• Livres: é assim que as mulheres assumidamente grisalhas se definem

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  • 31/07/2018 09:50

    Espanto para alguns e curiosidade de muitas mulheres! Já do outro lado, confiança, liberdade e aceitação marcam as que deixaram para trás as tintas de cabelo e assumiram os fios grisalhos. Afinal, os homens não são os únicos capazes de ficar ainda mais charmosos com os cabelos brancos, não é mesmo? Mas, por não ser uma prática comum entre o público feminino, ainda existem muitos questionamentos em torno desse tema. É o que afirma a fisioterapeuta Andrea Pinheiro dos Santos, de 47 anos, que percebeu o primeiro cabelo branco aos 18 anos. 

    Assumidamente grisalha, ela descreve a etapa atual, livre das tinturas, como libertadora e feliz. Mas como nem tudo são flores, algumas situações, no mínimo curiosas, acontecem com certa frequência no dia a dia. Uma delas foi quando a filha de apenas quatro anos perguntou se Andrea morreria mais cedo por causa da cor dos cabelos. Surpresa com o questionamento, a fisioterapeuta explicou com toda calma que os cabelos brancos são normais para todos. 

    “Mostrei para ela que, além dos cabelos brancos não serem um indício de morte próxima, existem várias pessoas, mais novas e/ou velhas, que também têm cabelos brancos, mas os pintam. Em outra ocasião, uma amiga, que não via há um tempo, me encontrou na rua e perguntou se eu estava em depressão, pois estava com uma aparência abatida. Na verdade, eram apenas os três dedos de raiz de cabelos brancos substituindo, aos poucos, os fios que ainda eram pintados”, contou.

    O processo de aceitação do novo visual não foi simples para amigos e familiares. A mãe de Andrea, que até hoje pinta o cabelo, vez ou outra ainda sonda a filha. “No início ela não gostou nada! Mas aos poucos foi aceitando e hoje é bem tranquilo. Mas às vezes ela fala coisas do tipo: mas você nunca mais vai pintar o cabelo mesmo?”, contou entre risos.

    Apesar disso, para Andrea, a aceitação foi libertadora. Claro que houve um ou outro momento incômodo. Até porque a fase que o cabelo grisalho começa a crescer e “confronta” com os fios antigos pintados deixa uma aparência de desleixo, segundo ela. “Quando esse período termina, é sensacional! Não têm mais horas perdidas no salão, nem dinheiro gasto com tintas que ficavam no cabelo por menos de um mês, tendo em vista que a raiz de quem ainda pinta o cabelo precisa ser constantemente retocada. Parei de pintar quando engravidei da minha quarta filha. Foi uma espécie de desafio, de início fiquei reticente, mas hoje vejo que foi uma das melhores decisões que adotei. Não ser escrava do salão, ter os fios mais saudáveis, sem ter que seguir rótulos ou regras, não tem preço. Sou uma incentivadora das que querem parar de pintar os cabelos”, afirma. 

    Outra situação positiva destacada por ela é o retorno feminino. “Várias vezes fui parada nas ruas, na padaria, no ônibus, elevador, entre outros locais, por mulheres perguntando se meu cabelo é natural, ou como faço para deixá-lo assim, ou tecendo um elogio. É muito legal essa interação!”, afirmou.

    Jornalista também opta por cabelos brancos e afirma ser uma ótima experiência

    “Foi assim, um belo dia eu constatei que estava pintando o meu cabelo não porque eu queria, mas por causa de uma pressão social que associa beleza e juventude para as mulheres. Meu cabelo estava caindo, com uma textura péssima, e eu escrava de salão e nada daquilo me fazia feliz. Pelo contrário, gerava angústia, porque quando eu tinha algum compromisso e o cabelo não estava com os brancos devidamente disfarçados, eu me sentia inadequada, incompleta, desleixada, menos profissional, entre outras coisas que a sociedade nos faz acreditar. E lá corria eu para o salão, gastando tempo, que me é tão escasso, para fazer algo para "parecer" uma mocinha dentro dos padrões. Logo eu, que sempre odiei salão”, disse a jornalista Tatiana Maia, de 39 anos, que fez esse desabafo em um post no facebook.

    Ainda segundo ela, quando passou a ter esse pensamento em mente, de que homens e mulheres têm cabelos brancos, logo não deveria haver distinção entre as situações, tudo mudou. “Um belo dia, segura de que a cor do meu cabelo em nada influencia o meu trabalho, segura de que quanto menos química em nossa vida, melhor, eu anunciei em casa que a partir daquele dia eu só pintaria o cabelo se quisesse. Se eu quiser pintar de azul, de rosa, de todas as cores do arco-íris, eu pinto. Se eu quiser algum dia esconder os brancos outra vez, também. Mas se for somente pela obrigação social de parecer jovem, estou fora. Essa não sou eu! Não vou compactuar com a ditadura da juventude feminina. As mulheres merecem o direito de envelhecer em paz, com suas rugas e seus cabelos brancos, se assim desejarem. Há beleza em todas as fases da vida”, desabafou.

    Há cerca de um ano a jornalista não pinta o cabelo e afirma que hoje eles estão muito mais saudáveis. A textura melhorou, a queda diminuiu, cabelos novos estão nascendo e o volume está voltando. “A única coisa chata, ainda, é ter que ficar explicando o óbvio para quem ainda estranha ao me ver com o cabelo natural: que eu não deixei de pintar o cabelo por falta de vaidade, mas exatamente por amar o meu cabelo do jeitinho que ele sempre foi. Forte e saudável”, contou.

    Psicóloga afirma que cobrança deixa mulheres inseguras com relação aos fios brancos

    “Já é difícil as pessoas se aceitarem, e a cobrança sobre a imagem da mulher, de ter que ter sempre aparência mais jovem, ser magra, e se encaixar nos padrões de beleza que a sociedade impõe deixa isso ainda mais difícil. Apesar disso, vivemos hoje um momento de mais liberdade para as pessoas de fato se assumirem e aceitarem quem e como elas são”, ressaltou a piscóloga Jociane Coutinho. 

    Ainda de acordo com a especialista, se libertar do que lhe causa sofrimento, ou incômodo de alguma forma, é essencial. Isso inclui a aceitação dos fios brancos. “Apesar dos benefícios que são colhidos após todo o processo de transição, o processo em si pode ser doloroso para algumas pessoas. Mas, no fim, é libertador! Hoje tenho pacientes que afirmam estar com a autoestima melhor após se aceitarem e assumirem os fios grisalhos. Afinal, isso não significa perda da jovialidade e feminilidade, muito pelo contrário. Até porque fazer as pazes com o espelho só traz benefícios”, afirmou.

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