaria um” -, é uma resposta à política da Alemanha nazista, que questionava os estudos do cientista. Quando informado que 100 professores nazistas taxaram sua teoria como incorreta, ele, então, afirma que, caso estivesse mesmo errada, bastaria um professor para confrontá-la.
Além de mostrar que seus resultados só foram alcançados após testes e experimentos – ou seja, comprovados – Einstein parece acenar para um processo científico – que se popularizaria após a II Guerra – de revisão pelos pares. Sobretudo, o cientista coloca em xeque a opinião de quem duvida de seu objeto de pesquisa mais por ter valores contrários ao dele do que pelos resultados atingidos.
“As perguntas cruciais de hoje são: como podemos salvar a humanidade e seu patrimônio cultural? Como podemos proteger a Europa de mais desastres? Descontentamento gera ódio. E o ódio leva a atos de violência e até guerra.”
Trecho do discurso de Einstein de 1933 em Albert Hall, Londres, para a conferência “Ciência e civilização”, que foi visto como uma resposta ao fascismo que se formava.
Méritos
Um dos grandes méritos de Einstein e a bomba é se debruçar sobre a humanização do maior cientista do século 20. Mesmo ele, considerado gênio, se frustra com o que considera ter sido seu maior erro de cálculo: abrir a “caixa de Pandora” da bomba atômica.
Ao longo da narrativa, vemos que o cientista demonstra ser demasiadamente humano ao falhar, se arrepender e refletir sobre suas próprias convicções e sua missão como cidadão de um mundo em crise.