• Quilombo da Tapera terá biblioteca comunitária

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  • 27/09/2018 20:43

    A quase uma hora – de carro – do Centro Histórico, os moradores do Quilombo da Tapera, no Vale da Boa Esperança, em Itaipava, não vão precisar percorrer nem cinco minutos para viajarem para outras terras ou embarcarem nas mais diversas histórias. O efeito transformador que vem junto com a chegada da literatura deverá, agora, ficar mais próximo das 13 famílias do local, descendentes de escravos. Um projeto para a instalação de uma biblioteca comunitária, no centro de convivência da comunidade, feito de pau a pique, começa a virar realidade com o cadastro da nova instituição no Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, da Secretaria de Estado de Cultura do Rio. A aproximação do sistema com a comunidade foi feita através do Instituto Municipal de Cultura e Esportes (IMCE).

    Na última semana, bibliotecárias do programa estadual, representantes do Instituto e do Gabinete da Cidadania visitaram o local e levaram caixas com doações dos mais diversos livros. A comissão foi recebida por um grupo de mulheres, representantes dos quilombolas, que estão ansiosas pela inauguração da biblioteca e têm buscado angariar donativos para pôr o projeto em prática. A ideia é tornar do lugar, que já conta com algumas atividades e eventos da comunidade, um ponto de leitura, além de receber ações culturais, como contação de histórias para as crianças e projetos voltados para os idosos.

    A comunidade, que hoje conta com cerca de 60 pessoas, começou a ser formada em 1847, quando duas escravas da antiga Fazenda Santo Antônio receberam por doação do dono um pedaço de terra. Hoje, a tataraneta de uma delas, Eva Lucia Casciano, diretora cultural da comunidade, é quem lidera o projeto para a instalação da biblioteca. “A leitura é transformadora. As pessoas ficam mais seguras, conseguem pensar por conta própria. A criação da biblioteca já era uma antiga vontade nossa, porque também será um espaço onde vamos falar mais sobre a nossa cultura. E ainda vai ajudar as pessoas mais velhas, que não tiveram a oportunidade de estudar”, explica ela. 

    Em 2011, ano em que a comunidade foi reconhecida pela Fundação dos Palmares como Quilombola, as casas foram destruídas, meses antes, pela tragédia com as chuvas que devastou o Vale do Cuiabá. Por conta disso, as famílias precisaram ser levadas para outro local, mas que também faz parte do terreno doado às duas escravas. Hoje, as famílias vivem em um local de difícil acesso, no final de um condomínio, no Vale da Boa Esperança. Com a biblioteca, os moradores terão mais oportunidades de contato com a cultura. 

    “A Biblioteca Municipal já é cadastrada no Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, então tive a ideia de fazer essa ponte entre a comunidade e a secretaria de estado para que a biblioteca comunitária deles também seja. E sempre que a comunidade precisar estaremos a disposição para ir ao local e ajudar com a biblioteca”, frisa a bibliotecária Maria Luísa Rocha Melo, há 24 anos à frente da Biblioteca Municipal Gabriela Mistral. 

    Segundo a bibliotecária Barbara Aguiar, essa é a primeira vez que elas visitam uma comunidade Quilombola. “É uma experiência nova pra nós. É diferente por conta da cultura que precisa ser aflorada aqui. E elas querem isso pra comunidade, isso é muito importante. Nós prestamos assessoria para todas as bibliotecas públicas do estado. Aqui em Petrópolis, mostramos pra comunidade como colocar a biblioteca em prática e trouxemos uma doação de 400 livros de literatura geral”, explicou.

     “É muito importante vermos essa vontade da comunidade de fomentar cultura, de buscar por isso. Nós, do poder público, precisamos apoiar e incentivar essas ações. E a leitura é algo que precisa estar ao alcance de todos. É a melhor maneira de adquirir conhecimento”, destaca o diretor-presidente do Instituto Municipal de Cultura e Esportes, Leonardo Randolfo.


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