Ucrânia pressiona por caças do Ocidente que podem escalar conflito
Em Londres, no dia 8, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, entregou um capacete da Força Aérea ao presidente do Parlamento britânico com a mensagem: “Nós temos liberdade, nos dê asas para protegê-la”. Cinco dias depois, seu ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, em Bruxelas, tirou do bolso do paletó um lenço com o desenho de um caça e o exibiu a jornalistas.
O pequeno teatro ucraniano aponta para a próxima fronteira que Kiev busca cruzar na guerra que entra em seu segundo ano: os caças. Com o aumento da sofisticação e da letalidade das armas enviadas à Ucrânia, o tema já não é mais entre governos ocidentais. Se o americano Joe Biden rejeita a ideia, países como França, Reino Unido e Suécia se mostraram abertos a ela. A Rússia respondeu com ameaças de retaliação.
RISCO
Em 12 meses, o Ocidente aumentou as promessas de ajuda militar, com tanques, sistemas de defesa, drones e armas de longo alcance. Os caças seriam o próximo passo. A relutância, porém, segundo analistas ouvidos pelo Estadão, ocorre por dificuldades técnicas e pela escalada da guerra.
A ajuda ocidental e a resiliência dos ucranianos têm sido crucial para o resultado da guerra. Segundo James Pritchett, diretor do programa de Estudos de Guerra da Universidade de Hull, os caças ocidentais podem ser determinantes. Mas, além de esquadrões, a Ucrânia precisaria de apoio logístico, treinamento e manutenção.
Para o especialista e repórter especial do Estadão Roberto Godoy, para fazer diferença, a Ucrânia precisaria de pelo menos 70 caças para reduzir a superioridade da Força Aérea da Rússia, com seus Sukhoi Su-35 e MiG-31 – a atual frota da Ucrânia inclui jatos da era soviética.
O grupo de monitoramento holandês Oryx estima que a Ucrânia tenha perdido 53 aviões. São tantos que, segundo Godoy, os ucranianos hoje avaliam com muito critério antes de fazer um ataque. Com os novos caças, eles poderiam proteger suas forças terrestres, mas a capacidade de atacar dentro do território russo alimenta o temor de uma escalada.
A questão crítica, segundo George Liber, especialista em Ucrânia e Rússia da Universidade do Alabama, é o tipo de caça e quando ele seria enviado. “Se os EUA enviarem F-16, os ucranianos precisarão de seis meses de treinamento.
Portanto, a decisão teria de ser tomada imediatamente”, disse. “Se a opção for enviar MiGs de fabricação soviética, que muitos aliados no Leste Europeu ainda têm, o tempo de treinamento seria menor e a decisão poderia ser tomada depois.”
URGÊNCIA
Se os caças forem enviados, analistas especulam qual seria o próximo limite a ser cruzado. “É difícil pensar em armas mais sofisticadas do que caças de última geração”, diz Pritchett. “Alguns mísseis avançados, talvez, mas isso seria a vanguarda dos sistemas e uma ajuda muito além da esperada a um país de fora da Otan.”
Para Godoy, além de prorrogar a guerra, o envio de caças pode estabelecer como próxima fronteira o uso de uma arma nuclear tática. “Se passarem os caças, a próxima etapa seria uma guerra total, de EUA e Otan contra Rússia, ou o uso de uma arma tática nuclear, o que seria arriscado, porque não sabemos o tamanho da resposta.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.