Rio 2065
A proposta de examinar como será a vida, no planeta Terra, especialmente no Rio de Janeiro, no ano de 2065, quando estaremos comemorando os 500 anos da cidade fundada por Estácio de Sá, nasceu de uma conversa com o Acadêmico e jornalista Cícero Sandroni. Preocupados com o futuro da humanidade e em particular com o que se passará com a cultura, entendemos que valeria a pena realizar esse empenho prospectivo, sem adivinhações inconsequentes.
Nossos estudos futurológicos contaram com a colaboração da equipe do Instituto Antares, sob a coordenação da professora Manoela Ferrari, formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Partimos, desde logo, do princípio de que não haverá, em nosso planeta finito, nenhuma possibilidade de crescimento sem limites.
Como se fosse uma plataforma de lançamento, estudamos detidamente o livro “2052 – Uma previsão global para os próximos 40 anos”, escrito com muita competência pelo especialista norueguês Jorgen Randers, o mesmo que desenvolveu o notável trabalho intitulado “Os limites do crescimento”, sob encomenda do Clube de Roma, lançado em 1972. Esse trabalho foi trazido ao Brasil pelo professor Heitor Gurgulino de Souza.
Jorgen Randers, especialista em questões climáticas, planejamento de cenários e dinâmica dos sistemas, tenta vislumbrar como será a nossa vida daqui a 40 anos – e para isso contou com a colaboração de 40 autores.
São pensadores que se debruçaram sobre áreas como economia global e recursos. As previsões foram feitas a partir de modelos de computador, mas têm uma característica eminentemente humana. Prevê-se, por exemplo, que em 2052 a concentração de CO2 na atmosfera continuará aumentando e a temperatura em geral crescerá mais de 20 C. Mesmo assim produziremos a comida de que necessitaremos, embora seja possível a existência de baques em relação ao milho nos Estados Unidos e ao trigo na Índia.
Disse Randers: “Os jovens pagarão caro pelas pensões dos seus pais, além de enfrentar desemprego alto e habitação cara. Isso poderá provocar uma grande revolta.”
Ele criticou os excessos praticados: “Em alguns casos, haverá colapsos localizados antes de 2052, como a provável perda de recifes de coral e do atum.” Mas garante que a partir de 2030 a humanidade começará a diminuir as emissões globais. A insustentabilidade do nosso planeta finito estará dentro de limites perfeitamente suportáveis.
No livro, Jorgen Randers afirma que os Brics continuarão a crescer, mas o maior fenômeno de expansão será o da China, “porque é capaz de agir”. Randers acha que os Estados Unidos entrarão em clima de estagnação. A população mundial atingirá um pico de 8,1 bilhões, em 2040, e depois diminuirá. A pesquisa apresenta um dado aterrador: em 2052, o mundo terá mais de 2,1 bilhões de pobres.
O estudioso norueguês prevê um significativo aumento dos investimentos sociais nas próximas décadas, “mesmo que seja em resposta a crises. Isso não impedirá que haja muito sofrimento, principalmente devido a mudanças climáticas desenfreadas.” Consequência da existência de uma população mais urbana e menos inclinada a proteger a Natureza.
Há o natural receio de que, em 2080, as temperaturas terão aumentado 2,80 C, nível suficiente para iniciar um aquecimento global autossustentado, o que não é nem um pouco desejável, segundo nos disse o professor Heitor Gurgulino de Sousa, que foi reitor da Universidade da ONU, em Tóquio, e acompanha de perto os estudos realizados pelo Clube de Roma. Segundo ele, esse tipo de controle é desejável, mas para isso se torna indispensável que o mundo acorde, sobretudo nas escolas de todos os níveis, para a necessidade imperiosa de uma vigorosa campanha de conscientização ecológica.