• Mostra as cantoras e a história do rádio no Brasil celebra divas

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  • 16/04/2023 09:04
    Por Danilo Casaletti / Estadão

    “Nós somos as cantoras do rádio/ Levamos a vida a cantar. De noite embalamos teu sono/ De manhã nós vamos te acordar.” A marcha composta por Lamartine Babo, João de Barro e Alberto Ribeiro, eternizada pelas irmãs Carmen e Aurora Miranda em 1936, inevitavelmente vai ecoar nas mentes dos visitantes da exposição As Cantoras e a História do Rádio no Brasil, em cartaz no Farol Santander, em São Paulo.

    Isso porque elas, as cantoras, em uma escolha acertada de seus curadores, Helena Severo, Cláudio Kahns e Rodrigo Faour, foram colocadas como importantes protagonistas da história do rádio no Brasil. Com talento e coragem, em um tempo em que as mulheres não eram valorizadas, ajudaram na popularização do veículo que chegou ao País no início dos anos 1920.

    Ao todo, 24 estrelas ganham nichos com fotos e textos, além de vídeos com números musicais. São elas: Carmen Miranda, Aracy de Almeida, Dircinha Batista, Linda Batista, Carmen Costa, Dalva de Oliveira, Isaurinha Garcia, Ademilde Fonseca, Emilinha Borba, Marlene, Elizeth Cardoso, Carmélia Alves, Hebe Camargo, Angela Maria, Doris Monteiro, Nora Ney, Inezita Barroso, Leny Eversong, Dolores Duran, Lana Bittencourt, Ellen de Lima, Marinês, Claudette Soares e Alaíde Costa.

    “O rádio elevou essas cantoras a um outro patamar. Elas passaram a ocupar as capas de revistas não apenas pela beleza, como ocorria com as vedetes, mas pela capacidade que tinham de emocionar o País”, diz Faour, jornalista e pesquisador que contou esse capítulo do rádio com detalhes em seu livro História da Música Popular Brasileira Sem Preconceitos, lançado em 2022.

    O legado dessa geração – umas, atuaram na chamada Era de Ouro (1929-1945), outras na Era do Rádio (1946-1958), foi fundamental para a geração surgida a partir dos anos 1960. O canto de artistas como Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Simone, Clara Nunes, Fafá de Belém e Alcione tem inegável ascendência nas vozes de Dalva, Angela, Elizeth, Nora, Isaurinha, entre outras.

    “Essas cantoras sempre revisitaram o repertório da turma do rádio. Os cantores do rádio influenciaram não só a MPB, mas também o brega. Essa turma se formou ouvindo rádio, que era o grande veículo de massa”, explica Faour.

    Os visitantes poderão ver ainda 114 objetos, entre eles, as faixas de Rainha do Rádio de Emilinha, Linda e Dircinha, um par de óculos e um vestido de Marlene, um sapato autografado por Emilinha, programas realizados no Cassino da Urca nos anos 1940 e exemplares da Revista do Rádio. Tudo original, preservado por fãs clubes e colecionadores.

    No segundo andar da exposição, o foco é a trajetória do rádio no Brasil, com linha do tempo com os principais acontecimentos, 10 exemplares de aparelhos raros dos anos 1920 e 1930, além de uma galeria de fotos com ícones do rádio, como Ary Barroso e Paulo Gracindo.

    HOMENAGEADAS. Alaíde Costa e Claudette Soares foram homenageadas na abertura da mostra. Embora mais novas do que nomes como Dalva, Emilinha ou Marlene, foi no rádio também que elas deram os primeiros passos na carreira, quando passaram por importantes emissoras. Ambas começaram cedo, por volta dos 10 anos, em programas infantis e, posteriormente, migraram para atrações de calouro, até se profissionalizarem.

    Alaíde enfrentou o temido compositor Ary Barroso – e tirou a nota máxima em seu programa, 5. Teve ainda que se impor ante a desconfiança e o preconceito de quem desejava vê-la cantando apenas samba. Ela já estava com os ouvidos abertos para as harmonias do jazz.

    “As pessoas diziam ‘essa neguinha cantar essas músicas elaboradas?'”, conta. “Pois é, ainda estou aqui, aos 87 anos, cantando sem rebolar.”

    Claudette queria cantar o repertório de amor de Dalva de Oliveira e Nora Ney, mas, diz, não era levada a sério por seu tamanho – por volta de 1,50m de altura. Antes de entrar na bossa nova, foi chamada de Princesinha do Baião ao se dedicar ao repertório de Luiz Gonzaga na Rádio Tamoio. “Queriam me reduzir por isso. Depois, se provou que Gonzaga era um grande compositor, um star. Eu cantava tudo com umas harmonias bem diferentes. Eu já era moderna e nem sabia”, recorda.

    Com mais de 70 anos de carreira, Alaíde e Claudette continuam na ativa, inclusive se apresentando juntas, em shows dedicados à bossa nova – as duas são grandes representantes do gênero – ou às composições de Milton Nascimento.

    Alaíde colhe os frutos do disco O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim, produzido por Emicida, Pupillo e Marcus Preto, com repertório inédito composto por nomes como Joyce Moreno, Erasmo Carlos e Tim Bernardes. Em maio, ela fará uma miniturnê na Europa.

    Claudette lançou, no ano passado, um EP em que canta canções contemporâneas de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil. É continuação de um disco que ela gravou, também com o repertório dos três compositores, em 1968. A interpretação da cantora para a canção A Bossa Nova É Foda, de Caetano, chegou repleta de significado e agradou ao autor e à crítica.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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