Miséria próxima
O plebiscito embutido na eleição nacional versando sobre as “vitórias” petropolitanas, indagando aos eleitores se desejam ou não a continuidade da circulação dos tradicionais e românticos veículos pela ruas do Centro Histórico, partiu de defensores dos animais, centrados nos cavalos, que conduzem, nos veículos, passageiros, na sua maioria, felizes e encantados turistas, está massificado na eliminação dos veículos de tração animal e a sua substituição por trancalhos elétricos ou coisa que-o-valha. Corre a pergunta: – O quê (assim mesmo, com acento circunflexo) corre por trás dessa substituição? Tem muita semelhança com o desaparecimento dos bondes, no final da década de 1930, extintos por ato do interventor Yeddo Fiuza – que tudo podia em tempos da ditadura getulista, para beneficiar as nascentes empresas de ônibus, as quais venceram, porque autoras, financiadoras e interessadas no “embróglio”, dando fim aos bondes e tomando conta das ruas com suas viaturas de transporte coletivo, movidas a gasolina.
Veio o desagradável e desumano caos com o desemprego dos motorneiros, que tiveram que se adaptar a outros empregos, levando suas famílias ao desespero e sepultando de vez as empresas de Franklin Sampaio, exploradoras dos serviços de bondes e luz elétrica. E em plena fase crítica das agruras da 2ª Guerra Mundial.
Irá acontecer o mesmo com os charreteiros, especialistas por tradição familiar na profissão que executam com maestria e grande competência. Aponte quem puder desastres com as “vitórias” no trecho que cumprem há mais de 100 anos. Os poucos choques ocorridos aconteceram por culpa de motoristas em seus carros de explosão, por negligência, imprudência e incapacidade, sim senhor! Os charreteiros são seres humanos, diligentes pais de família, dependem do que fazem e, extinta a função e o serviço, experimentarão a miséria e o desconforto de todas as dificuldades geradas pela vida social. E pergunta-se: -Serão indenizados? Quem os indenizará? Sairão assim, com a mão na frente, a outra atrás e a perda da missão que tão bem executam? E no momento dessa guerra interna que sofre o país, de mil e uma dificuldades?
E os cavalos? O que será deles? Serão soltos pelas estradas sem alimentos e prontos aos inevitáveis atropelamentos e mortes horríveis?
Tanto os charreteiros quanto os cavalos dependem da atividade e estes últimos – os equinos – existem na humanidade como condutores dos ditos racionais há milênios. E, ninguém venha argumentar que são maltratados. Pelo contrário, estão sob amparo de competente veterinário, são bem alimentados, tratados com o carinho que todos merecem (racionais e irracionais). E temos em serviço 50 animais que passam por todas as avaliações e possuem boa e adequada saúde para o trabalho que executam.
Assim, para meditação, sejamos realistas quanto à tradição do serviço em Petrópolis, sempre executado com competência e gerador de um patrimônio turístico importante para a sobrevivência nossa no futuro, quando verifica-se que devemos ser únicos, com nossos valores históricos, turísticos e senhores de decisivos patrimônios da humanidade e, um deles, sem dúvida, não sermos iguais aos outros, mas primeiros e únicos na sobrevida e amparo ao nosso melhor presente ao turista: as “vitórias” que levam os visitantes pelas encantadoras alamedas de um passado rico e único e segredo de nosso futuro como município difusor do turismo e da cultura.
O quê está na cabeça dos autores de tanta desfaçatez? Eles sabem a resposta e, também, as reais motivações para essa guerra contra Petrópolis. Mas não estão levando a verdade ao canteiro das redes sociais, por onde transitam como se estivessem no galope de apresentação de cada páreo nos hipódromos da vida. Porque atropelam a verdade? Melhor refletirem sobre a miséria que estão construindo tanto para os racionais como para os irracionais. E destruindo uma tradição e um patrimônio turístico de nosso Município, fundamental ao nosso futuro.