• O valor de uma vida

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  • 09/02/2019 12:00

    Às vezes, ficamos assim inertes diante da irreversibilidade do tempo, sem chance de reverter o destino. Talvez seja um clichê dizer que a morte encontra-se presente na culminância do trágico, porque não há tragédia sem morte. E esta expõe a face dos limites do homem. A impossibilidade de revertê-la está no cerne da profunda dor de quem perde um ente querido. E o amor revela a profundida da perda. 

    A morte dos meninos do Flamengo deixou o coração dos torcedores mais negro do que rubro, pelo luto e pela tristeza de ver o sonho de jovens em cinzas.

    A tragédia de Brumadinho deixará feridas abertas eternamente, pois várias famílias não terão nem o consolo de velar os seus entes queridos soterrados na lama do rompimento da Barragem 1 do Córrego do Feijão. Muitos serão considerados desaparecidos, porque os corpos não serão encontrados. 

    – Quanto custa essa dor? Tem preço a vida? As ações da Vale S.A valem uma vida?

     Lembro, quando criança, em uma aula de preparação para a 1ª comunhão, perguntei à professora de catecismo o que era “omissão”, quando ela falava do ato penitencial. O “pequei por muitas vezes, por pensamento e palavras, atos…”, compreendi facilmente; o “por omissões” não entendia. Hoje sei que esse é um grande pecado e traz consigo a sórdida conivência de quem é aliciado pelo vil metal.

    A omissão está exposta na lama que desceu sobre a vida de tantas pessoas em Mariana, em Brumadinho e nas outras cidades que vivem na dependência econômica das mineradoras e sob o risco de serem devastadas pelo rompimento de outras barragens. 

    Se nenhuma providência for tomada, tragédias poderão se repetir, destruindo vidas, além de provocar graves danos à natureza. E, por analogia, é possível afirmar que outras lamas, com iguais nocividades, são despejadas pelas omissões que ocorrem na saúde, na educação e em vários setores públicos que sofrem com a falta de fiscalização. 

    Nos países em que a "propinocracia" reina, a impunidade abre espaço para as negligências, principalmente entre aqueles que detêm o poder econômico e acham que podem comprar até a justiça dos homens. É triste ver o povo padecendo em busca do que lhe é de direito. Não tem dinheiro que pague uma vida. As ditas “indenizações” são paliativas. São apenas satisfações sociais para amenizar a culpa dos responsáveis, não aliviam a dor de quem perdeu um ente amado.

    Dois escritórios de advocacia nos Estados Unidos entraram com ações coletivas de investidores contra a Vale S.A, em virtude do prejuízo que tiveram com a desvalorização dos papeis da companhia negociados nas Bolsas americanas. Eles perderam dinheiro em papeis e querem indenização. E quem teve parentes mortos? Será que o “prejuízo” dos acionistas é maior do que o “prejuízo” das famílias dos trabalhadores que foram soterrados? E os danos causados à natureza? Por onde a lama passou, vidas foram ceifadas. A mortandade de peixes foi imensa.  A população que vive à margem do rio Paraopeba ficou desolada. 

    No dia 05/02, a Fundação Oswaldo Cruz alertou para a possibilidade do surgimento de surtos de doenças como febre amarela, dengue, esquistossomose. Fato este que aconteceu na época do rompimento da barragem do Fundão em Mariana, em que o rio Doce foi drasticamente atingido. Isso se deve ao desequilíbrio do ecossistema da região. Por isso, a população precisa ser vacinada com urgência.

    Depois da tragédia ocorrida, vieram à tona as inúmeras falhas que havia na barragem de Brumadinho. Os omissos que tiveram implicações diretas nessa tragédia estão com as mãos sujas de lama e sangue de inocentes.

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