Com ‘John Wick: Baba Yaga’, Keanu Reeves defende o cinema
Keanu Reeves é um dos atores mais discretos de Hollywood. Pouco se sabe de sua vida. Ele também tem a fama de ser um dos caras mais legais da indústria, vivendo sem ostentação, sendo filmado e fotografado dando lugar a uma moça no metrô ou comendo um sanduíche num banco de praça. Na verdade, ele não gosta muito de ser chamado de astro.
Na tela grande, ultimamente, ele fez sucesso colocando à prova seu físico e habilidades em cenas de ação como John Wick, que chega à sua quarta aventura, John Wick 4: Baba Yaga, nesta quinta, 23, no Brasil. A série começou em 2014, quando o assassino aposentado John Wick se viu obrigado a se vingar de quem matou o seu cachorro, enquanto vivia um luto. A cada filme, o escopo foi ficando maior.
No quarto longa dirigido por Chad Stahelski, John Wick é perseguido e percorre o mundo tentando se vingar da Cúpula, o sindicato do crime. Ele quer se livrar da sua dívida para curtir sua aposentadoria em paz, indo a Nova York, Paris, Berlim e ao Japão. Na sexta, 17, todos foram surpreendidos com a morte do ator Lance Reddick, de 60 anos, que participou do filme.
Reeves, aos 58, mantém o mesmo ar jovial, meio desengonçado, meio envergonhado que usou nas comédias de Bill & Ted. Ele veio ao Brasil em dezembro para a CCXP, para falar de John Wick 4 e também da HQ BRZRKR, que criou em parceria com o brasileiro Rafael Grampá, com Matt Kindt e Ron Garney. Nesta entrevista, ele falou sobre John Wick, a paixão pelas cenas de ação e pelo cinema.
Você mencionou várias vezes o quanto se diverte fazendo essas cenas de ação em John Wick. Acha que elas lhe oferecem alívio, mas também desafio? Por que gosta tanto de fazê-las?
Por que eu gosto de cenas de ação? Bem, eu não sei. Lutas falsas são divertidas. Quero dizer, acho que gosto do treinamento. Gosto de aprender as novas habilidades, adoro o judô, os arremessos, um pouco do jiu-jítsu. Amo toda a manipulação de armas. Talvez seja o virginiano em mim. A coisa da repetição de algo e tentar conseguir fazer, tudo isso. Adoro trabalhar com outras pessoas e a dança de uma sequência de ação. Eu amo esse desafio. E tem uma coisa legal, como quando filmamos, você treina muito, treina com as pessoas que vai lutar no filme, e aí tem um nível de treino e outro nível de filmagem. E quando o diretor diz ação, é: Uau, vamos lá. E há algo emocionante sobre a cooperação. Trabalhar para que a cena seja boa, se não ótima, acaba criando uma camaradagem.
E aqui se você enfrentar Donnie Yen, que é lendário.
Lendário.
Então, como foi isso? Havia como uma competição entre vocês?
Não, não. Ele é tão (faz gesto de acima)…
Você é ótimo, vai.
Eu sou como uma formiguinha, e ele é como uma montanha. E ele é tão generoso, tão bom. E profissional. Ele é tão rápido. Temos algumas sequências, e ele usa uma espada. E nós tínhamos toda essa coreografia, e ele começou a ir, e eu pensei, esqueça a coreografia. Nós apenas vamos inventar isso, o que acrescentou uma espécie de zona livre, como um perigo para a cena. E ele tem um ótimo estilo de luta. É legal.
E quando não está treinando para os filmes, segue praticando algumas das habilidades que aprende?
Faço artes marciais de mentirinha, de filme. A única coisa que realmente continuo é um pouco da manipulação de armas e ir para o estande de tiro. A pessoa com quem treinei mora a cerca de uma hora de distância, e o estande fica lá. Então é legal ir. Trabalho com as pistolas, o carregamento das armas, as transições. É uma tarde agradável.
É o primeiro papel da cantora Rina Sawayama no cinema.
É o primeiro papel dela? Ela fez videoclipes.
Sim. Você acha que é meio parecido fazer performances em videoclipes e atuar?
Sim, quero dizer, ela é ótima. Rina e o ator Hiroyuki Sanada, que interpreta o pai dela, trabalharam juntos para conseguir essa conexão. Ela estava realmente aberta a isso, e os dois trabalharam muito de perto para conseguir esse relacionamento. Fora que ela fez cenas de ação de John Wick. Ela é incrível.
Com a pandemia, muita coisa mudou no mundo e no cinema. Alguns atores de sua geração, como Tom Cruise, assumiram como missão trazer as pessoas de volta aos cinemas. Ele conseguiu isso com Top Gun: Maverick. Você se vê nesse papel de alguma forma?
Sinto-me um defensor do cinema. Eu amo a experiência de ir ao cinema e amo estar em filmes que fazem isso, que têm escopo. Eu amo a intensidade, a imersão que uma grande tela e o som de um cinema provocam e de ver um filme com outras pessoas. Então, para mim, essa experiência é muito especial. E em qualquer lugar que eu possa falar sobre como é bom ir ao cinema, eu falo. Com John Wick 4: Baba Yaga, definitivamente, você tem que ir ao cinema, é tão bom.
Você trabalhou com muitos diretores, inclusive grandes cineastas, como Bernardo Bertolucci, Gus Van Sant e Francis Ford Coppola. Ainda há espaço de filmes mais autorais nas salas de cinema?
Sim, (Alejandro González) Iñarritú, Denis Villeneuve, Christopher Nolan, James Cameron, Martin Scorsese. Há tantos tipos de cineastas. Mas, na verdade, sinto que, mesmo em filmes independentes, há algo especial em ver um rosto de 6 metros de altura. A intimidade que você pode obter, todos os detalhes que você pode ver em uma tela grande. E não precisa ser uma produção grande, acho que até filmes íntimos realmente se beneficiam de serem vistos na tela grande. Podemos ficar mais perto. Porque as histórias, elas querem provocar emoção, querem evocar conexão. E acho que, com a tela grande, essa conexão é algo especial.
Você vai muito ao cinema?
Vou! Eu vou ao cinema. Sim.
É cinéfilo?
Acho que não chego a ser cinéfilo. Mas eu amo filmes. Acabei de ver Tár de Todd Field no cinema. É incrível. Fantástico.
Você também é um autor, diretor, criador de quadrinhos. Por que você gosta de fazer esses projetos? Que tipo de criatividade está envolvida nisso que é diferente de estrelar um filme?
Sim, fazer uma história em quadrinhos, coescrever uma história em quadrinhos foi divertido! Eu gosto de contar histórias. Eu gosto de criar histórias. Gosto de habitar diferentes personagens, pontos de vista e criar mundos. E eu amo poesia. Eu tenho um livro de poesia. Então eu gosto de escrever. Na verdade, eu amo escrever.
Você escreve regularmente para si mesmo?
Bem, nos últimos três anos tenho trabalhado em uma história em quadrinhos, desenvolvendo algo com Rafael Grampá. Ele é uma lenda. Incrível.
Você veio ao Brasil pouco antes da CCXP. É para um projeto sobre a Fórmula 1?
Sim. É um documentário sobre a temporada de 2009. E o Rubens Barrichello foi piloto da Brawn, que foi a equipe campeã. E então vim aqui para entrevistar o Rubens e o Felipe Massa. E esses dois senhores são incríveis.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.