‘Campeões’ é remake que joga no seguro, tentando conquistar pela graça de sua história
Marcus (Woody Harrelson) é o assistente de um time profissional de basquete que está passando por um momento ruim em sua vida: teve uma briga pública com o seu treinador, foi demitido e bateu o carro enquanto dirigia bêbado. Com isso, é condenado a prestar serviços comunitários por 90 dias, trabalhando como treinador de um time de jovens com deficiência intelectual. Essa é a história de Campeões, estreia desta quinta-feira, 25.
Dirigido por Bobby Farrelly (o irmão menos conhecido de Peter, diretor de Green Book), o longa-metragem é adaptação americana do drama espanhol Forjando Campeões, de 2018 – que, por sua vez, já se parece bastante com Nós Somos os Campeões, um simpático e esquecido filme de 1992. Em qualquer uma das versões, é uma típica história que poderia ser exibida na Sessão da Tarde, quase sem nenhum corte. É simpática, bonita e indefesa.
Campeões, um filme sem grandes ambições
Bobby, que é conhecido principalmente por seu humor ácido em comédias como Quem Vai Ficar com Mary? e Eu, Eu Mesmo e Irene, se contém bastante. Quem assistir aos dois filmes sobre essa história, um do lado do outro, poderá encontrar até mesmo cenas que são absolutamente iguais. O cineasta parece estar contente em apenas reproduzir e não criar. Em alguns momentos, uma ou outra piada quase surge em cena, mas logo é contida.
Afinal, há uma preocupação evidente em colocar a equipe de jogadores com deficiência intelectual em um lugar de igualdade com o público. É aquela famosa sensação de que nós estamos rindo com eles e de forma alguma deles. São várias as cenas em que Marcus vira o alvo das piadas do grupo, que não é tratado de maneira despersonalizada. O roteiro de Mark Rizzo (da série Gravity Falls: Um Verão de Mistérios) tenta criar histórias individuais.
E esse é o maior acerto de Campeões. O filme fez um bom trabalho de seleção de elenco e colocou atores para interpretar esses jovens – todos eles realmente com deficiências intelectuais na vida real – que conseguem mostrar emoção e verdade em seus personagens. Woody Harrelson, que já tem uma história com o basquete no cinema (com o original Homens Brancos Não Sabem Enterrar), se junta bem com o resto do elenco.
O problema do filme, e que deve incomodar uma parcela considerável do público, é que ele se vale de um clichê que envelheceu como leite fora da geladeira: a história do branco que passa por um processo de redenção em cima de minorias. É algo que já é amplamente condenável quando se discute temas raciais, principalmente depois de filmes como Histórias Cruzadas, e que traz o mesmo incômodo ao se falar em deficiência intelectual.
O grupo de jovens acaba servindo apenas de escada para que Marcus, o treinador, alcance seus objetivos pessoais, como ter um novo emprego e arranjar uma namorada. Obviamente que há todo um processo emocional nisso, mas não acaba apagando esse erro central dentro de uma história como essa. Pode ser que em 2018, quando o filme espanhol original foi lançado, tudo isso era aceitável. Hoje, cinco anos depois, já é visto com estranhamento.
Tirando isso, sobra uma história simpática, que tem seus méritos principalmente pelo elenco de jovens atores (Madison Tevlin, Kevin Iannucci, Ashton Gunning, Matthew Von Der Ahe, Tom Sinclair, James Day Keith, Alex Hintz, Casey Metcalfe, Bradley Edens) que, em um filme com seus problemas, merece ser celebrado pela boa presença do grupo em tela. Fica o desejo para que Campeões seja apenas o primeiro passo para a carreira de todos eles.
Veja o trailer de Campeões aqui