Glória, Saudades, gratidão
Valho-me deste ensejo para voltar ao passado, que já vai distante. Imagino, não duvido, que muitos hão de estar indagando por que razão voltar a período tão remoto, vez que tantos eventos já devem estar esquecidos? Todavia, continuo a admitir vez que quem não cultua o passado dificilmente irá reconhecer o futuro.
Por isso mesmo, não foi sem qualquer razão e fundamentos – especialmente de ordem familiar e de modo a preservar a cultura e tantos outros bens a nós outorgados pelas Alturas – que os escritores e acadêmicos Paulo César dos Santos e Fernando Costa publicaram a obra “Tributo aos Acadêmicos de Ontem”.
Louvado em tais preceitos, ainda não me esqueci – e não hei de esquecer-me – da festividade que programei, a qual, para meu gáudio, foi coberta de sucesso ante a quantidade de pessoas amigas que fizeram comparecer ao evento relacionado com o lançamento do livro “Vida e obra do poeta Osmar de Guedes Vaz”, idos de 2013, portanto decorridos quase 10 anos.
Recordo-me que tal festividade, no entender da então presidente da Academia Petropolitana de Letras, a escritora, poeta e jornalista Christiane Michellin, poderia ter sido realizada na Casa de Cláudio de Souza, em razão de o homenageado haver integrado os quadros da instituição, ocupante da cadeira 28. Todavia, após agradecê-la, decidi que viesse a se dar num espaço apropriado do condomínio onde residíamos.
Assim é que, primeiramente, desejo renovar os votos de agradecimentos, sem dúvida emocionados, que fiz dirigir à plêiade de amigos que se fizeram presentes, como os brilhantes acadêmicos Roberto Francisco, Carmem Felicetti, Joaquim Eloy Duarte dos Santos e Gustavo Wider, ora descrevendo o primeiro e o último, respeitosamente, In Memoriam, porém nunca esquecidos.
Destaco, ainda, com o coração batendo forte, o momento em que usaram da palavra, primeiramente, o notável professor, poeta e trovador Roberto Francisco, logo após, a destacada professora Carmem Felicetti. As palavras proferidas por Carmem foram objeto de publicação na obra “Retalhos Diversos”, de minha autoria. A fraterna amiga desde logo fez questão de lembrar a inesquecível amizade de seu pai para com o poeta. E mais, “…conheci-o através de meu pai, seu amigo e admirador”. Valeu-se do momento, também, para ler inúmeras trovas da autoria do poeta.
O decano da Academia Petropolitana de Letras, professor Joaquim Eloy, a seguir fez discorrer sobre a vida e obra do homenageado e, ao final de suas palavras, para deleite dos presentes, leu, sob o título “Trovas ao Trovador”, todas elas rimadas com o poeta Guedes Vaz, merecendo, ao final da leitura, demorados aplausos dos presentes, vez que nunca as esqueci! Ei-las:
“Uma rima eu busquei para Osmar de Guedes Vaz.Foi muito fácil; achei o seu amor pela paz.
Trovador de rima forte no seu estilo loquaz; lindo poeta; de porte era o Osmar de Guedes Vaz!
Ele adorava a trova na sua verve mordaz e a Eternidade comprova o seu talento, que jaz.
Foi Osmar de Guedes Vaz excelente criatura, um poeta e muito mais além do amor e ternura.
Inteligência brilhante no seu jeito perspicaz, engraçado a todo instante belo Osmar de Guedez Vaz.
Audaz, capaz, eficaz e outras palavras mais rimando com Guedes Vaz, fino poeta loquaz.
Foi Osmar de Guedes Vaz Lindo poeta, de porte, no seu estilo loquaz trovador de rima forte!
E neste instante tão lindo, a homenagem se faz em trova, sempre sorrindo nosso Osmar de Guedes Vaz”.
Recordo-me das palavras de agradecimento que fiz dedicar aos estimados Joaquim Eloy Duarte dos Santos e bem assim à Carmem Felicetti, os quais, pela graça de Deus, continuam a nos proporcionar novas obras, amizades eternas, além de alegrias a seus confrades e confreiras da Academia Petropolitana de Letras, mas também a familiares e amigos apreciadores da boa leitura.
Os mesmos agradecimentos fiz chegar à prima, professora, pianista, além de inspirada poeta, Lucília Gabrich Barenco.
Finalmente, uma palavra de louvor, saudades e gratidão, no tocante à figura do professor Roberto Francisco, o qual, de invejável improviso, prestou, outrossim, marcante homenagem ao poeta. Justamente, em razão do improviso de que se valeu, não poderia deixar de relembrá-lo em “Miscelânea”, publicação no Jornal de Petrópolis, período de 10 a 16 de junho de 2017, quando assim se fez expressar com relação a um livro lançado por este que ora lhes escreve.
“Os que, como eu, tiveram a honra de conviver com o cronista e poeta Osmar de Guedes Vaz, foram beneficiados por Deus com sua lhaneza de trato, bom humor, simpatia e alto nível intelectual. Foi meu professor de TROVAS a que me afeiçoei e adotei, desde 1966, tendo a honra de haver recebido de suas mãos sábias e operosas a direção da UBT, em 1966, neste enriquecedor cargo desde então”.
O mestre Roberto Francisco, com o coração que quase não lhe cabia no peito, ainda completa: “Livro se abre com o desejo de obter entendimento e se fecha com um beijo por ter aproveitamento”.
Restariam, outrossim, as inesquecíveis recordações que nos legou o poeta, contista e cronista Gustavo Wider, que, infelizmente, não pôde se pronunciar durante o evento, por questão de saúde. Entretanto, minha palavra de lembrança é dirigida a ele e aos céus, onde certamente habita ao lado de seus queridos pais e amigos.
Para tanto, faço transcrever do seu livro “Caminhos e Descaminhos” a poesia que segue:
“Cheia, redonda e muito pálida ia a lua se deitando, ao findar a madrugada quando subitamente, a surpreendi com o mesmo assustado enleio com que se surpreende uma mulher pelada com a mão no seio.
Por um instante paramos, ambos surpreendidos e enleados. Mas logo ela, puxando sobre si uma veste de seda (e fingindo não me ver) seguiu seu caminho até desaparecer na alvorada como uma mulher, pelada”.
Aos que já partiram, e foram muitos, acredito, piamente, que brilham nas Alturas como estrelas de primeira grandeza, em razão de tantos gestos de amor e carinho praticados nestas paragens de provas e expiações.