• E-mail cita pedras preciosas para Bolsonaro; Cid negociou Rolex

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  • 05/08/2023 06:57
    Por Julia Affonso e Gabriel de Sousa / Estadão

    Mensagens trocadas por militares vinculados à Presidência da República durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e obtidas pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro levantam novas suspeitas envolvendo o recebimento de presentes pelo então chefe do Executivo.

    Dois e-mails em poder da comissão sugerem que Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ganharam pedras preciosas, em Teófilo Otoni (MG), em setembro do ano passado, e que o presente não foi cadastrado oficialmente. Já uma outra mensagem, também em análise na CPMI, mostra que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tentou vender, por R$ 300 mil, um Rolex recebido em viagem oficial.

    Na caso das pedras preciosas, o Estadão teve acesso a dois e-mails trocados pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk. Os três foram ajudantes de ordem da Presidência sob Bolsonaro.

    Os e-mails contêm listas numeradas com detalhes das atividades que os militares deveriam cumprir. Mensagem de 27 de outubro, assinada pelo então coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência da República, Cleiton Henrique Holzschuk, relaciona os afazeres aos dois colegas. O item de número 36, intitulado “Presente PR”, trata das supostas pedras.

    ‘Entrega em mão’

    “Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01 (um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente da República) e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele”, afirma o e-mail.

    Bolsonaro esteve em Teófilo Otoni em 26 de outubro do ano passado, durante o segundo turno da campanha presidencial. Na ocasião, o então presidente discursou ao lado do pastor Silas Malafaia e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

    Apagadas

    As mensagens dos militares foram obtidas pela CPMI do 8 de Janeiro na caixa de e-mails deletados de Crivelatti, ex-braço direito de Cid e atualmente um dos assessores pessoais de Bolsonaro. O militar não havia apagado os itens da pasta. A existência do e-mail foi relatada pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), durante sessão da comissão, na terça-feira. Segundo ela, as informação surgiram após análise de “mil e-mails” que haviam chegado ao colegiado. “Essas pedras nunca foram registradas nem como presente ao presidente da República e à primeira-dama nem em lugar nenhum”, afirmou.

    Cinco deputados e dois senadores da CPMI enviaram uma representação à Procuradoria-Geral da República pedindo a investigação sobre as pedras preciosas. Eles afirmam que há suspeita de prática de ilícitos “aptos a caracterizar improbidade administrativa” e solicitam depoimentos à Polícia Federal de todos os envolvidos. Procurada, a assessoria de Bolsonaro não se manifestou.

    Relógio

    Já as negociações do Rolex são de 6 de junho de 2022, de acordo com o material em posse da comissão. Segundo o jornal O Globo, em e-mail em inglês, uma interlocutora pergunta a Cid quanto ele quer pelo relógio. “Quanto você espera receber por ele? O mercado de Rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza de que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa”, diz a mensagem.

    O militar pede US$ 60 mil pelo objeto – equivalente a R$ 300 mil. Ele diz, sem dar detalhes, que não possuía o certificado do relógio, por ser “um presente recebido durante uma viagem oficial”.

    Em viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita, em outubro de 2019, Bolsonaro recebeu um estojo de joias, que incluía um Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes. Na ocasião, o então presidente esteve em um almoço do rei saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud.

    Em 6 de junho de 2022, mesma data do e-mail de Cid, foi registrado pelo sistema da Presidência que os itens haviam sido “encaminhados ao gabinete do presidente Jair Bolsonaro”. Dois dias depois, conforme os registros, as joias já se encontravam “sob a guarda do presidente da República”.

    Os objetos foram devolvidos pela defesa de Bolsonaro em abril deste ano. Naquele mês, a PF começou a investigar a tentativa de desvio de outro conjunto de joias – o estojo com colar, anel, relógio e brincos de diamantes, no valor de R$ 5 milhões, segundo perícia da PF, que a Arábia Saudita deu ao ex-presidente. O caso foi revelado pelo Estadão.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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