• Uma história do Quitandinha

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  • 03/08/2023 10:55
    Por Afonso Vaz

    A biblioteca do Museu Imperial, na última quinta-feira, dia vinte e sete, abriu
    suas portas para realizar mais um evento cultural dentro da programação intitulada
    “Fale-me de Petrópolis”.

    O espaço foi ocupado por senhoras, senhores, representantes de entidades
    culturais, estudantes, enfim pessoas que se interessam vivamente pela cultura, pela
    história de nossa cidade, intitulada Imperial, com toda justiça, em decorrência do
    Decreto nº 85.849, de 27 de março de 1981, assinado pelo Presidente João Batista de
    Oliveira Figueiredo.

    Como de praxe, as apresentações e demais providências de ordem
    administrativa ficaram a cargo da historiadora Claudia Maria Souza Costa, integrante
    do qualificado quadro funcional do referido Museu Imperial.

    Pela mesma, foi apresentado aos presentes, embora já bastante conhecido, o
    jornalista e pesquisador Flavio Menna Barreto Neves, que durante quase duas horas
    proferiu uma verdadeira aula ao público extremamente interessado no assunto.

    Membro destacado do Instituto Histórico de Petrópolis, ocupante da cadeira nº
    24 e também de demais entidades que faz integrar pelo mesmo declinadas.

    O orador traçou com absoluta competência e leveza de palavras, prova do mais
    elevado conhecimento a respeito do assunto ora explanado, possibilitando aos
    presentes, ainda que no transcurso das mesmas, viesse a responder, por extrema
    delicadeza, dúvidas e indagações no tocante ao tema de interesse, não só com relação às pessoas presentes como, também, à população em geral que reside nesta
    abençoada terra de Pedro.

    Afinal! A respeito do que versou o magnífico encontro? Ah! “A História do
    Quitandinha”.

    Por intermédio não de palavras mas, também, de fotos, plantas e
    documentação diversa, fez discorrer, com absoluta propriedade e clareza, sobre a
    trajetória do Quitandinha, desde os seus primórdios, época de sua construção.

    Em razão de seus importantes relatos e informações veio à lume, como não
    poderia deixar de ocorrer, a figura notável do empreendedor e visionário da magnífica
    obra – seu idealizador – o mineiro nascido em Dom Silvério, estado de Minas Gerais,
    Joaquim Rolla.

    Ilustrou o palestrante tratar-se de um cidadão dotado de visão futurística bem
    diversa de muitos que viviam àquela época, quiçá descrentes da concretizaçãodo
    empreendimento.

    Prosseguindo, Flavio Menna Barreto discorreu sobre a grandiosa obra desde o
    seu início até a conclusão, trazendo importantes informações no que concerne aos
    períodos de sucesso vivenciados por Joaquim Rolla, até os dias amargos quando se deu a proibição do jogo no país.

    Menna Barreto, extremamente detalhista e por esta razão continuamente
    aguçando a curiosidade dos presentes.

    Como por mim já frisado, não ocorreu uma palestra; foi proferida uma
    verdadeira aula sobre a belíssima história do Quitandinha.

    Deixou claro sobre as áreas escolhidas, enfatizando no tocante a questão da
    proximidade de Petrópolis com a cidade do Rio de Janeiro, à época capital do país.

    Prestou detalhados esclarecimentos sobre as áreas que Rolla fez adquirir as
    quaisnão pertenciam, na totalidade,à famíliade Alcindo de Azevedo Sodré, médico, político, advogado e historiador que acaboupor ser o fundador do Museu
    Imperial, além de haver desempenhado vários outros encargos, de extrema relevância,
    inclusive prefeito interino de Petrópolis.

    A se destacar, outrossim, quando fez lembrar a pessoa do competentíssimo
    arquiteto Luiz Fossati, contratado por Joaquim Rolla para levar a cabo a obra, figura
    que nesta cidade foi responsável, também, pela construção do edifício Imperador.
    Também salientou a contratação da decoradora norte-americana Dorothy Draper, que
    encarregou-se de tratar da decoração total do ambiente, sendo que o orador prendeu-
    se a destacar tais obras e projetos como marcantes para o Quitandinha.

    Nascera à época da construção, também, a Companhia de Terrenos
    Quitandinha recordada por Menna Barreto na pessoa de José Gomes, incrível que
    pareça, também por mim conhecida.

    Menna Barreto, por outro lado, recorda que a grandiosa obra foi iniciada em
    1941, informando que muitos dos funcionários contratados, egressos de Minas Gerais.

    De acordo com a orientação de técnicos especializados, em especial, do
    engenheiro Fossati e sua equipe, já bastante conhecido em nossa cidade, Joaquim Rolla previra – e em razão de sua obstinação – e por isso mesmo quedou por serem realizadas também outras várias obras no entorno da majestosa construção, destacando-se galerias pluviais, calçamento de ruas e o mais importante, a construção de uma barragem no bairro do Caxambu e bem assim um reservatório para abastecimento de água.

    O expositor relembra, outrossim, Ernani do Amaral Peixoto, genro do
    presidente Getúlio Vargas e fiador político do projeto do hotel-cassino, bem como a figura de Benjamin Vargas, irmão de Getúlio, na condição de frequentador influente e
    assíduo dos cassinos de Joaquim Rolla.

    Conforme deixou claro o expositor, Joaquim Rolla defendia, obstinadamente, a
    tese de que após o funcionamento do Quitandinha, ou seja, do funcionamento do jogo,
    os empréstimos financeiros seriam quitados e, por isso mesmo, no dia 12 de Fevereiro de 1944 o Quitandinha abria suas portas, admitindo sem dúvida, que o
    empreendimento ainda viesse a necessitar de aportes financeiros.

    Em determinado momento de suas palavras, o orador fez relembrar, ainda,
    muitas particularidades relacionadas com a obra, inclusive a presença no Hotel de
    personalidades famosas que chegaram a Petrópolis com o único objetivo de
    conhecerem o “Palácio Quitandinha”, atualmente por nós assim chamado. Dentre tais
    personalidades, destacam-se as atrizes Jan Clayton e Lana Turner.

    Entretanto, o orador chegou ao ponto nodal do majestoso empreendimento,
    exatamente o fim do jogo, o que ocorreu em 30 de abril de 1946, através do Decreto
    lei nº 9215 assinado pelo então Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra.

    Deu-se, assim, “o início do fim” do Quitandinha com o jogo em pleno
    funcionamento, porém os credores movimentando-se para receberem valores
    decorrentes de empréstimos feitos a Joaquim Rolla.

    Muitos momentos comemorados como de sucessos – período áureo do
    Quitandinha – todavia, outros se seguiram de preocupações e tristezas, em especial de ordem financeira, eis que o empreendimento acabou por passar por novas
    dificuldades e o grande prédio atuando apenas como Hotel, sofrendo profundas
    alterações no que diz respeito às finalidades para as quais foi construído.

    O momento, de absoluta tristeza! Joaquim Rolla vindo a falecer em 10 de julho
    de 1972, com 72 anos.

    Não fora o fim do Quitandinha, mas o desaparecimento de seu idealizador que
    tanto lutou para que o empreendimento lograsse sucesso – o que conseguiu – mas
    que, por outro lado, viu desabar, assistindo a proibição do jogo no país.

    Neste momento, após haver me inteirado a propósito de tudo o que ocorreu
    relativamente ao Quitandinha, arrisco a relembrar o poeta, quando escreveu sobre
    “amigos”: “… Se faz bom tempo, eles vêm, se faz mal tempo, eles vão!”.

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