Estados paralelos na Amazônia brasileira
Na Amazônia brasileira três estados disputam os espaços de poder: o primeiro é o estado formal, oficial, constituído pelas instituições da União, dos estados e dos municípios; o segundo é o crime organizado, representado principalmente pelo narcotráfico, que nas áreas de fronteira já é o primeiro empregador, superando neste quesito as prefeituras; o terceiro estado é formado pelas organizações não governamentais financiadas pelo exterior com o objetivo de bloquear qualquer tipo de desenvolvimento na região, sob pretexto de que isso representaria um risco ao meio ambiente.
A tragédia consiste no fato de que os dois estados paralelos convivem de tal maneira que quando o das ONGs bloqueia o desenvolvimento termina por liberar a mão de obra que acaba encontrando no do crime organizado um meio de sobrevivência.
A indústria da madeira foi praticamente extinta na Amazônia, acusada da prática de crimes contra a natureza; a mineração enfrenta uma campanha internacional, embora continue a ocorrer na ilegalidade, sem pagar impostos e causando danos ao meio ambiente; a pecuária e a agricultura são associadas a todo tipo de morbidez, do trabalho escravo ao desmatamento, sem que se distinga a minoria criminosa dos produtores rurais que contribuem para a segurança alimentar do Brasil e do mundo.
Tal é a situação que pouco resta aos jovens da Amazônia como alternativa de trabalho, mesmo para os 600 mil que conseguem frequentar uma universidade ou para outros milhares matriculados nas escolas técnicas da região. Esses jovens testemunham diariamente a perseguição a familiares e conhecidos que trabalham no campo e, naturalmente, não desejam ter o mesmo destino, buscando alternativas que infelizmente a economia local não oferece.
Em entrevista ao Jornal Valor Econômico do último 18 de março, o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, anunciou que iria combater o desmatamento na Amazônia via o sistema de comando e controle, o que no jargão do órgão se traduz por autuação, multa e embargo de áreas produtivas.
A Amazônia e o Brasil acolherão em 2025 a Conferência Mundial da ONU sobre o Clima no momento em que a Amazônia ocupa o lugar de destaque na agenda internacional do meio ambiente.
O desafio reside em converter a agenda única do clima na agenda dupla que combine meio ambiente e desenvolvimento. Os quase 30 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia são portadores dessa dupla aspiração e desse duplo direito: o direito ao meio ambiente saudável e o direito ao bem-estar material e espiritual que pode ser criado pelo desenvolvimento.
Ao pautar o binômio proteção do meio ambiente/desenvolvimento, o Brasil recuperará um dos momentos sublimes de sua diplomacia na primeira Conferência do Clima da ONU, em Estocolmo-Suécia, em 1972, e homenageará o embaixador Araújo Castro, diplomata/estadista, que representou o Brasil naquela ocasião.