• Álbum traz canção inédita e show de João Gilberto em 1998

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  • 03/04/2023 08:25
    Por Julio Maria / Estadão

    O Selo Sesc vai lançar na quarta, 5, um álbum que traz 36 músicas cantadas ao vivo em um show que João Gilberto (1931-2019) fez no Sesc Vila Mariana em 1998. O disco será o primeiro da série Relicário, uma nova aposta do Selo, com a divulgação de material inédito gravado durante shows que passaram pelas unidades da instituição.

    Além das faixas que estarão dispostas com exclusividade, e gratuitamente, na plataforma Sesc Digital, sairá, no dia 26 de abril, o álbum duplo com a íntegra do show.

    A novidade do repertório é a canção inédita Rei Sem Coroa que, apesar de compor o repertório de alguns shows, segundo o Sesc, “nunca foi registrada em estúdio ou gravada oficialmente pelo artista”.

    A canção é uma parceria dos compositores Herivelto Martins e Waldemar Ressurreição e foi inspirada na história do Rei Carlos II, da Romênia, que se hospedou no Copacabana Palace como residente após ser forçado a abdicar de seu trono durante a Segunda Guerra Mundial.

    Dentre as outras muitas canções, aparecem no primeiro CD Violão Amigo (Bide e Armando Marçal), Isto Aqui o Que é? (Ary Barroso), Curare (Bororó), Doralice (Dorival Caymmi e Antônio Almeida), Aos Pés da Cruz (Zé da Zilda e Marino Pinto) e Saudade da Bahia (de Dorival).

    O segundo álbum, com outras 15 faixas, traz Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha), O Amor em Paz (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Samba de Uma Nota só (Jobim e Newton Mendonça), Um Abraço no Bonfá (João Gilberto) e A Valsa de Quem Não Tem Amor (Custódio Mesquita, Ewaldo Ruy, João e Bebel Gilberto).

    Testemunha

    O pesquisador Carlos Rennó esteve em dois dos shows que João fez naquele temporada do Sesc de 1998. Por isso, foi convidado a escrever um texto para o encarte do disco. Ele diz que observou atentamente algumas mudanças nas letras feitas por João. “São pequenas alterações nas letras que valeriam um estudo”, diz. “Isso faz parte do projeto de aplicação de uma limpidez que caracterizava o estilo de João.”

    O texto do encarte indica os trechos que foram suprimidos ou modificados. Assim como nunca tocava uma harmonia ou fazia a divisão rítmica de uma melodia da mesma forma, João brincava também com as letras, algo menos falado por estudiosos de sua obra.

    Diretor regional do Sesc, Danilo Santos Miranda falou sobre a inauguração do projeto Relicário. “O lançamento do álbum reforça o compromisso institucional com a valorização do patrimônio imaterial do País e com a democratização do acesso aos bens culturais. Convido a todos a ouvir, de uma só vez, essas 36 canções na voz e no violão do bruxo de Juazeiro, apelido cunhado por Caetano Veloso”, diz, em um texto distribuído à imprensa.

    O lançamento do álbum coincide com os 25 anos desde a apresentação de João no Sesc Vila Mariana.

    A unidade havia sido inaugurada em dezembro de 1997, e João seria um dos primeiros grandes da música brasileira a usar o palco. Ao mesmo tempo, havia uma turnê em curso por parte de João Gilberto, pensada para celebrar os 40 anos da bossa nova. Ele iria rodar o País, com shows por Salvador, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Maceió. Em São Paulo seriam três dias de apresentações.

    A gravação, que acabou se tornando o álbum que sai agora, ocorreu na última delas, dia 5 de abril de 1998. Seus pedidos para realizar os shows se resumiram a um banco para piano, um tapete persa, uma mesa para violão e a “acústica perfeita”. “Esse último foi colocado à prova durante a apresentação, mas o bom humor do músico e a qualidade da gravação confirmaram o sucesso do novo espaço para apresentações”, diz um texto do projeto.

    Bebel na supervisão

    A origem dos trabalhos para transformar o registro em álbum se deu em 2018, quando começaram as movimentações no setor do Acervo Audiovisual do Sesc para o resgate da gravação original da apresentação em fita DAT. Ela foi localizada no acervo do estúdio da unidade Vila Mariana. Foi a partir daí que começou o trabalho de remasterização.

    A presença de Bebel pode ser lida também como uma segurança moral para que o trabalho viesse à tona. Herdeiros nem sempre conduzem esses projetos com tranquilidade e famílias desunidas podem simbolizar travamentos que fazem perder, no final das contas, os fãs e a memória do artista. Muito bom não ser o caso do espólio de João, como aponta o lançamento do Sesc, o primeiro depois da morte do artista.

    Danilo Santos falou ao jornal O Estado de S. Paulo sobre a iniciativa: “João chegou direitinho e fez um número incrível de músicas. Ele estava muito envolvente, deixando todo mundo cantar, e tudo isso foi gravado. Fizemos um tratamento dessa gravação. Ele estava muito bem humorado e cantou de forma diferente.”

    Para Danilo, o lançamento tem um peso não só nacional, mas também para um público de todo o mundo que busca novidades sobre o artista. “Trata-se de algum inédito em caráter nacional e mundial, já que existe uma força de João também fora do Brasil.”

    O Sesc, ele diz, tem por praxe gravar tudo o que passa por suas unidades. “Gravamos e registramos tudo o que fazemos, e temos muito material. Coisas desde os anos 70 e 80 até atualmente. Há uma série de burocracias ligadas a direitos autorais para os lançamentos, mas pretendemos agora termos esse verdadeiro conjunto de preciosidades que constitui em um relicário.”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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