China alerta Blinken que relação com EUA é a pior em 44 anos e vê Taiwan como um ‘risco’
A visita do secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, à China começou com críticas da diplomacia de Pequim ao estágio atual da relação entre os dois países. À imprensa estatal chinesa, o chanceler Qin Gang disse que a cooperação sino-americana vive seu ponto mais baixo desde 1979. Além disso, o diplomata ressaltou a preocupação chinesa com Taiwan, que considerou o maior risco existente para as relações com Washington.
“A questão de Taiwan está no centro dos principais interesses da China, a questão mais importante nas relações sino-americanas e o risco mais notável”, disse Qin Gang após se reunir com Blinken.
As expectativas para avanços na visita de Blinken à China eram baixas, com poucas perspectivas de avanço nas disputas entre ambos. O secretário de Estado é o primeiro diplomata de alto nível a se reunir com autoridades chinesas em Pequim em cinco anos e o encontro ocorre num momento em que EUA e China vivem uma tensão diplomática e até mesmo militar.
Ao chegar a Pequim, Blinken foi recebido por Qin Gang, na porta de uma vila localizada no espaço da Diaoyutai State Guest House. Diferentemente do protocolo usual, o cumprimento ocorreu na parte externa do prédio, onde ambos apertaram as mãos em frente às bandeiras dos dois países.
Após esse breve encontro, Blinken e Qin entraram em uma sala de reunião, onde não fizeram comentários diante dos repórteres presentes. Durante a estada, que se estenderá até segunda-feira, Blinken tem agendadas reuniões com o principal diplomata da China, Wang Yi, e possivelmente com o presidente chinês, Xi Jinping.
O principal objetivo desses encontros é estabelecer canais de comunicação, com o objetivo de evitar que a rivalidade estratégica entre os dois países se transforme em conflito.
O ministro assistente das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, que participa da reunião, tuitou uma foto de Qin e Blinken apertando as mãos com a legenda: “Espero que esta reunião possa ajudar a conduzir as relações China-EUA de volta ao que os dois presidentes concordaram em Bali.”
Blinken também pressionará os chineses a libertar cidadãos norte-americanos detidos e a tomar medidas para conter a produção e exportação de precursores de fentanil que estão alimentando a crise de opioides nos Estados Unidos.
Autoridades norte-americanas disseram que ele levantará cada um desses pontos, embora nenhum dos lados tenha mostrado qualquer inclinação para recuar de suas posições.
Biden e Xi concordaram com a viagem de Blinken no início de uma reunião no ano passado em Bali. Aconteceu um dia depois de acontecer em fevereiro, mas foi adiado pelo tumulto diplomático e político causado pela descoberta de balões espiões chineses voando pelo território norte-americano.
Lista de desacordos
A lista de desacordos e pontos de conflito entre China e Estados Unidos é longa. Começa com o status de Taiwan, passando por abusos de direitos humanos na China e Hong Kong e a presença militar chinesa no Mar da China Meridional, além do papel de Pequim na guerra da Rússia na Ucrânia, num conjunto de tensões que se convencionou chamar de Nova Guerra Fria.
Pouco antes de partir para Pequim, Blinken enfatizou a importância de os EUA e a China melhorar sua comunicação. “Os EUA querem garantir que a competição que temos com a China não se transforme em conflito em razão de mal-entendidos evitáveis”, disse o chefe da diplomacia norte-americana. “Os presidentes Biden e Xi se comprometeram a melhorar as comunicações para evitar possíveis mal-entendidos e falhas de comunicação.”
Blinken é o funcionário de mais alto escalão dos EUA a visitar a China desde que seu antecessor, Mike Pompeo, que mais tarde liderou a política de confronto do ex-presidente Donald Trump com Pequim, o fez em outubro de 2018.
O governo Biden manteve a linha dura contra a China e foi ainda mais longe do que o governo anterior em algumas questões, por exemplo, a imposição de controles de exportação para limitar a compra e fabricação na China de chips de ponta usados para fins militares. Mas em outras áreas, como a luta contra as mudanças climáticas, Biden tem procurado cooperar com a China.
Para o ex-diplomata norte-americano Danny Russell, vice-presidente do Instituto Asia Society Policy, a visita não deve trazer resultados imediatos.
“A reunião não levará a uma resolução das grandes questões no relacionamento sino-americano, nem mesmo das pequenas”, disse ele. “Mas sua visita pode reiniciar o diálogo cara a cara muito necessário e enviar um sinal de que ambos os países estão passando da retórica raivosa para discussões sóbrias a portas fechadas”, acrescentou Russell. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)