Pai, mãe, filhos e poetas
É rara a família composta de pai, mãe e filho que se entregam ao gênero poesia com alguma relevância em nossas letras. É o caso, por exemplo, do casal Anderson de Araújo Horta e Maria Braga Horta, pais de Anderson Braga Horta. Agora, o filho edita um volume com poemas de todos: Versos em três tempos (Brasília [?]: Costelas Felinas, 2018) abre com poemas do pai. Anderson de Araújo Horta (1906-1985), autor de Invenção do espanto (de edição póstuma, 2004), foi exímio em poemas de nível tradicional, onde exerceu principalmente o decassílabo. Mas seus poemas em verso livre também são apreciáveis. Convém destacar o poema longo que inicia o livro e os dois poemas finais, ‘Perfeição’ e o soneto ‘Vinte anos’.
Já Maria Braga Horta (1913-1980), autora de Caminho de estrelas (póstumo, 1996) é poetisa fundamenteorta, Horta, psaisp lírica e mais adaptada ao verso bem medido. São de bom valor poético seus sonetos, especialmente ‘Exortação’, ‘Obrigada, amor!’, ‘Alternativa’, ‘Lirismo’, além dos dois dedicados a Florbela Espanca. Foi também tradutora de poetas; no livro, estão presentes suas traduções de Verlaine (‘Canção de outono’) e de Rimbaud (‘O sono do soldado’), ambos de excelente fatura.
Mas foi o filho, Anderson Braga Horta, que acabou herdando e desenvolvendo o legado poético dos pais. Em pouco menos de cinqüenta anos (estreou com Altiplano e outros poemas, 1971), conseguiu elaborar uma vasta obra que, além da obra poética, também se afirmou no ensaio sobre a poesia, na crítica literária (Do que é feito o poeta, 2016) e na tradução de poemas. Em Vozes ao vento, aqui estampado, o poeta cristaliza a excelência de seu trabalho poético e estabelece alguns poemas de fato exemplares, como ‘Visões do Itacolomi’, e belos sonetos: ‘O sagitário’, ‘Velho nauta’ e ‘Além da guerra’. E apresenta ao leitor, como testemunho de sua tradução de poemas, uma notável versão do soneto ‘Vogais’ de Arthur Rimbaud. Dos demais poemas, convém enaltecer ‘A moça de São João Del-Rei’, ‘O que diz a noite’, ‘O sapo e a estrela’ e ´Vislumbre’ – todos de muito encantamento e fatura perfeita.
Recebemos e agradecemos: Jornal da ANE, Brasília, ano XII, nos 84 (abril), 85 (maio), 86 (junho/julho), 87 (agosto), 88 (setembro) e 89 (outubro de 2018).