‘Tomato Girl Summer’: brasileiras adotam visual que simula vida de luxo no Mediterrâneo
Vestidos esvoaçantes, roupas de tecidos leves, lenços de seda amarrados no cabelo, cores suaves e estampas com flores e frutas da estação: o TikTok está repleto de looks de verão, ainda que aqui, no hemisfério sul, estejamos em pleno inverno. Com mais de 200 milhões de views nos vídeos que usam a hashtag #TomatoGirlSummer, a estética viraliza nas redes sociais.
A proposta é simular uma rotina leve, não só no vestuário, mas também no estilo de vida . As “tomato girls” exibem um bronzeado discreto e aparentam estar sempre recém iluminadas pelo sol. Sem maquiagens muito carregadas e escolhas sutis na base, rímel e um blush leve, a estética clean e natural se soma a um vestuário romântico para encenar a vida no verão em uma praia mediterrânea.
Com o fim das restrições de viagens internacionais por conta da covid-19, a Europa voltou a ser um destino sonhado por turistas de todo o mundo, e as cidades litorâneas se destacam. Em pesquisa divulgada pelo Europeans Best Destinations, localidades gregas, italianas e espanholas figuram entre as mais desejadas, e mais ainda no verão.
Quem são as ‘Tomato Girls’?
A fantasia europeia da mulher simples, mas elegante, que aproveita vinho branco à beira mar com as bochechas levemente rosadas não se limita às viagens e têm ganhado célebres adeptas ao redor do mundo, como Hailey Bieber, Dua Lipa e Billie Elish.
E no Brasil?
Jade Picon é um exemplo de que a moda também chegou para as mulheres deste lado do oceano: além dos looks, a influenciadora e atriz não economiza nas fotos que transmitam a “vibe” tranquila de quem sabe aproveitar a vida calmamente depois de uma refeição orgânica que saiu direto de uma fazenda familiar direto para a tolha de mesa xadrez onde acontece um piquenique.
Mais do que promover uma estética, o Tomato Girl Summer defende um estilo de vida que combina uma rotina leve e natural, com um guarda-roupa vintage e quase minimalista. São mulheres que apreciam – e podem – passar o verão na costa do Mediterrâneo com uma taça de Aperol Spritz ou algo que uma das personagens ricas da segunda temporada da série White Lotus (2022) tomaria.
A gerente de contas Camila Bretas mora na Europa há quatro anos e acabou sendo influenciada pela tendência: adepta de maquiagens mais fluidas e leves, ela conta que o foco em skincare acaba refletindo na imagem da pele hidratada e bem tratada. “A ideia é ter uma pele hidratada, brilhando, que não precisa fazer nada. Como se realmente tivesse saído do banho e passei no máximo um batom”, diz.
Mas ao contrário do gosto pessoal, assemelhando com a estética da tendência, o vestuário acabou sendo influenciada pela moda por lá. “Fui construindo meu guarda-roupa todo assim e acho que tem muito a ver com cultura e humor. É muito nude e tons pasteis, quando chego no Brasil não quero usar isso. Quero usar coisas coloridas”, diz.
“Minha personalidade para vestir acabou sendo moldada aqui, mas acho que não faz muito sentido adotar no Brasil, porque nosso verão não é o europeu, somos um país gigantesco e com estações diferentes. Nossas roupas também acabam sendo outras”, explica.
De vermelho vive o ‘Tomato Girl Summer’
Bárbara Carvalhaes, estrategista de imagem pessoal, considera que, em termos de maquiagem, o Tomato Girl Summer se parece com outras tendências que também fizeram sucesso no TikTok e no Instagram, como o “clean girl” e “vanilla girl”. A diferença mesmo está nas influências regionais que ditam a forma de vestir: o verão europeu é o que mais inspira a estética que abusa de peças fluídas e de visual delicado.
Carvalhaes explica que o “tomato” da estética vem da presença do vermelho no figurino, que mesmo de maneira discreta, acaba se destacando nas peças. “O vermelho é predominante nas roupas e acessórios e também na maquiagem com um aspecto natural, com uma cara limpa e um batom”, exemplifica.
Praticidade e elegância
Outro aspecto destacado por ela é que assim como outras estéticas viralizadas nos últimos tempos, os ‘tomatos looks’ prezam a praticidade e pela elegância, aspectos que se tornaram prioritários na moda pós covid-19. “São elementos que têm nesta tendência. As roupas no pós-pandemia vêm de encontro com a praticidade, e as pessoas têm clareza de que conforto não é só usar roupas largas”, explica.
A estrategista aponta que pontos positivos da tendência são a possibilidade de incorporar elementos discretos, mais utilizáveis no dia a dia. “São tendências que contemplam a atemporalidade por conta das cores clean e ter estampas atemporais, como as florais”.
Diferença de estação
No entanto, o “timing” ainda não bateu com o clima brasileiro, e as tendências devem chegar na próxima estação, mas com menos força em nosso mercado. “Não é uma estética de fácil adaptação para nossa realidade, por ser pensada no verão da Europa e não considerar os biotipos mais comuns por aqui. Quando a gente traz para a realidade brasileira, não funciona tão bem”, comenta Carvalhaes, que acredita que somente alguns elementos da estética serão incorporados por aqui. “Algumas pessoas que têm usado, como a Jade Picon, têm um poder de influência muito grande por aqui. Junto às redes de fast fashion, que têm o poder de disseminar tendências numa velocidade muito rápida, a estética fica mais acessível”, explica.
A “Tomato girl”, no entanto, perde força por aqui pela dificuldade de aprofundamento na estética e na impossibilidade de igualar o estilo de vida – afinal o verão brasileiro e o verão europeu são bem diferentes. O fato de estarmos a algumas estações das temperaturas que favorecem os looks frescos e esvoaçantes também deve ser considerado: até o verão chegar na América do Sul, é provável que uma série de outras tendências já tenham nascido e morrido.
Tomate vai vencer?
Apesar das redes sociais serem o berço das estéticas que surgem com a mesma velocidade da duração de um vídeo viral, Carvalhaes aponta que as tendências sempre existiram: a diferença está no período que elas permanecem no mundo da moda. “As redes sociais têm deixado tudo muito sem um tempo de digestão. Toda hora é algo novo e daqui a dois dias é provável que já tenha surgido um outro assunto. Fica na superficialidade e ninguém vai atrás do contexto, e assim, não dá tempo de ter um aprofundamento nas tendências”, comenta.
A estrategista aponta que, caso sejam consumidas desenfreadamente, as redes sociais contribuem com um consumo que é feito sem considerar o gosto pessoal e estilo de cada pessoa. “Não é errado consumir tendências. É errado se deixar afetar sem saber o que quer e o que te traz confiança.
No TikTok, as estéticas tendem a viralizar e se você consome qualquer conteúdo relacionado a moda, o algoritmo vai incentivar um comportamento de consumo, mas é preciso pensar de forma estratégica e fazer escolhas inteligentes, tendo clareza do que é importante para você e ter filtro do tipo de tendência que faz sentido para o seu estilo”, explica, considerando ainda que estilos mudam de acordo com o contexto de localidades e rotinas, que variam da costa europeia para as terras brasileiras.