• Com humor e leveza, ‘Todo Mundo Ama Jeanne’ reflete sobre luto, solidão e liberdade

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  • 10/fev 19:19
    Por Matheus Mans / Estadão

    O mundo de Jeanne (Blanche Gardin) está de ponta cabeça. Todos a amavam, até que um projeto fracassado fez com que todos passassem a odiá-la – ou, pelo menos, é isso que ela pensa. É nesse momento de fragilidade que outra tragédia se abate sobre ela, com a morte repentina da mãe.

    Tudo dá errado. E mesmo com uma história tão pesada, a diretora Céline Devaux consegue fazer humor em Todo Mundo Ama Jeanne, estreia desta quinta-feira, 8.

    Estreia da francesa na direção de longas, o filme pode parecer incoerente em um primeiro momento – afinal, como uma história tão pesada pode ser tratada com humor e leveza? A personagem se sente a pessoa menos importante do mundo e ainda é impelida a ir para Lisboa, capital de Portugal, para resolver o apartamento da mãe que ficou de herança. É a sua última esperança de arranjar algum dinheiro para viver, já que está ficando falida.

    “A ideia surgiu a partir das minhas viagens para Portugal durante a crise do país em 2010”, diz ela, em entrevista ao Estadão. Céline conta que, naquele período, começou a ver amigos se desfazendo de imóveis enquanto os salários eram impactados por uma inflação muito alta.

    Foi um sentimento generalizado que ela captou no país e no resto do continente naquele momento. “Pensei que seria interessante focar em uma certa ilusão que existia na Europa e nesse ângulo político. Essa foi basicamente a primeira coisa que me interessou.”

    Um filme com algo a dizer

    Esse é o ponto de partida para a ida de Jeanne para Portugal, mas depois a cineasta e roteirista acrescentou mais coisas nessa história – como toda a trama de luto, a solidão que ela sentia e até mesmo esse clima de cancelamento que a ronda, uma discussão moderna.

    Essa firmeza toda que sentimos na tela é algo mais construído do que realmente um fato do que se passa com a diretora. Ela afirma, categoricamente, que não sabe lidar com nenhum desses assuntos que trata na tela.

    “Eu não lido com isso. Não consigo. Por isso escrevi sobre esses sentimentos”, diz a diretora. “Escrevi sobre o que mais me assustava, sobre o medo do futuro para o planeta, sobre o luto, que é algo que me assusta imensamente. Pensei: ‘vamos pegar todos esses temas e fazer algo estranho e divertido com isso'”.

    Mistura de linguagens

    Nem parece, para o espectador, que esta é a primeira experiência de Céline como diretora de um longa. Além de ser um bom filme, Todo Mundo Ama Jeanne transpira firmeza: a cineasta domina os temas e, sabendo que seria exagerado tratá-los a partir de realismo, faz uso do recurso da animação.

    É isso mesmo: a francesa, que já tem experiência com essa linguagem, usa das cores e dos traços para dar vida aos pensamentos de Jeanne. Segunda a diretora, essa ideia de usar a animação como recurso de linguagem, a partir das ideias e sentimentos da protagonista, veio naturalmente.

    “A animação foi literalmente o meu primeiro trabalho”, conta Céline. “Todas as animações do filme foram feitas por mim. Foi algo que gostei muito de fazer. Percebi que passei um bom tempo comigo mesma”.

    Agora, para novos projetos, Céline quer voltar ao mundo da animação “Estou com dois novos projetos: um feito inteiramente com atores e outro feito inteiramente com animação”, conta ela. “Quero fazer os dois ao mesmo tempo. Vamos ver se isso vai funcionar.”

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