• Médico de bronca

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  • 11/04/2016 11:55

    Gosto de criança. Divirto-me com o que ela apronta, principalmente no processo de aquisição da linguagem, período que começa a indagar sobre tudo que estranho lhe parece. Quando menos se espera, vem a pergunta: – o que é isto? Ou: – quem é você?

    Quarta-feira passada, presenciei uma cena atípica: fui ao médico para fazer uma consulta. Ao chegar ao consultório, encontrei uma amiga na sala de espera. Começamos a conversar descontraidamente. Na cadeira a frente, havia uma mãe com o filho no colo. Entretendo-o.

    Da sala do médico, saiu uma paciente; logo a seguir, entrou um rapaz que estava indiferente a tudo, fixado no celular. Depois entrou uma senhora que estava ao lado, lendo uma dessas revistas com data vencida que ficam expostas como opção de passatempo. Depois desta, foi a vez da minha amiga.  Não demorou muito tempo.

    Quando ela saiu da sala do médico, despedimo-nos. A criança, que presenciou a cena, começou a chorar e quis sair do colo da mãe. Ninguém entendeu nada. Essa amiga andou em direção aos elevadores do edifício. Ao ver o desespero da criança, fui atrás da amiga. Ainda a encontrei no corredor, falei: “volta lá que a criança não para de chorar.” – Voltamos à sala e o menino parou de chorar. 

    Ela fez uma graça, pegou a mão dele, beijou e se despediu. A criança ficou calada e a mãe entrou para ser atendida. Não me pergunte nada, porque desse assunto não entendo. Não tenho filhos.

    Esse fato me fez lembrar o dia em que, em pé, no corredor, entre a parede e a fila de bancos, assistia a uma missa em Copacabana, quando uma mãe, que estava um pouco a frente com a criança no colo, coloca-a no chão, como se estivesse cansada de segurá-la. O menino, tranquilamente, andou um pouco cutucou a minha perna e levantou os braços para que eu o segurasse. Coloquei-o no colo.  A mãe apenas disse: – Ele adora um colo, mas já está bem pesadinho…

    Mas o que me levou a abordar esse assunto, foi a história que uma grande educadora petropolitana contou em uma reunião que participei sobre o ciclo de alfabetização. Esta tem um excelente trabalho realizado em Petrópolis. Relatou o fato acontecido com uma amiga dela:

    A mãe levou um casal de filho para visitar a avó. Deixou-os lá e saiu com o marido e disse que voltaria logo para pegá-los. O avô ficou na sala com o caçula de uns três anos e a menina, com uns cinco anos, ficou, no quarto, com a avó. Com um jeitinho meigo, a netinha aconselhou:

    – Vó você deve levar a minha mãe no médico de bronca. Ela tá me dando muita bronca. Acho que ela tá com bronquite. O meu irmão é que mexe nas coisas. Ela vem e só dá bronca em mim. Nunca acredita no que eu falo.

    Algumas educadoras, que participavam dessa reunião, entenderam que esse médico de bronca seria um psicólogo. A criança confidenciou à avó um problema que estava passando por se achar injustiçada pelas broncas que levava sem ter culpa. E, por ter consciência de suas atitudes, considerou que o problema estava com a mãe, por não saber discernir a autoria das ações pelas quais dava as broncas.

    E, na quarta-feira, conversando com uma professora alfabetizadora sobre esses casos de criança, ela me contou um interessante: um aluno aproximou uma cadeira da outra e colocou uma terceira deitada sobre as duas e entrou debaixo. E passou a pedir aos colegas que estavam ao lado: “traz aí o alicate que vou trocar a pastilha de freio desse carro”. – A criança imitava o pai que é mecânico de automóvel. 

    – Imagine agora se os filhos desses políticos envolvidos nessas falcatruas resolvem imitá-los? Que futuro teremos?

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