• Alcoólicos Anônimos: os 12 passos e o caminho para a sobriedade

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  • 07/jan 08:47
    Por Manoelle Rocha

    A vice-presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil (JUNAAB), Gabriela Henrique, é psicóloga com especialização em dependência química pela UNIFESP; pós-graduada em terapia cognitiva comportamental, além de ser membro associado, certificada pela Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) por titulação e experiência na área de transtorno por uso de substâncias e dependências comportamentais. Também possui formação pioneira em Psicologia Positiva no Brasil e ocupa a função de diretora executiva da Psicuide Clínica e Consultoria.

    Gabriela, que coopera há 25 anos com A.A., concedeu uma entrevista exclusiva à equipe da Tribuna, falando sobre a importância da divulgação do trabalho de Alcoólicos Anônimos, sobre como os 12 passos podem ajudar os alcoólicos à alcançarem uma vida melhor e de abstinência.

    Ela fez ainda um panorama sobre os 88 anos de A.A. no mundo e 76 anos no Brasil, esclareceu pontos da síndrome de dependência do álcool e pontuou particularidades sobre Petrópolis e da região serrana.

    O A.A.

    Alcoólicos Anônimos surgiu em 1935, e atualmente está presente em mais de 180 países. De acordo com a psicóloga, A.A. é uma associação civil de direito privado sem fins lucrativos.

    Alcoólicos Anônimos é uma irmandade de pessoas que compartilham, entre si, suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo.

    O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber. Não existe cobrança de taxas ou mensalidades. A.A. é autossuficiente, devido às contribuições feitas pelos próprios membros, que as realizam de maneira espontânea e quando podem, sem nenhuma obrigação.

    Além de não entrar em controvérsia pública, a associação não é ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição.

    O propósito primordial é manter a sobriedade e ajudar para que outros alcoólicos também a alcancem. 

    Reuniões e os 12 passos de A.A.

    Gabriela contou que as reuniões são iguais em qualquer lugar no mundo, que existe um padrão, se um membro quiser e precisar. Existe uma reunião exatamente da mesma maneira que aquela que ele costuma frequentar.

    “Se um membro de Petrópolis estiver em São Paulo e for a um encontro na cidade, ele vai encontrar uma reunião exatamente da mesma maneira que aquela de Petrópolis”, contou a vice-presidente.

    Ela explica que Alcoólicos Anônimos é uma parceria, porque a reunião de recuperação é composta por um grupo de pessoas em mútua ajuda, ou seja, um ajuda o outro.

    Foto: Reprodução

    Gabriela afirma que a troca de experiências vividas, tanto no período da ativa, quanto no de recuperação, é a maneira como os membros se ajudam.

    Ao mesmo tempo, é também uma troca das conquistas. As pessoas relatam aquilo que conseguiram seguindo os passos de A.A., como por exemplo, a sobriedade há 10 anos.

    Os membros falam também sobre as dificuldades que encontraram para ficarem sóbrios de primeira e as recaídas que tiveram, mas contam que quando começaram de fato a frequentar as reuniões e começaram a fazer terapia, o panorama melhorou. Da mesma forma que aqueles que chegam à reunião e contam que recaíram servem de exemplo para que os demais vejam como ficavam quando bebiam.

    Ela falou sobre a importância do exemplo, que é um dos lemas de A.A., citando uma frase muito utilizada pela irmandade: “o exemplo não é melhor maneira de convencer, é a única”.

    Segundo a psicóloga, ninguém para de beber por que a esposa, marido, amigo, ou familiar falou para parar, por estar brigando todos os dias com aqueles que vivem próximos ou por ter sido mandado embora do emprego. As pessoas só param de beber quando, de fato, chegam a um fundo de poço emocional. Quando elas entendem e admitem que não conseguem lidar com a bebida alcoólica, que elas perderam para álcool.

    Gabriela pontua que ingressar em A.A. e parar de beber não muda o comportamento prejudicial que as pessoas adquiriram durante o período que bebiam.

    “Parar de beber é uma coisa, entrar em recuperação para alcançar a sobriedade emocional é outra”, explicou.

    Ela pontuou que a prática de cada passo, é um programa de recuperação de vida, de mudanças de hábitos, para resgatar qualidade de vida, é uma reformulação da vida.

    Anonimato

    Com o passar dos anos o anonimato provou ser uma das maiores contribuições que A.A. oferece ao alcoólico que ainda sofre. Sem ele, muitos nunca assistiriam a sua primeira reunião.

    Embora o estigma tenha, até certo ponto, diminuído, a maioria dos recém-chegados ainda acha a admissão de seu alcoolismo tão dolorosa que prefere fazê-lo num ambiente protegido.

    Grabriela explica que quando se fala em anonimato, assegura as pessoas que elas podem ir à uma reunião do A.A. e que há um sigilo entre as pessoas que frequentam.

    Ela explica que a pessoa em recuperação é anônima, mas Alcoólicos Anônimos, não.  

    “O membro é anônimo, A.A., não, pelo contrário, deve ser divulgado para ajudar mais pessoas que tem problemas com bebida alcoólica”.

    Síndrome de dependência do álcool

    De acordo com Gabriela, a síndrome de dependência do álcool está na classificação internacional de doenças dentro da psiquiatria e é uma compulsão.

    Uma das características da compulsão é a perda do controle, é justamente o começar e não ter controle para parar.

    “Uma vez modificada a neuroquímica cerebral, a pessoa se torna compulsiva, isso é progressivo, o alcoolismo é progressivo”, explicou a psicóloga.

    Ela ressalta que na ciência existem três fases: uso, abuso e dependência.

    “Todo mundo começa usando aleatoriamente, ainda jovem para experimentar, para fazer um brinde, para ver o sabor, só que se a pessoa vai repetindo isso, ela é uma usuária”, afirmou.

    A psicóloga aponta a importância das pessoas saberem que mesmo sendo incurável, a síndrome de dependência do álcool tem tratamento e pode ser estacionada.

    “Tem como estacionar frequentando as reuniões de A.A., conhecendo e praticando os 12 passos, tendo conhecimento, trocando experiências com as pessoas de um grupo de mútua ajuda, transformando e criando novos hábitos”, declarou a vice-presidente.

    Como identificar a dependência alcoólica

    Gabriela informou que as pessoas conseguem identificar a dependência alcoólica observando a continuidade, a frequência e a quantidade.

    Não é só o excesso. A frequência e a continuidade também importam.

    “A pessoa só bebe sexta-feira, mas quando bebe exagera e perde a linha ou a pessoa alega beber somente duas ou três latinhas no máximo, mas toda noite. Essa pessoa também é dependente do álcool”, evidenciou.

    Al-anon

    Gabriela destacou a importância da associação Al-Anon, que é uma associação de parentes e amigos de alcoólicos que compartilham suas experiências, força e esperança, a fim de solucionar os problemas que eles têm em comum.

    A associação acredita que o alcoolismo é uma doença que atinge a família e que uma mudança de atitude dessas pessoas pode ajudar na recuperação dos alcoólicos.

    Assim como A.A., Al-anon pratica os 12 passos e é fundamental para ajudar e orientar como devem proceder, aqueles que convivem com uma pessoa alcoólica. A psicóloga ressaltou a importância dos familiares e amigos de pessoas alcoólicas estarem bem e preparados para lidar com as situações do dia a dia.

    “Frequentar o Al-anon, é uma maneira do familiar ou amigo aprender a lidar com o comportamento alcoólico, por que essas pessoas que convivem muito próximo acabam adoecendo, só que emocionalmente. É o que chamamos de dependência emocional ou codependência”, destacou.

    Verão, Férias e A.A.

    Gabriela contou que o verão, o período de férias e o carnaval, são períodos de grande apelo ao consumo de bebidas alcoólicas.

    Segundo ela, os membros de A.A. devem criar mecanismos e estratégias de proteção para atravessar esses momentos sem prejuízos. Ela indica que o membro de Alcoólicos Anônimos, cria essas proteções através da frequência nas reuniões de recuperação e também através do contato com seus padrinhos ou madrinhas, que são as pessoas que aqueles que entraram agora, enxergam como um exemplo e eles escolhem ser apadrinhados por essas pessoas, se os mesmos concordarem. 

    É preciso que eles estejam atentos para essas épocas e situações, onde o índice de recaídas é maior e muitos não se preparam para estes momentos.

    “Se sentirem vontade de beber, por exemplo, não devem ir a determinada festa. Caso estejam em um lugar e a vontade de beber surgir, devem ir embora. Nestas épocas do ano, os membros podem também aproveitar a vasta literatura de A.A.”, orientou Gabriela.

    Ela ressaltou ainda a importância de não se testar e contou que as recaídas acontecem devido à crença de muitos de que se for só aquele dia, se for só aquele momento, não haverá problemas.

    Mesmo nas férias, aqueles que viajam tem a possibilidade de participar de reuniões.

    No site do A.A. e no aplicativo AA RJ, as pessoas podem consultar o endereço, telefone e horários das reuniões da cidade que estiver, caso não seja possível participar presencialmente, eles podem assistir as reuniões online.

    “Se não puder sair de casa, você tem acesso a uma reunião pelo seu celular ou computador”, ela acrescentou.

    A.A. e a Pandemia

    A psicóloga conta que na pandemia houve um fortalecimento das reuniões online, uma vez que muitos grupos físicos tiveram que fechar, seguindo as recomendações do período. Desta forma, as reuniões à distancia aumentaram em todos os lugares do Brasil, permitindo que as pessoas se mantivessem em recuperação e sóbrias.

    Ela pontuou que com isso, ocorreu a possibilidade de verem um ingresso muito maior de mulheres e jovens por conta das reuniões online.

    “Quase metade das pessoas que ingressaram em A.A. eram mulheres e jovens”, indicou.

    Lema – Ficar sóbrio, útil e feliz.  

    De acordo com Gabriela, a pessoa resgata a sobriedade, que não é só da embriaguez, é também o resgate de uma sobriedade emocional e psicológica.

    A pessoa passa a ser útil, volta a pensar e raciocinar melhor.

    “Eles voltam a ter felicidade, pois conseguem obter conquistas, resgatar relacionamentos. Então acho que é um dia por vez, mas funciona”.

    Reuniões de propósitos especiais

    De acordo com Gabriela, existem as reuniões de propósitos especiais, voltadas para as minorias. Elas funcionam do mesmo jeito que as outras reuniões e são voltadas para que esses grupos se sintam mais a vontade em partilhar suas experiências.

    Essas pessoas podem procurar dentro de A.A. esses encontros que abrangem o público feminino, negro, lgbtqia+, entre outros.

    “Essas reuniões são para somar e não para dividir”, explicou a psicóloga.

    A.A. e Petrópolis

    Em novembro de 2023 o A.A. completou 60 anos em Petrópolis. A vice-presidente indicou que em regiões mais frias, como a região serrana, há um maior consumo de bebidas alcoólicas.

    Atualmente, existem na cidade 12 grupos de A.A. e cerca de 25 reuniões são realizadas por semana.

    “O verão é um grande período festivo no Brasil, as férias, o que acaba gerando um consumo maior de bebidas alcoólicas. Por isso, os grupos de Alcoólicos Anônimos oferecem mais horários de reuniões e os membros se disponibilizam a trocar experiências com quem pede ajuda. A frequência de reunião, até o fim do Carnaval, fortalece a recuperação de quem busca sobriedade emocional e abstinência. Ajuda muito!” enfatizou Gabriela Henrique.

    Serviço

    Para localizar o grupo de recuperação mais próximo em Petrópolis, ligue para (24) 99943-1443 ou acesse: https://www.aarj.org.br ou baixe o aplicativo AARJ (link para o aplicativo: https://www.aarj.org.br/aplicativo).

    A primeira reunião de propósitos especiais em Petrópolis será realizada no dia 13 de janeiro, e será uma reunião de composição feminina.

    O encontro irá ocorrer no Grupo 27 de Maio A.A., das 16h às 18h, na Rua Bingen, 261 – Petrópolis.

    Para mais informações, as mulheres interessadas podem entrar em contato pelo Whatsapp (24) 99943-1443.

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