Taxa do cheque especial chega a 303,2% ao ano em julho
A taxa de juros do cheque especial caiu em julho, de acordo com dados do Banco Central (BC) divulgados nessa quarta-feira (29). A taxa chegou a 303,2% ao ano, com redução de 1,7 ponto percentual em relação a junho. Essa é a menor taxa desde março de 2016, quando estava em 300,8% ao ano. Na comparação com julho de 2017, houve redução de 18,1 pontos percentuais na taxa do cheque especial.
As regras do cheque especial mudaram em julho. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os clientes que utilizam mais de 15% do limite do cheque durante 30 dias consecutivos passaram a receber a oferta de um parcelamento, com taxa de juros menor que a do cheque especial definida pela instituição financeira.
O chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do BC, Renato Baldini, disse que a redução na taxa do cheque especial ainda não deve estar relacionada às mudanças definidas pelos bancos, mas está seguindo o ritmo de recuo dos últimos meses. Entretanto, para Baldini, a medida gera a certeza que “o saldo devedor não vai permanecer por muito tempo”. “De fato, deve haver redução do risco dessa modalidade e levar à redução da taxa de juros, mas isso deve ocorrer de forma gradual”, disse.
A taxa média do rotativo do cartão de crédito também caiu, chegando a 271,4% ao ano, com redução de 20,4 pontos percentuais em relação a junho. A taxa média é formada com base nos dados de consumidores adimplentes e inadimplentes.
No caso do consumidor adimplente, que paga pelo menos o valor mínimo da fatura do cartão em dia, a taxa chegou a 252,1% ao ano em julho, com redução de 9 pontos percentuais em relação a junho.
Já a taxa cobrada dos consumidores que não pagaram ou atrasaram o pagamento mínimo da fatura (rotativo não regular) caiu 28,1 pontos percentuais, chegando a 285,2% ao ano.
O rotativo é o crédito tomado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão. O crédito rotativo dura 30 dias. Após esse prazo, as instituições financeiras parcelam a dívida.
Em abril, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu que clientes inadimplentes no rotativo do cartão de crédito passem a pagar a mesma taxa de juros dos consumidores regulares. A regra entrou em vigor em junho deste ano.
Mesmo assim, a taxa final cobrada de adimplentes e inadimplentes não será igual, porque os bancos podem acrescentar à cobrança os juros pelo atraso e multa.
Ao ser perguntado sobre o aumento dos juros para os clientes adimplentes em junho (subiu de 242,6% para 261,1% ao ano), Baldini disse que essa medida não teve o objetivo de reduzir os juros, mas seguir recomendações do Ministério Público de eliminar a diferença de juros para consumidores que pagam em dia e os que atrasam. “A medida não foi proposta com intenção específica sobre a taxa de juros dessa modalidade, mas para seguir algumas recomendações do Ministério Público”, destacou.
Modalidades caras
Apesar da redução das taxas do rotativo do cartão e do cheque especial, essas modalidades de crédito são as mais caras entre as oferecidas pelos bancos. A taxa do crédito pessoal, por exemplo, é mais baixa: chegou a 118,5% ao ano, em julho, com aumento de 3,8 pontos percentuais em relação a junho. A taxa do crédito consignado (com desconto em folha de pagamento) ficou praticamente estável, com a redução de 0,1 ponto percentual, chegando a 24,9% ao ano, em julho.
A taxa média de juros para as famílias caiu 1,1 ponto percentual para 52% ao ano, em julho. A taxa média das empresas subiu 0,4 ponto percentual: agora é de 20,6% ao ano.
Inadimplência
A inadimplência do crédito, considerados atrasos acima de 90 dias, para pessoas físicas, permaneceu em 5%.
No caso das pessoas jurídicas, houve queda de 0,3 ponto percentual para 3,4%. Esses dados são do crédito livre em que os bancos têm autonomia para aplicar dinheiro captado no mercado.
No caso do crédito direcionado (empréstimos com regras definidas pelo governo, destinados, basicamente, aos setores habitacional, rural e de infraestrutura) os juros para as pessoas físicas caíram 0,2 ponto percentual para 7,8% ao ano. A taxa cobrada das empresas subiu 0,3 ponto percentual para 9,2% ao ano. A inadimplência das pessoas físicas permaneceu em 1,9% e das empresas chegou a 1,4%, com redução de 0,2 ponto percentual.
Em julho, o saldo de todas as operações de crédito concedidas pelos bancos ficou em R$ 3,125 trilhões, com recuo de 0,2%, no mês e crescimento de 1,1%, no ano. Em 12 meses, a expansão chegou a 2,4%. Esse estoque do crédito corresponde a 46,4% de tudo o que o país produz – Produto Interno Bruto (PIB), com redução de 0,4 ponto percentual em relação a junho.
Baldini avalia que o crédito manteve a tendência de recuperação, em julho, embora tenha havido redução no saldo no mês. Segundo ele, esse recuo é característico do período (sazonal), gerado pela redução de empréstimos às empresas, como antecipação de faturas de cartão de crédito, recebíveis e duplicatas.
Para Baldini, “o mercado de crédito tem apresentado condições favoráveis à recuperação”, com taxas de juros em “patamares relativamente baixos”, acompanhando as reduções da taxa básica de juros, a Selic. Outros fatores citados por ele foram os “níveis de inadimplências historicamente baixos”, redução do endividamento das famílias e recuperação gradual da economia. “Porém existem fatores de incertezas no país e o fator eleitoral é o mais importante nesse momento.”