Aos 80, Gil põe o pé na estrada, em série na Europa
Gilberto Gil pega a estrada com seus herdeiros na segunda temporada da série produzida pela Prime Video. Viajando com os Gil, já disponível, acompanha a família do artista em show pela Europa e substitui a primeira temporada, a emocionante Em Casa com os Gil. A plataforma tem investido no artista em outras frentes. A playlist Nação MPB, da Amazon Music, com músicas de Gilberto e família, é uma das principais do gênero no Amazon Music e cresceu 23,9% no Brasil no primeiro trimestre de 2023, em comparação com o primeiro trimestre de 2022.
Gil e família renderam seis novos episódios que também celebram os 80 anos do cantor. São quase 40 familiares unidos, incluindo sete filhos, doze netos e uma bisneta. Eles fizeram 15 apresentações por dez países (França, Alemanha, Dinamarca e Inglaterra estão entre eles) ao longo de 36 dias. Se Em Casa mostrou o confinamento necessário em meio à pandemia, o Viajando mostra a reabertura desse mundo pós pandemia. Ou seja, o que eles produziram é também um documento histórico.
“Nunca nos reunimos daquela forma, aquela coisa da assembleia para escolher repertório, discutindo as canções. Também vejo como um documento histórico”, diz ao Estadão Francisco Gil, o Fran, neto de Gil. “Estar com Seu Gilberto no palco é uma aula. Temos que correr atrás. Eu pelo menos tive de correr muito atrás. A gente ali se entregando a esse ofício.”
Patriarca
Gil, por sua vez, fala sobre o peso de ser o patriarca, alguém que deve estar sempre pronto a dizer a grande frase, apontar a saída miraculosa, nunca errar. Ele não se vê nesse papel. Ou melhor, não se ilude com essa responsabilidade. “Ensinar é aprender. No caso de uma família, então, você tem de observar o tempo todo para onde é que as meninas e os meninos estão indo, o que eles querem da vida e o que eu queria que eles quisessem da vida. É esse diálogo o tempo todo, do pai com a liberdade do filho, da filha”, afirma.
A série Em Casa com os Gil mostrou a escolha do repertório feita em grupo e, na sequência, os ensaios. Gil, Francisco, José (filho) e João Gil (neto) falam do fato de transformarem os arranjos de canções tão solidificadas. “Fica um misto de experiência dessas leituras quando botamos nossa musicalidade um pouquinho nisso. Mas meu pai já trouxe uma desconstrução”, diz José.
Gil se anima: “Faço isso o tempo todo, reprocesso esses arranjos, inclusive de um ensaio para outro”. João completa: “É uma constante na carreira dele, a gente acompanhou ao menos cinco ou seis versões de Palco e Andar com Fé.”
Gil comentou sobre as tantas partidas recentes, desde João Gilberto até Gal Costa, e “Jeff Beck”, como ele lembrou. Despedidas assim, diz ele, fazem-no pensar em sua própria partida. “Minha partida virá uma hora também, isso faz com que eu não tire isso do horizonte. A morte faz parte da vida. Mas se vale a pena viver, então morrer vale a pena, como diz uma canção minha. Então é isso, tem que valer a pena estar nesse jogo, nesses dois extremos, entre o nascimento e a morte.”
Gil se lembra de uma das despedidas – para ele, das mais dolorosas. “Quando penso no João Gilberto… Eu me lembro de que estava em Londres, e eu dizia: ‘Puxa vida, mas é tão estranho lidar com a morte de alguém como ele, que a gente tinha no plano maior da grande ilusão… A gente achava que ele era imortal, que nunca iria morrer. Nesse dia, eu pensava nisso. Eu achava que ele não iria morrer nunca”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.