Tropecei na fome
Caminhando pelas ruas da cidade, tive que me deslocar de um ponto extremo a outro, com objetivo de equacionar diversos assuntos pendentes. Assim é que me dirigi logo cedo a um posto dos Correios com a finalidade de enviar uma correspondência à cidade de Nova Friburgo, até que chegasse o momento de encontrar o amigo com o qual já marcara na véspera um almoço a fim de colocar a “conversa em dia”, sem que me esquecesse de passar pela ótica, uma vez que meus óculos se quebraram.
Não muito acostumado a longas caminhadas – é verdade que censurado por tantos ante esta decisão – acabei por iniciar o trajeto pela rua General Osório e assustei-me, logo após adentrar à ótica, vez que já estava chegando ao término da caminhada, ou seja, a Rua Paulo Barbosa.
Ali seria enfim, o ponto final da “forçada jornada”.
O percurso demorou pouco mais de sessenta minutos, ainda assim tive oportunidade de cumprimentar amigos, escolher novos óculos já que sem eles não sou ninguém, bem como adquirir os jornais da terra, além de levar alguns tropeções em calçadas mal conservadas. Que lástima!
De volta, tive a certeza de haver tropeçado não só nas calçadas irregulares e pedras soltas, como também observar a respeito de motoristas que ignoram os pedestres em travessias de ruas, além de tropeçar na fome.
Em consequência, tanto no percurso de ida como de retorno, assisti com tristeza, muitas pessoas deitadas no chão das calçadas, mães implorando ajuda, crianças em busca de esmolas para compra de um pão, até porque uma delas chegou a me relatar que não mais sabia o sabor do queijo e da manteiga já que o simples café da manhã faltava costumeiramente no barraco onde residia-admito em terríveis condições – juntamente com a mãe tendo em vista que o pai os abandonara.
Ao chegar à garagem onde estacionara meu carro e depois de dar a partida em direção à casa, fiquei a meditar sobre a triste situação em que se encontra grande parte da população brasileira, ou seja, de pedintes e moradores de rua, famintos.
Comentei o ocorrido com a família e todos concordaram manifestando idêntico ponto de vista com aquele por mim esposado.
O assunto ainda foi objeto de considerações, entretanto, nossos compromissos funcionais fizeram com que todos nos retirássemos.
Logo após, em decorrência do que assisti, busquei eleger o pensamento constante da trova de lavra de Edmar Japiassú Maia, vencedor do XII Jogos Florais de Amparo, S. Paulo, quando escreveu:
“A fome não há quem dome… / E o pobre, ao fim da jornada, / vai dormir com sua fome, e / a fome… fica acordada!”.