Zelenski critica presidência russa em Conselho e relembra um ano do massacre em Bucha
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, chamou de absurda a nova liderança da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, assumida o último sábado, 1º de abril. Em seu discurso noturno, o ucraniano ressaltou que Moscou continuava lançando ataques letais às cidades ucranianas enquanto presidia o órgão mais importante das Nações Unidas.
Ele também fez questão de relembrar que o massacre em Bucha, onde foram encontradas centenas de valas comuns após a ocupação russa, completou um ano neste domingo, 2.
“A virada da Rússia como chefe do Conselho de Segurança mostra a completa falência de tais instituições”, disse Zelenski em seu discurso noturno.
Ele afirmouo que a mudança no conselho estava claramente atrasada e acrescentou que a Rússia “deve ser responsabilizada pelo terror e não presidir lugar algum”. Embora tenham endossado críticas, os Estados Unidos disseram que não há um mecanismo legal para alterar o status de Moscou na ONU, que é um dos cinco membros permanentes.
A Rússia deve presidir já nesta segunda-feira, 3, uma reunião do Conselho de Segurança pela primeira vez desde o início da guerra há quase 14 meses. O Conselho de Segurança visa manter a paz e a segurança internacional, e o papel da presidência é em grande parte cerimonial, assumido por um mês de cada vez em ordem alfabética por cada um dos 15 membros do conselho.
A presidência chega a Moscou semanas depois que o presidente Vladimir Putin foi acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional. A situação é um lembrete de que a Ucrânia e seus aliados, principalmente os Estados Unidos e a Europa, nem sempre tiveram sucesso em isolar a Rússia econômica e politicamente para punir o Kremlin pela guerra.
“Ontem, o exército russo matou outra criança ucraniana – um menino de 5 meses chamado Danilo”, disse Zelenski. “E, ao mesmo tempo, a Rússia preside o Conselho de Segurança da ONU. É difícil imaginar algo evidente que comprove a completa falência de tais instituições.”
A última vez que a Rússia ocupou a presidência, Putin declarou o início da “operação militar especial”, o termo usado pelo Kremlin para descrever sua invasão em grande escala da Ucrânia. Seu anúncio foi feito quando o Conselho de Segurança realizava uma reunião de emergência na esperança de impedir uma invasão.
Três dos 15 membros atuais do Conselho de Segurança – China, Índia e Emirados Árabes Unidos – evitaram culpar abertamente a Rússia pela guerra, em vez disso, pediram que ambos os lados cessassem as hostilidades. A Ucrânia não é um membro atual, mas Zelenski implorou a esses países que mudassem de rumo.
“É importante quando os Estados que são neutros no sentido político-militar, no entanto, assumem uma posição moral clara em relação ao terror russo, em relação à destruição pela Rússia da ordem global baseada em regras”, disse Zelenski.
No entanto, as autoridades ocidentais dizem que não há caminho legal para remover a Rússia de seu assento permanente no Conselho de Segurança. Embora a Rússia não tenha maior influência durante seu mandato na presidência, ela administrará a agenda das reuniões.
As autoridades russas não se incomodaram com as críticas sobre sua presidência. Dmitri Polianski, vice-embaixador russo nas Nações Unidas, disse que seu país agiria como um intermediário honesto. “Qualquer tentativa de nos provocar está fadada ao fracasso antecipado”, disse ele no sábado, segundo a agência de notícias russa Tass.
Um ano de Bucha
Neste domingo, Zelenski usou o Telegram para elogiar os ucranianos que resistiram no primeiro aniversário da descoberta do massacre em Bucha. Ao lado de lideranças de Moldávia, Eslováquia, Eslovênia e Croácia, o ucraniano prestou homenagens às vítimas do episódio.
A cidade, um subúrbio ao norte de Kiev que tinha 37.000 habitantes antes da guerra, tornou-se um símbolo das atrocidades atribuídas às tropas invasoras. Moscou nega qualquer envolvimento nas mortes de civis e afirma que foi uma encenação de Kiev e seus aliados.
“Povo ucraniano! Eles resistiram à maior força contra a humanidade de nosso tempo. Eles pararam uma força que eles desprezam e que quer destruir tudo o que é importante para o povo”, escreveu Zelenski. “Libertaremos todas as nossas terras. Colocaremos a bandeira ucraniana de volta em todas as nossas cidades”, acrescentou. Moscou ainda controla mais de 18% do território ucraniano.
O chefe do Exército, Valeri Zaluzhni, afirmou que os soldados vão continuar a “lutar pela independência da nossa nação”.
Em 2 de abril do ano passado, um grupo de repórteres da AFP entrou em Bucha e encontrou nas ruas os corpos de vinte homens com roupas de civis, um deles com as mãos amarradas nas costas, veículos carbonizados e casas destruídas.
A cena comoveu o mundo. A Ucrânia e as potências ocidentais denunciaram execuções sumárias de civis e crimes de guerra que, segundo o presidente ucraniano, serão “reconhecidos pelo mundo como genocídio”.
Para o comandante das forças terrestres ucranianas, Oleksandre Sirski, a retirada dos russos da região de Kiev há um ano constituiu “uma vitória estratégica” que permitiu “novas operações bem-sucedidas”. O Exército russo retirou-se de Bucha e de toda a região ao norte de Kiev em 31 de março de 2022, pouco mais de um mês após o início da invasão.
Desde então, quase todos os líderes estrangeiros ocidentais que visitaram a Ucrânia em demonstração de apoio também passaram por Bucha.
Marcando o aniversário da libertação da cidade na sexta-feira, Zelenski disse esperar que a cidade se torne um “símbolo de justiça”. “O mal russo cairá, precisamente aqui na Ucrânia, e não poderá mais se levantar”, declarou ele junto com os primeiros-ministros da Croácia, Eslováquia e Eslovênia e a presidente da Moldávia.
Acompanhados por Zelenski, os chefes de Governo recordaram os mortos depositando velas no memorial dedicado às vítimas erguido em Bucha. Durante a cerimônia, foram revelados os nomes das 77 vítimas encontradas em uma vala comum ao lado da Igreja de Santo Apóstol Andrés e Todos os Santos, que já puderam ser identificadas. Onze soldados ucranianos que morreram na batalha pelo controle da cidade também foram citados.
Kiev estima o número de civis mortos no distrito durante a ocupação russa em mais de 1.400, incluindo 37 crianças. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS