• Vizinhos e amigos relatam a vida de George Santos em Long Island

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  • 29/01/2023 09:00
    Por Luciana Rosa, especial para o Estadão / Estadão

    George Santos é um deputado republicano eleito em novembro em Long Island, distrito de Nova York. Filho de brasileiros, ele ganhou fama após o New York Times revelar que ele mentiu sobre aspectos de sua vida, desde o currículo escolar até sua ficha corrida – ele é acusado de passar cheques sem fundos em Niterói (RJ). Esta semana, o Estadão foi ao local que o elegeu para conversar com amigos e vizinhos sobre o passado de Santos.

    Durante a campanha, ele se reunia com líderes locais e participava de reuniões do conselho escolar. Foi em um desses encontros que ele conheceu Teodora, hoje uma eleitora arrependida de Santos. “Não sou de tirar selfies com políticos. Mas George estava bem ao meu lado e acabei fazendo um vídeo dele. Foi assim que ele ganhou minha confiança”, contou ao Estadão Teodora, que trabalhou como voluntária na campanha.

    Ela diz que foi muito fácil confiar nele, pois Santos dizia todas as coisas que ela queria ouvir. Teodora conta também que ele tinha facilidade para ganhar a simpatia das pessoas, com seu jeito divertido e suas “bochechas adoráveis”.

    Quando as primeiras denúncias de fraude surgiram, ela ficou em dúvida. Ao tentar contato com a assessoria do deputado e confirmar que ele havia mentido sobre o seu currículo, ela deu início a uma nova campanha, dessa vez para destitui-lo. “Comecei a me reunir com o comitê republicano local. Levei quase duas semanas para convencê-los sobre a urgência da renúncia.”

    Judeu

    Quem também se sentiu enganado foi Vishal Balani, de 23 anos, que mora há 20 minutos de Elmhurst, onde Santos vivia. “O que me deixa mais perplexo é de onde vem o dinheiro dele”, disse Balani, que criou uma campanha nas redes sociais para pedir a renúncia do deputado.

    Em Long island, tudo o que se sabe sobre o passado de Santos é que ele vivia em um quarto subalugado em um apartamento no Queens e a mãe trabalhava de faxineira. “Ela era diarista, embora ele dissesse que ela trabalhava com finanças”, lembra Balani.

    Uma das lorotas mais frágeis contadas por Santos é sobre sua ascendência judaica. Ele inventou que os avós maternos escaparam do Holocausto e publicou no Twitter que a mãe, Fátima Devolder, foi uma das vítimas do 11 de Setembro. Mas o registro da morte da mãe pode ser encontrado na internet com outra data. Segundo a funerária responsável pelo enterro, Fátima nasceu em 22 de dezembro de 1962, no Rio de Janeiro, filha de Paul e Rosalina Devolder, e morreu em 23 de dezembro de 2016, no Elmhurst Hospital Hospice, aos 64 anos.

    Em entrevista à Fox News, emissora preferida dos republicanos, Santos admitiu não ser assim “tão judeu”, mas disse que não estava mentindo, pois apenas se referiu a si mesmo como “jew-ish”, ou “meio judeu”, em tradução livre.

    Drag queen

    Apesar de ter sido casado até 2019, dias antes de começar a campanha, em outubro, Santos passou a afirmar que era gay. “Sou abertamente gay, nunca tive problemas com minha identidade sexual na última década e posso garantir que sempre serei um defensor das pessoas LGBTQ+”, afirmou o então candidato.

    No entanto, em um vídeo gravado em abril, Santos manifestou apoio a uma lei da Flórida que vetaria as discussões sobre orientação sexual e identidade de gênero em salas de aula do ensino fundamental no Estado. Mas as questões sobre a sexualidade de Santos não param por aí.

    Recentemente, uma drag queen brasileira, conhecida como Eula Rochard, publicou em seu perfil nas redes sociais uma foto dela ao lado de quem ela afirma ser Santos, que ela teria conhecido como Kitara Ravanche. “Só me lembrei dele porque estava assistindo o jornal na TV e ele apareceu”, conta Eula. Para tirar a dúvida, ela vasculhou fotos antigas e descobriu uma ao lado de Kitara Ravanche, que imediatamente viralizou nas redes sociais.

    Eula diz ter conhecido Santos em 2005, quando a famosa era ela. “Você está falando de um garoto de 17 anos. Esse George Santos aí eu não conheci. Eu conheci a Kitara. Nós nos cruzamos porque a mãe dele jogava bingo ao lado da minha casa. Ele ficava aqui em casa, a gente ia para a praia. Coisas de uma vida normal de gays em 2005”, conta.

    Santos negou e disse que tudo não passava de perseguição da mídia. No entanto, um usuário do portal Wikipédia, usando um dos pseudônimos de Santos, Anthony Devolder, escreveu em 2011 que ele havia ganhado vários concursos de drag.

    Segundo Eula, foi notável a mudança no padrão econômico de Santos, entre 2005, quando os dois se conheceram, e 2008, quando ele voltou ao Rio. “Em 2008, ele veio para cá e estava com muito dinheiro. Participou de um concurso de Miss Rio de Janeiro. O filme em que ele está de vestido vermelho é de 2008. Olha a diferença da pele, da peruca, do vestido”, disse, referindo-se imagens da parada gay de 2005. Segundo Eula, a fama de Santos no Brasil já era de mentiroso. “Ele dizia que o pai era rico, mas vivia aqui com mãe faxineira.”

    Mentiras em série

    Na lista de mentiras, Santos disse ser um investidor imobiliário de sucesso, cuja família possuía vários prédios, mas os registros de sua relação mais intensa com o setor revelam apenas três processos de despejo no Queens, em Nova York, entre 2014 e 2017, em decorrência de calote no aluguel.

    Além de ter seu nome associado a ações de fraude e emissão de cheques sem fundos em Niterói, Santos foi acusado, mais recentemente, de ter recebido US$ 3 mil de uma arrecadação de fundos online destinada a ajudar a salvar a vida de um cachorro doente. O dono do bichano era Richard Osthoff, um veterano militar deficiente. Ele acusa Santos de desviar o dinheiro. Ele nega. “Não tenho ideia do que ele está falando”, disse Santos à CNN.

    O deputado se enrolou também na hora de explicar seu currículo escolar, que inclui uma breve passagem pela Horace Mann, uma escola preparatória particular de elite em Nova York. A instituição diz não ter registro do aluno ilustre.

    Logo, Santos teria estudado na New York University e no Baruch College, onde teria sido parte do time de voleibol. Nenhuma das instituições reconhece que ele tenha passado por suas salas de aula. Ele também incluiu no currículo uma bem-sucedida passagem por Wall Street, onde teria trabalhado para Citigroup e Goldman Sachs – o que os dois bancos negam.

    Em dezembro, como deputado já eleito, ele admitiu ter exagerado um pouco ao montar seu currículo. “Não sou um criminoso”, disse Santos em entrevista ao jornal New York Post. “Isto não me impedirá de ter sucesso legislativo. Eu serei eficaz. Eu serei bom. Meus pecados aqui foram embelezar meu currículo. Eu sinto muito.”

    Futuro

    Diante de tantos pequenos pecados, o futuro de Santos parece incerto. Agora, os americanos se perguntam como a candidatura passou pelo crivo dos advogados do comitê do partido sustentada por mentiras com as pernas tão curtas. Aos 34 anos, o filho de brasileiros, nascido nos EUA, parece mais o protagonista de produções hollywoodianas, como O talentoso Mr. Ripley ou Prenda-me se for capaz.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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