• Após explosão em hospital, médicos de Gaza fazem cirurgias no chão para tentar salvar vítimas

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  • 18/10/2023 12:42
    Por Redação O Estado de S. Paulo / Estadão

    Confrontados com a escassez de suprimentos hospitalares, médicos na Cidade de Gaza realizaram cirurgias no chão, muitas vezes sem anestesia, em uma tentativa desesperada de salvar vítimas gravemente feridas pela explosão que matou civis abrigados em um hospital na terça-feira, 17.

    Nesta quarta-feira, 18, palestinos continuavam encontrando corpos no hospital devastado. “Nunca vi nada parecido na minha vida”, diz Ahmed Tafesh, depois de horas recolhendo restos humanos. Entre os veículos queimados, voluntários recolhem corpos e restos mortais e os colocam em sacos para cadáveres, enquanto outros corpos são enrolados em cobertores e invólucros brancos.

    Ghassan Abu Sitta, cirurgião plástico que trabalha no Al-Alhi, disse ter ouvido uma forte explosão e o teto de sua sala de cirurgia desabou. “Os feridos começaram a tropeçar em nossa direção”, escreveu ele em uma conta postada no Facebook. Ele viu centenas de pessoas mortas e gravemente feridas. “Coloquei um torniquete na coxa de um homem que teve sua perna arrancada e depois fui cuidar de um homem com uma lesão penetrante no pescoço.”

    Autoria do ataque

    A explosão no hospital Al-Ahli aumentou a tensão na guerra entre Israel e os terroristas do Hamas e gerou uma troca de acusações.

    O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governado pela ala política do Hamas, responsabilizou o governo de Israel pela explosão, gerada pela queda de um foguete. O exército israelense, por sua vez, disse que o hospital não estava entre os seus alvos e responsabilizou a Jihad Islâmica, um outro grupo palestino, como autor do disparo.

    Nesta quarta, Israel divulgou uma gravação de uma suposta ligação interceptada entre dois integrantes do Hamas, na qual discutem como o hospital Al-Ahli teria sido atingido por um foguete fracassado disparado de dentro da Faixa de Gaza. “Estão dizendo que (o foguete) pertence à Jihad Islâmica Palestina”, diz um dos terroristas.

    Em visita a Tel Aviv, o presidente dos EUA, Joe Biden, endossou a versão de Israel. “Fiquei profundamente triste e indignado com a explosão em um hospital de Gaza ontem. E, pelo que vi, parece ter sido obra do outro lado”, disse Biden ao primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu.

    A Jihad Islâmica nega a autoria do disparo. As autoridades de saúde do enclave, governado pelo Hamas, disseram que 471 pessoas morreram com a explosão.

    Imagens gravadas por jornalistas locais mostraram o terreno do hospital repleto de corpos dilacerados, muitos deles de crianças pequenas, enquanto o fogo engolfava o prédio. A grama estava repleta de cobertores, mochilas escolares e outros pertences após o ataque.

    Yahya Karim, 70 anos, foi ao hospital nesta quarta-feira em busca de notícias de seus parentes. “Não sei quantos deles morreram ou quantos ainda estão vivos”, diz Karim, que considerou ficar no hospital antes da tragédia de terça-feira. Adnan al Naqa, outro residente de Gaza, disse que cerca de 2 mil pessoas estavam refugiadas no hospital na noite de terça-feira. “Todo o lugar estava em chamas, havia corpos por toda parte, crianças, mulheres e idosos”, diz Naqa.

    A diretora do hospital, Suhaila Tarazi, disse que as consequências da explosão foram “diferentes de tudo que eu já vi ou poderia imaginar”. “Nosso hospital é um lugar de amor e reconciliação”, disse ela. “Somos todos perdedores nesta guerra. E isso deve acabar.

    Ambulâncias e carros particulares levaram cerca de 350 vítimas para o principal hospital da Cidade de Gaza, al-Shifa, que já estava lotado de feridos de outros ataques, disse seu diretor, Mohammed Abu Selmia. Os médicos recorreram à realização de cirurgias no chão e nos corredores, principalmente sem anestesia.

    ‘Precisamos de tudo’

    “Precisamos de equipamento, precisamos de medicamentos, precisamos de camas, precisamos de anestesia, precisamos de tudo”, disse Abu Selmia. Ele alertou que o combustível para os geradores do hospital acabaria em poucas horas, forçando um desligamento total, a menos que os suprimentos entrassem na Faixa de Gaza. (Com agências internacionais).

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