Naufrágio deixa 58 imigrantes mortos na costa sul da Itália
O naufrágio de uma embarcação lotada de imigrantes deixou 58 pessoas mortas, incluindo um bebê e crianças, neste domingo, 26, nas proximidades de Crotone, na Itália. A tragédia aconteceu poucos dias após a aprovação de leis que limitam os resgates feitos por organizações humanitárias nos mares italianos.
Segundo a imprensa italiana, a embarcação transportava de 150 a 250 migrantes. As vítimas eram do Afeganistão, Irã, Paquistão e Síria. Mais de 80 pessoas foram resgatadas com vida, e as buscas por desaparecidos continuam.
As causas do naufrágio são incertas. A agência de notícias italiana AGI informou que o barco tinha excesso de peso e partiu ao meio depois de ser atingido por uma onda.
Já a Guarda Costeira informou que a embarcação colidiu contra rochas. Investigações apontam que o barco partiu da Turquia há três dias.
Alguns dos corpos foram localizados em praias de Steccato di Cutro, região turística na costa leste da Calábria. Um dos bombeiros que participa das operações de resgate afirmou que um recém-nascido foi encontrado morto. Equipes de resgate fazem buscas em motos aquáticas, mas o mar revolto e as condições climáticas dificultam as operações.
Imagens divulgadas pela polícia italiana mostram pedaços de madeira espalhados pela praia, enquanto alguns dos migrantes aguardavam a transferência para um centro de acolhimento. Uma pessoa suspeita de envolvimento com tráfico de pessoas foi detida.
Itália aprova leis que restringem resgate de embarcações
A Itália é um dos principais pontos de desembarque de migrantes que tentam entrar na Europa por mar. Muitas dessas pessoas depois tentam chegar a países mais ricos do continente usando redes de contrabandistas, segundo autoridades. Mais de 100 mil pessoas chegaram ao país de barco em 2022.
O naufrágio aconteceu poucos dias depois da aprovação no Parlamento italiano de novas regras para o resgate de migrantes, apoiadas pelo governo de ultradireita que lidera o país.
A nova lei obriga os navios humanitários a fazerem apenas um resgate por saída ao mar, o que, segundo críticos, aumenta o risco de mortes no Mediterrâneo central, área considerada a travessia mais perigosa do mundo para os migrantes.
Sob a nova lei, as embarcações devem voltar ao porto sem demora após um resgate e divulgar informações detalhadas sobre suas atividades no mar.
Antes, costumavam passar vários dias no Mediterrâneo central e frequentemente concluíam vários resgates antes de voltarem à Itália. Quem violar a regra pode ser multado em até € 50 mil (R$ 259 mil) .
A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos da Itália, chegou ao poder em outubro passado com uma coalizão que prometeu a diminuição da entrada de migrantes no país. Ela expressou sua “profunda tristeza” e prometeu intensificar os esforços para coibir a migração irregular.
“É criminoso lançar no mar um barco com apenas 20 metros e 200 pessoas a bordo em condições meteorológicas adversas”, disse Meloni. “É desumano trocar a vida de homens, mulheres e crianças pelo preço de uma passagem paga com a falsa perspectiva de uma viagem segura.”
As declarações foram ecoadas por integrantes do governo. O ministro do Interior, Matteo Piantedosi, disse que a tragédia mostra a “necessidade absoluta de agir com firmeza contra os canais irregulares de migração”.
Antonio Ceraso, prefeito de Cutro, lamentou a tragédia. “É algo que ninguém gostaria de ver. Uma visão horrível que vai ficar comigo pelo resto da vida. O mar continua devolvendo os corpos. Entre as vítimas estão mulheres e crianças”, disse.
O papa Francisco, que frequentemente defende o direito dos migrantes, pediu orações às vítimas do naufrágio em discurso na Praça de São Pedro.
“Bloquear e dificultar o trabalho das ONGs terá apenas um efeito: a morte de pessoas vulneráveis deixadas sem ajuda”, escreveu nas redes sociais a organização de resgate de migrantes espanhola Open Arms, após o naufrágio deste domingo.
De acordo com o Projeto de Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações, 20.333 pessoas morreram ou desapareceram no Mediterrâneo central desde 2014.