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  • 11/06/2023 08:00
    Por Ataualpa A.P. Filho

    Tenho por hábito, ao ver uma estrela cadente, pronunciar, com rapidez, a seguinte frase que guardo da infância: “Deus te guie, Deus te guie…”

    Não faço nenhum pedido ao vê-las. Sei que não são estrelas. Trata-se de corpos celestes que entram na atmosfera terrestre. E, pelo atrito, em alta velocidade, com a nossa camada atmosférica, incandescem, produzindo rastros de luz no céu que podem ser vistos durante a noite. 

    Neste período de festas juninas, época das fogueiras que iluminam o imaginário das crianças, gosto de ver a Lua cheia. Parece-me mais límpida, com uma luz mais resplandecente. Para mim, ela ainda é a morada de São João com o carneirinho. 

    Vivo, nordestinamente, mergulhado nas tradições festivas das quermesses em torno das igrejas. Não tenho esse mesmo entusiasmo pelo carnaval. Não sinto motivação alguma para cair na folia de mono. Mas, quando chega o mês de junho, flagro-me cantando, no banheiro, a clássica canção de Getúlio Marinho e João Bastos Filho: “Pula a fogueira Iaiá/ Pela a fogueira Ioiô/ cuidado para não se queimar/ olha que a fogueira já queimou o meu amor…”

    Tenho “Asa Branca”, canção de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, como Hino Nacional do Nordeste: “Quando olhei a terra ardendo/ qual fogueira de São João/ Eu perguntei a Deus do Céu, ai/ por que tamanha judiação…”

    Nesta época, quase por instinto, fico procurando saber em que paróquia há quermesse. Embora não seja adepto do pensamento determinista, acredito que a ambiência cultural contribui para a consolidação de hábitos que alicerçam as tradições. Por isso, acho que o toque da zabumba, do triângulo, da sanfona, no embalo de uma canção do Gonzagão, alegram a alma nordestina.  E é assim que me vejo no mês de junho: atraído pelas festas populares que guardam tradições de um povo que preserva as manifestações culturais. Por isso, peço ao senhor Tempo que não apague da minha memória as lembranças de menino. 

    Já não tenho agilidade para pular fogueira.  Mas batatas, abóboras assadas em brasa remetem a um passado desprendido das desilusões impostas pela realidade. De cócoras, debulhando milho assado na brasa, ouvindo o estalar das lenhas, as faíscas saltando no ar, olhando as estrelas, identificando as constelações, a imaginação flu-ía: Três Marias, Cruzeiro do Sul, aquela é a Estrela D’alva…

    – Ó lá! Deus te guie! Deus te guie!  Essa vai cair no mar. Passou na tubada…

    A felicidade mora no simples, no sem conceitos, no sem preconceitos. O ser criança é que melhor transforma o limão em limonada. O faz de conta é real no plano imaginário. O Meu São João com o carneirinho continua na Lua. Que Santo Antônio e São Pedro não fiquem tristes, por fidelizar o meu imaginário infantil nas festas joaninas.  

    Confesso aqui que até me surpreendo com as lembranças que, às vezes, saltam involuntariamente do passado. Digo isso, porque, em uma quinta-feira, à noite, ao sair de uma escola em que trabalho, deparei-me com um vaga-lume perdido na calçada:

    – Olha um vaga-lume! Como veio parar aqui!? – Olhei para o concreto do entorno e voltei a perguntar: – De onde ele veio?…

    O colega professor, que estava ao lado, falou:

    – Realmente, um vaga-lume aqui é coisa rara. Mas a sua reação diante dele é que me impressionou…

    Realmente não contive. Saltou o menino que gostava de ver vaga-lumes. Ficava querendo saber se eles tinham pavio de lamparina para ficar acendendo e apagando…

    Hoje procuro a bioluminescência nas pessoas. Algumas são portadoras de luz. Iluminam, possuem energias luminosas, transmitem paz. Mas sei que outras vagam sem lume na escuridão do ódio, do rancor. A pior treva é a que se carrega na alma.

    O dia continua com as suas 24 horas. Contudo, alguns se tornam mais longos e outros mais curtos, em função dos raios luminosos que vencem as trevas. Quero continuar aprendendo como plantas que crescem em busca da Luz. A bioluminescência humana é nutrida pelo amor. Como produzir energia sem carrega-dor?…

    Mais uma vez, peço ao senhor Tempo o direito de guardar na memória as pessoas de luz que iluminaram e iluminam esta minha travessia nesta selva de pedra. Peço a Deus forças para regar com ternura e gratidão o meu obrigado.

      Hoje agradeço a Deus pelas luzes, pelas estrelas que brilharam em meu caminho e já partiram para a eternidade. E também peço a Ele que preserve as que continuam a brilhar em minha vida, por quem tenho eterna gratidão. 

    – A amizade verdadeira é um bem não perecível, senhor Tempo.

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