‘Guarda-Costas’ atualiza o delicado tema do assédio
A cada apresentação que termina do espetáculo O Guarda-Costas – O Musical, a atriz e cantora Leilah Moreno sente um gosto particular de vitória. “Fui muito cancelada por querer interpretar músicas de Whitney Houston e poder fazer isso agora é muito especial”, diz ela.
O musical, que estreou no Teatro Claro, no Shopping Vila Olímpia, é inspirado no filme O Guarda-Costas, de 1992, em que Kevin Costner viveu Frank Farmer, um policial contratado para proteger Rachel Marron (papel de Whitney), grande cantora e atriz que passa a ser alvo de um stalker, ou seja, um perseguidor. Ele passa a enviar cartas anônimas e ameaçadoras à estrela da música, além de conseguir se infiltrar em lugares frequentados por ela. O longa pode ser visto na HBO Max.
“Apesar de a história ter mais de 20 anos, continua muito atual”, comenta o diretor Ricardo Marques, que teve ao seu lado Igor Pushinov como associado. “A trama fala de temas importantes como o stalker e o assédio vividos por Rachel; o sentimento de solidão experimentado pela protagonista mesmo diante da fama; e o fato de que o amor pode estar ao nosso lado, exibido pela paixão que nasce entre a estrela e o guarda-costas.”
De fato, na versão brasileira escrita por Sofia Bragança Peres, Silvano Vieira e o próprio Marques, a história é atualizada e os personagens utilizam aparelhos tecnológicos contemporâneos, como celulares.
A ação do stalker é também mais agressiva e assustadora. “Aqui, ele age de forma mais doentia, o que acentua a gravidade de ações de pessoas como essa”, completa Marques, que, no primeiro dia de ensaio, buscou descobrir o que cada artista sentia em especial sobre a solidão, sentimento que marca a rotina das pessoas obrigadas a viver protegidas.
Foi quando ganhou importância a trajetória de Leilah Moreno até conquistar o papel de Rachel. “Quando vi o filme pela primeira vez, eu era menina e coloquei na cabeça que também faria aquela personagem”, conta ela que, em 2001, começou a participar do quadro Quem Sabe Canta, Quem Não Sabe Dança, do Programa Raul Gil.
Censura
“Nesta época, eu sempre selecionava alguma canção da Whitney Houston para cantar, mas, quando fazia isso, recebia várias cartas de pessoas me criticando, dizendo que minha voz não era ideal – algumas eram realmente agressivas”, conta ela que, diante da pressão, desistiu do repertório. “Acreditei naquelas pessoas e me censurei, o que não faria hoje.”
A voz de Leilah é mais grave e não tão aguda como era a de Whitney, o que a obriga a buscar essa região nas cordas vocais, trabalho que exige muito treinamento.
Quando soube que haveria processo de seleção para o elenco do musical, Leilah pediu uma chance e, apesar de alguns atropelos, conseguiu fazer um teste. “Fui bem na atuação, mas nem tanto na voz – acreditei que não teria chance”, relembra ela, surpreendida por uma ligação de Ricardo Marques anunciando sua escalação. “Ela, de fato, não foi bem no teste vocal, mas sua obstinação por cantar músicas da Whitney nos convenceu”, conta o diretor.
Hits
Apesar da prolífica carreira – participou da coletânea Divas do Brasil, em Portugal, em 2003, quando foi reconhecida na Europa como uma das 30 melhores vozes do século, e foi também indicada, em 2007, ao Grammy Latino -, Leilah confessa que ainda se sente receosa de interpretar canções de Whitney. “O que me anima é que a peça, como o filme, não é sobre ela, mas sim um personagem que Whitney interpretou.”
Mesmo assim, confessa que sente um frio na barriga quando está prestes a interpretar hits de Whitney Houston, como I Will Always Love You, Run to You e I Have Nothing. “São momentos muito esperados pelas pessoas, uma expectativa que também me influencia.”
Por conta disso, aliás, apenas algumas músicas foram traduzidas para o português, apenas as que realmente ajudam a contar a história – os grandes números continuam em inglês.
“Leilah tem uma incrível presença de palco: ela atrai a atenção do público”, acredita o ator Fabrizio Gorziza, que dá vida ao guarda-costas. “Nosso entrosamento começou logo no início do processo, o que facilitou trazer mais veracidade para as cenas.”
De fato, além de uma certa semelhança física com Kevin Costner, Gorziza dosa na medida certa o rigor de um policial em serviço de proteção com a fragilidade do homem que se apaixona.
“É uma atuação genuína, importante para o espetáculo e até surpreendente para um ator que nunca participou de um musical”, observa Ricardo Marques.
O Guarda-Costas – O Musical
Teatro Claro SP
Shopping Vila Olímpia
Rua Olimpíadas, 360. 5ª e 6ª, 21h. Sábado, 17h30 e 21h30. Domingo, 19h. R$ 50 / R$ 200.
Até 23/4
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.