O militar sem arma
Em razão de nossa passagem por órgãos públicos, por força da profissão abraçada, tivemos oportunidade de conhecer e de manter tratativas com algumas pessoas de personalidades absolutamente diferentes.
Em decorrência disso, a grande verdade é que granjeamos mais colegas do que amigos, embora esses últimos, ainda que não muitos, foram sempre sinceros e por nós admirados e respeitados, sendo que numa dessas ocasiões tivemos nosso pai conosco trabalhando, uma vez que já se encontrava aposentado de sua atividade principal.
Percebemos que muitos dos colegas a nós se chegavam com a finalidade precípua de serem ajudados, em certas circunstâncias muito especiais, em seus anseios profissionais ou em dificuldades pelas quais atravessavam.
Na medida de nossas possibilidades buscávamos atendê-los vez por outra recorrendo a nossos superiores eis que, muitas das vezes escapava de nossa alçada atender ao pleito solicitado.
Porém, nunca negamos ajuda ao próximo até porque também fomos ajudados em certos momentos difíceis de nossa vida profissional.
Assim é que continuamos a prosseguir em nossa caminhada com a cabeça sempre erguida, sendo que os maus passaram e nós permanecemos juntamente com muitos outros, decorrentemente de situações vividas, algumas até muito delicadas.
E por força desses momentos por nós atravessados, lembramo-nos de trazer à colação a lição do poeta quando escreveu: “a qualquer um, procura fazer o bem. Se não puderes fazê-lo, não faças mal a ninguém”. E nós vimos trilhando essa trajetória com muito orgulho e paz no coração.
Em um desses órgãos por onde passamos, convivemos com muitas pessoas, porém uma delas nos marcou por suas atitudes rígidas, típicas de como se militar fosse.
Chefiava um grupo de servidores e não eram poucos e os mesmos acatavam às suas ordens e determinações com absoluta obediência, até porque o grupo tinha sob sua responsabilidade o cumprimento de importantes atividades junto à empresa pública, inclusive com a finalidade de zelar pela segurança e a incolumidade de servidores do corpo técnico da entidade, advindos do exterior.
E caso assim não ocorresse o chefe se imbuía de atitudes próprias afirmando com veemência: “tudo consoante o Regulamento”.
Tratava-se de um servidor civil, rígido mesmo em suas atitudes, porém, com decisões e modos de agir bem semelhantes aos militares em seus quarteis.
Pois bem, o poeta não perdeu tempo e escreveu: “com guerra, bala, espingarda, sonhou… embora civil. Foi um soldado, sem farda, um soldado, sem fuzil.”
O país deve muito a essa pessoa, foi um batalhador, cumpridor de suas obrigações e sobretudo um formidável companheiro de trabalho, eis que muitas lições pudemos colher do “militar sem arma”, que comungou conosco, por vezes, ao acolher solicitações de seus subalternos sempre com o objetivo de fazer justiça e de ajuda ao próximo.