Projeto Meu Pão ajuda a emancipar comunidade
“Enquanto a massa cresce as histórias são contadas”. Foi assim que uma receita de família começou a dar empoderamento e alimentou o potencial social de toda uma comunidade, oferecendo uma segunda fonte de renda e, assim, oportunidade de uma vida mais digna para os moradores de Três Picos. A comunidade fica na entrada do Parque Três Picos, que abrange os municípios de Teresópolis, Guapimirim, nova Friburgo, cachoeiras de Macacu e Silva Jardim.
A oficina ensina a colocar a mão na massa e fabricar o "Meu Pão" – porque cada um é diferente. Foto: Anita Soares
Há oito anos, Tânia Carvalho levou para a comunidade um projeto que nem ela mesma tinha se dado conta que tinha criado: a Oficina Meu Pão. Por meio de encontros, Tânia conseguiu despertar nos próprios moradores da área rural de Três Picos o empreendedorismo e o turismo comunitário. A promoção da cultura e gastronomia locais, além de gerar renda, deu independência e propiciou autoestima para os moradores.
As iniciativas começam no pão, mas são feitas broas, geleias, doces e todo tipo de produtos, frutos do que é plantado e colhido na própria comunidade. Nessa corrente, Tânia morou por cinco anos em Três Picos, montou uma pequena hospedagem e plantou a semente do turismo de base comunitária.
“As famílias começaram a produzir os próprios produtos e a vendê-los aos visitantes, fazendo circular a renda dentro da própria comunidade. Na hospedagem só era oferecido o café da manhã e uma sopa ou caldo no jantar, para que durante o dia os turistas aproveitassem a experiência que era oferecida pelos moradores”, contou.
Dos cinco grãos que leva a receita, um deles é sempre incluído de acordo com a necessidade de quem vai comer. Foto: Anita Soares
Assim, o turismo de experiência fazia o visitante viver um pouco o cotidiano da comunidade. As atividades eram as mais diversas, alguns agricultores ofereciam a horta para que o turista pudesse plantar, o que deu a chance de cultivar novos relacionamentos entre os visitantes e os agricultores. A renda que, na maioria dos casos, ficava concentrada no sustento da família, passou a ser dividida em casa. Deu independência às mulheres e experiências que muitas nunca tiveram antes na vida.
“Uma das situações que me emocionaram foi quando uma das moradoras tinha conseguido, com a renda da venda de seus produtos, ir a um salão de cabeleireiro pintar os cabelos. E ainda comprou um conjunto de sapato e cinto. Essa foi a primeira vez que fez isso, em 42 anos. Antes toda a renda que ela tinha era destinada para a casa e o marido, agora ela tem a própria renda para gastar com ela”, contou Tânia.
Com um diálogo de empoderamento, Tânia despertou o mais simples que as pessoas tanto precisam, nas palavras dela. E não parou por aí: depois de cinco anos, com a comunidade caminhando com as próprias pernas, foi hora da Oficina Meu Pão partir para outro lugar.
As iniciativas começam no pão, mas são feitas broas, geleias, doces e todo tipo de produtos. Foto: Anita Soares.
Além da oficina itinerante, o projeto hoje acompanha uma comunidade em Barra Velha, na Bahia, promovendo o turismo de base comunitário, e aqui em Petrópolis, na comunidade do Quilombo da Tapera, no Vale do Cuiabá, estimulando a cultura e culinária local.
Funcional: o pão não só alimenta mas cria e fortalece laços
Na Oficina Meu Pão é ensinado a colocar a mão na massa e a fabricar o Meu Pão. Isso porque cada um é diferente. Dos cinco grãos que leva a receita, um deles é sempre incluído de acordo com a necessidade de quem vai comê-lo. Ervas, açúcar mascavo, farinha integral e totalmente vegano, quase personalizado. Talvez esse seja o segredo que faz o pão tão especial.