Saúde mental
Para início da nossa prosa, vale salientar que o conceito de “saudável” não se restringe à ausência de doenças relacionadas ao aspecto físico do nosso organismo. O nosso bem-estar só se torna pleno quando também envolve a parte mental e ambiental. Nesta, estão inclusos o ambiente geográfico e social.
Sabemos que várias pessoas apresentam uma preocupação maior com a estética. São frequentes os procedimentos cirúrgicos em busca de uma “harmonização facial”. Essa “harmonização” deve ser ampla. Além da face, deve envolver a mente, o ambiente social e o equilíbrio do ecossistema.
“Mente sã em corpo são” (mens sana in corpore sano). Essa citação latina expõe a ideia de que a saúde do espírito é essencial para a saúde do corpo. Hoje o conceito de “vida saudável” envolve também as relações sociais harmoniosas. O ambiente também precisa estar equilibrado. As relações tóxicas, as agressões à natureza são prejudiciais ao equilíbrio do nosso organismo.
A campanha do “Janeiro Branco” foi de extrema importância, uma vez que evidenciou sérios problemas que estão relacionados à saúde mental e emocional das pessoas que vivem em ambientes estressantes.
Tem-se registrado um crescente número de profissionais que precisam se afastar do trabalho em razão da Síndrome de Burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional). A hostilidade no ambiente de trabalho desestabiliza, provoca a queda na produtividade. Estima-se que, no Brasil, em cada 100 pessoas, 30 apresentam ou estão propensas a ter problemas relacionados à instabilidade emocional que prejudica o rendimento laboral. Um dos fatores que contribui para isso está vinculado à exaustão extrema imposta pelo cumprimento de metas. Os casos de depressão, ansiedade, transtorno do pânico estão nas raízes desses problemas que afetam tais profissionais.
As reflexões sobre a importância da saúde mental exposta pela campanha “Janeiro Branco” não se limitam à pessoa física, são também apresentadas discussões que envolvem as pessoas jurídicas. A relação entre “CNPJ” e “CPF” precisa ser humana. Não basta pendurar um crachá no pescoço do colaborador e tratá-lo como uma peça na engrenagem da linha de produção. Não são os números que precisam ser colocados em primeiro plano. A produtividade vem quando os colaboradores trabalham em ambiente saudável, motivados, sem a cobrança excessiva e ameaçadora. O clima organizacional harmonioso de uma empresa perpassa pela valorização e promoção de seus funcionários. Não se trata apenas da questão salarial, mas também do respeito ao profissional.
Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), apenas 18% das empresas do país têm um programa de saúde mental. Isso revela uma negligência também no campo empresarial. Algumas empresas demitem funcionários como quem troca peça de automóvel: se desgastou, troca por outra.
Quando o lucro, a qualquer custo, é colocado acima de tudo, quando não há a mínima preocupação com o ser humano no ambiente de trabalho, a probabilidade dos colaboradores serem afetados pela Síndrome de Burnout é grande.
O trabalho em equipe requer interação solidária, em que o cuidado com o bem-estar do outro deve estar entre as metas almejadas. A competência responsável consiste em estabelecer lideranças, mantendo o respeito e a valorização dos colaboradores. O afeto também pode ser mantido no ambiente profissional. Quem desenvolve a capacidade de compreender tem mais facilidade de motivar, sabe aproveitar melhor o potencial de quem está na equipe de trabalho. O companheirismo é imprescindível.
Um outro ponto, não menos importante no que se refere ao bem-estar pleno do ser humano, encontra-se na espiritualidade. A fé ajuda na resiliência, na resignação. Carl Gustav Jung, um dos mais influentes psicanalistas, afirmou:
“Entre todos os meus pacientes na segunda metade da vida, isto é, tendo mais de 35 anos, não houve um só cujo problema mais profundo não fosse constituído pela questão da sua atitude religiosa. Todos, em última instância, estavam doentes por terem perdido aquilo que uma religião viva sempre deu aos seus adeptos, e nenhum se curou realmente sem recobrar a atitude religiosa que lhe fosse própria.”
Em síntese, o corpo, a alma, a mente, o ambiente geográfico e social precisam ser saudáveis. A harmonia plena do ser humano está intrinsicamente legada à conjugação do verbo “Amar”: amar a Deus, amar a si, amar o que se faz, amar o próximo, amar a Natureza e ter a consciência de que ninguém é feliz sozinho.