• Marilda e nosso Natal

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  • 20/12/2018 16:35

    No ano de 2017 perdemos nossa irmãzinha caçula Marilda Duarte dos Santos que, casada com Vilnes Bersot, assumiu a identidade da família do cunhado. Professora, mãe, sensível artista plástica e escritora, publicou admirável livro “A História da Noite”, pela Editora Prumo, sucesso de vendas, com ilustrações primorosas de seu filho Alexandre Bersot. Marilda escreveu crônicas e presenteou a todos com criativos artesanatos de diversos materiais. Acima de tudo, grande amiga, serena alma, linda e preciosa criatura humana. Muita saudade!

    Para homenagear Marilda, reproduzo, adiante, sua crônica escrita em 1995, festejando o Natal, que ela adorava comemorar em reverência a fé cristã.

    A ela:

    “Com a chegada das festas do Natal, vem-me à memória a minha infância e a ansiedade com que era esperada esta grande festa cristã.

    A casa era preparada, lavada, encerada, tudo ficava como novo. Papai arranjava um belo cipreste e dele fazia a nossa Árvore de Natal. Como eu gostava de ajuda-lo a distribuir pelos galhos verdes as bolas multicoloridas, os castiçais com velas, as lâmpadas que ficavam piscando, dando à árvore um quê de irreal.

    Não faltava também o presépio no qual papai se esmerava. Com papéis grossos, sacos de cimento vazios, ele fazia a Gruta de Belém; pintava com tinta cinzenta e depois passava pó de cica adicionada à cola para que, sob o reflexo das luzes, brilhasse, dando a semelhança de pedra. Ficava tudo tão lindo!

    Fazíamos as nossas listas pedindo os presentes que queríamos ganhar (nem sempre merecíamos tudo que pedíamos) e nessa expectativa esperávamos o dia do Natal.

    Na véspera, mamãe nos levava à casa de nossa avó, onde a família toda se reunia para a ceia de Natal. Lá, nós, crianças e também os solteiros, éramos separados para outra sala (até hoje não entendi o porquê); fazíamos, então, uma farra daquelas. Revíamos os primos, trocávamos ideias e nos divertíamos a valer.

    Não ficávamos lá até a meia-noite; saíamos antes pois papai fazia questão de ir à Missa do Galo com mamãe. Eu esperava a hora de ir embora para casa pois, ansiosamente, procurava vislumbrar através das janelas iluminadas as árvores de Natal; eu gostava de vê-las, grandes, com muitas bolas coloridas e muita luz.

    Enquanto papai e mamãe iam à Missa do Galo, nós pequeninos, ficávamos em casa dormindo, sonhando com os presentes pedidos.

    Que alegria era o despertar! Aos pés de cada caminha os brinquedos de nossos sonhos. Bonecas, panelinhas, bolas, jogos tudo sem luxo e sem riqueza, mas dado com todo o coração por nossos pais. Para cada um de nós papai adicionava um presente aparte, que nunca faltou em nenhum Natal: um livro de estórias!

    Durante aquele dia esquecíamos de tudo, cada qual jogado em sua cama, “devorando” as histórias de reis, fadas e bruxas, fábulas e contos. Com este presente papai nos inculcou o gosto pela leitura e o hábito perdura até hoje. Ainda possuo esses livros e meus filhos também já os leram. Eu os guardo como recordação de uma infância feliz. Dentro de cada livro, na primeira página, vinha a mensagem de Natal de papai.

    Lembro-me dela, com lágrimas nos olhos, escrita com sua caligrafia firme e bonita e ainda sob a emoção da lembrança, transcrevo-a tal como foi tantas vezes escrita:

    “Pelo Natal de Jesus, a Festa Máxima da Cristandade. O Papai Noel”.

    Não me esqueço da nossa vida passada toda ela num casarão velho mas acolhedor, do seu enorme jardim que, com o tempo transmudou-se em quintal onde jogávamos bola, brincávamos de pegar e esconder.


    Lembro-me do morro atrás da casa onde fazíamos das folhas de coqueiros o nosso carrinho; cada um era puxado pelo outro, morro abaixo, gastando as folhas e mais alguma coisa…

    O tempo passa, a vida também. Aos poucos aqueles a quem amamos vão-se indo. Os costumes vão mudando, tudo é diferente…

    Feliz Natal para todos, principalmente para aqueles que sentiram comigo as lembranças do passado.

    Peço ao Menino-Deus que, ao menos em sonhos, possamos relembrá-los sempre”.

    Linda crônica, Marilda! Linda!

    Ah! querida irmãzinha Marilda, deixa que eu puxe a folha de coqueiro, morro abaixo, com você gritando, se debatendo e sorrindo, e eu, com os fundilhos das calças rasgados, role na passarela da imensa saudade de você, de todos nós, maravilhosos personagens da infância nossa!

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