• Lei de Gérson, Lula, Dilma e Peter Drucker

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  • 15/04/2023 08:00
    Por Gastão Reis

       Conheci Caio Domingues no início da década de 1990. Era dono de uma empresa de publicidade bastante conhecida na época. Em 1976, um cliente lhe pediu que desenvolvesse uma campanha que acabou se transformando na Lei de Gérson. Segundo ele, o espírito da peça publicitária era na linha de obter o melhor resultado possível de uma iniciativa no plano pessoal. Mas o mote que marcou a campanha na linha de todo mundo gosta de levar vantagem foi um tiro (publicitário) que saiu pela culatra.

             O texto da peça publicitária, contratada pela fabricante de cigarros J. Reynolds, proprietária da marca de cigarros Vila Rica, foi montado com o famoso jogador Gérson, dizendo o seguinte: “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica”. Era uma coisa específica, mas o complemento “em tudo” deu margem para ser interpretado de modo muito mais abrangente. 

    Na cultura midiática brasileira, ela se transformou numa espécie de princípio em que uma dada pessoa ou empresa busca obter vantagens a qualquer custo. Ou seja, sem se importar com questões éticas ou morais. Foi então que me dei conta do que vem ocorrendo com o Lula 3. Cada vez mais, ele passa a impressão de que está pondo em prática a Lei de Gérson a todo vapor. E quem está pagando a conta somos todos nós, que sustentamos com impostos o governo brasileiro e as estatais ineficientes existentes.

    Os indícios vieram logo após a posse. Lula se hospedou, por mais de um mês, na suíte presidencial do hotel mais caro de Brasília sem a menor necessidade. Poderia ter aguardado as reformas no Palácio do Planalto na Granja do Torto, onde existe uma equipe sempre à disposição do presidente. Já de início, imitou Dilma que, quando presidente, numa visita a Roma, fez o mesmo, sabendo que a Embaixada do Brasil em Roma, o magnífico Palácio Pamphilj, dispunha de condições para hospedá-la com pompa e circunstância.

    Como afirmei em artigo anterior, agora numa formulação matemática, podemos escrever a seguinte equação: Lula 3 = Dilma 2. Ou seja, o atual governo Lula não está imitando Dilma apenas em matéria de hospedagem cara, mas também no que deu errado no governo dela. Lula, ao se reaproximar de governos que levaram seus países à falência, como os de Cuba, Venezuela e Nicarágua, parece ter um fascínio pelo desastre e calote garantidos. E também não aprendeu nada com as experiências da China e da ex-URSS que retiraram a mão onipresente do Estado sobre suas economias para poder crescer.

    Façamos agora um exercício analisando a atual gestão Lula levando em conta a visão de Peter Drucker. Uma afirmação luminosa de Drucker nos permite fazer um contraponto interessante. Diz ele: “O planejamento de longo prazo não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras às decisões presentes”. Não obstante a reiterada preocupação que Lula diz ter com a melhoria das condições de vida do povo, suas ações vão levá-lo na direção oposta. Parece não se dar conta das implicações futuras de suas decisões presentes. Em especial reincidir no que já deu errado.        

    Drucker sempre nos alerta quanto à importância de fazer as perguntas certas. Desse modo, a boa administração não pode começar pela pergunta “O que queremos fazer?”, e sim por outra: “O que precisa ser feito?”. Numa empresa, contratar parentes para uma função importante ao invés de um especialista qualificado é a receita certa para dar errado. 

    É evidente que Lula está bem mais preocupado com a colocação de “parentes” ideológicos do que com aquilo que precisa ser feito para destravar o país. Seus 37 ministérios são o oposto de uma administração enxuta, além de malversação do dinheiro público. A insistência em reestatizar dá bem a medida de que eficiência administrativa não está entre seus objetivos prioritários.  

    Quanto aos primeiros 100 dias, o governo tem pouco a comemorar. A comédia de erros continua a todo vapor. Sem ser exaustivo, alguns exemplos críticos nos indicam uma notável capacidade de insistir no que já deu errado. Certamente, deixariam Peter Drucker de cabelo em pé.

       Saneamento básico é sempre apontado por instituições internacionais como a pedra fundamental da saúde pública e melhoria do padrão de vida dos mais pobres. Os dois decretos emitidos por Lula buscam reverter o marco do saneamento. A proposta original era dar cobertura legal para investimentos privados contribuírem para a solução de um problema crônico do Patropi. Manter a presença do setor público como fornecedor desses serviços é insistir, mais uma vez, no erro.

    A extinção do teto de gastos com o estabelecimento de uma nova regra fiscal mal esconde o desejo secreto de gastar a rodo. O objetivo é abrir caminho para o gasto crescente ao invés de enxugar a máquina pública. O corte de gastos é visto como palavrão. O disfarce para encobrir a enganação é apostar no crescimento da arrecadação. Mais impostos sobre o contribuinte.

    A volta das invasões de propriedades rurais pelo MST – Movimento dos Sem Terra é um velho capítulo do nós contra eles. Na verdade, luta de classes, na recomendação clássica de Marx daquele motor (enguiçado…) do devir da História. Povos que avançaram em sua trajetória de desenvolvimento em bases consolidadas o fizeram muito mais pela colaboração constante entre classes sociais do que pela via tortuosa do conflito permanente.  

    O episódio da crítica ao Banco Central pelos juros elevados já teve seu mesmo capítulo anterior no governo Dilma, que resolveu baixá-los na marra. Pouco depois, ela voltou atrás, elevando-os significativamente, para controlar a inflação disparada. Pelo jeito, Lula vive um período de aguda memória fraca até mesmo em relação à história recente do país. E segue no receituário Dilma.  

    Poderia continuar enumerando os erros dos primeiros cem dias de Lula. Citei apenas os mais graves e ilustrativos do desastre, que parece estar na ordem do dia de amanhã do Patropi. Resta torcer e lutar para que a equação Lula 3 = Dilma 2 não seja o futuro que nos aguarda.  

    Nota: Vídeo “Dois Minutos com Gastão Reis: Que um mau governo dure pouco”:

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